Chegaram as tempestades

Devemos estar mais uma ou duas semanas em Martinica, se tudo correr como planeado. Depois deixaremos de ter o bom pão francês ao pequeno-almoço.

A bordo está tudo normal e a preparação para irmos para Sul continua a bom ritmo. Uma bomba de fossa que nos faltava foi encontrada finalmente e será instalada em breve, ficando o veleiro equipado com duas bombas manuais. Esperamos nunca ter de as utilizar, embora em caso de inundação seja a única forma de retirar a água de dentro do barco, visto que as eléctricas de nada nos servirão. As baterias serão o primeiro equipamento a deixar de funcionar no caso de entrar água suficiente capaz de cobrir o chão da nossa “casa”. As bombas manuais estão instaladas do seguinte modo: uma no interior do veleiro por debaixo da escada de entrada, podendo ser manuseada sem ter que se descer ao barco; a outra no poço do barco para que se possa bombear sem necessidade de entrar no interior da embarcação. Funcionam na perfeição, sendo capazes de bombear cerca de 50 litros de água por minuto, o que será suficiente para fazer face a qualquer imprevisto. Mas – repito – esperamos nunca ter de as utilizar.

Entretanto, esta semana, teremos a companhia de um amigo que virá de St. Lucia para Martinica, com quem devemos passar algum tempo. É a mesma pessoa que nos guardou o veleiro quando fomos a Nova Iorque no ano passado. Tínhamos estado com ele aquando da nossa passagem rápida por Rodney Bay na semana passada, mas o tempo foi curto e não deu sequer para conversarmos. O encontro serviu apenas para lhe dar algumas roupas da Maria que já não lhe servem e que ele pode usar para a sua bebé, pois é mais nova do que a nossa menina. Nada se deita fora porque há sempre quem necessite.

Esperamos que haja tempo para metermos mãos à obra e repararmos o gerador de bordo. O nosso amigo é engenheiro mecânico reformado e anteriormente ofereceu ajuda para o pôr a funcionar. Não que seja um bem essencial. Aliás, até já ponderámos vendê-lo dado nunca o termos utilizado. No entanto, já que o temos queremos que funcione na plenitude, em vez de apenas ocupar espaço. Poderá servir, mais não seja, para carregar as baterias, poupando o nosso (cansado) motor. Ou, para satisfação da tripulação, poderá ser usado para o ar condicionado – este também nunca foi utilizado a bordo durante anos, estando a ocupar um armário.

Esta semana, pela primeira vez, a Maria visitou um jardim zoológico. Aproveitámos o facto de termos alugado um carro para levar os nossos amigos para o aeroporto (ficou mais barato do que ir de táxi) e fomos ao Norte de Martinica para visitar o Zoo de Martinique. Um jardim zoológico curioso e muito bem organizado, instalado numa antiga feitoria de cana de açúcar. Uma experiência que todos nós adorámos. A Maria, claro está, como todas as crianças, ficou maravilhada.

Entretanto, estamos em Junho. Época oficial de tempestades tropicais nesta zona do globo. Segundo temos lido, este ano é esperada uma temporada em cheio. É ano de “El Niño”!

No ano passado acabámos por passar toda a temporada das tempestades nas Ilhas Virgens Americanas, tendo experimentado uma mão cheia delas, mas nenhuma de grande intensidade. Este ano, uma vez que não vamos atravessar para as ilhas holandesas de Aruba, Bonaire e Curacao, vamos rumar mais a Sul para ficarmos fora da zona conhecida como “hurricane belt”. Abaixo das Grenadines a incidência de tempestades tropicais é bastante baixa e a zona é considerada segura pelas agências de seguros. Nestes últimos dias e semanas temos presenciado a uma verdadeira peregrinação de veleiros em direcção a Sul para ali passarem os próximos seis meses até Novembro, final oficial da época de tempestades nas Caraíbas.

A partir de agora, sempre que for verificar a meteorologia na Internet, tenho também de passar os olhos pelos relatórios que abrangem estas tempestades e acompanhar de perto todos os indícios que se geram no Oceano Atlântico. Regra geral temos cinco dias entre a formação de uma tempestade e o seu impacto, pelo que teremos tempo mais do que suficiente para rumar a Sul e alcançar águas mais seguras.

Serão seis meses de calmaria este ano, assim o esperamos!

João Santos Gomes

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