Chamada para a Grandiosidade (28)

Ele põe-te à vontade

No seu leito de morte, o Rei Carlos II de Inglaterra pediu desculpa às pessoas que o acompanhavam nos últimos momentos de vida. «Cavalheiros, vós deveis perdoar-me por este muito desconsiderável momento da morte». O padre George W. Rutler relembra as palavras do Rei Carlos II, no seu pequeno ensaio “Cristo, o Cavalheiro”.

Estas palavras vêm-me à mente, ao ler o que o monsenhor Fernando Ocáriz (Vigário Auxiliar do Opus Dei) disse na sua homilia no funeral do Prelado do Opus Dei, bispo D. Javier Echevarría, no dia 15 de Dezembro de 2016: «No dia anterior à sua morte ele (o bispo Echevarría) disse-me que estava preocupado com os incómodos que estava a causar às pessoas que tratavam dele».

O padre Rutler também citou o Rei Carlos II, que define como um cavalheiro, «aquele que põe à vontade os que o rodeiam».

As suas palavras levam-me a pensar de novo no bispo Echevarría. Estivesse ele numa reunião ou numa refeição, fazia – sempre – com que as outras se sentissem à vontade. Não era dos que se impunha aos outros com a sua autoridade e saber.

Uma pessoa que nos põe à vontade é alguém que não dá muita importância a si próprio, alguém que não precisa de se mostrar como sendo superior aos outros. Sabe que as suas capacidades não são para serem ostensivamente apregoadas, mas sim para servir a Deus e aos seus semelhantes.

Nosso Senhor Jesus Cristo, «manso e humilde de coração (Mateus 11:29)», punha os seus discípulos à vontade. Durante a “Última Ceia” Ele sabia que que a morte estava próxima «e por isso começou a ficar triste e incomodado», e disse aos Apóstolos: «a minha alma está muito triste, mortalmente entristecida (Mateus 26:37-38)». Mesmo assim, não ficou a falar da sua tristeza, nem pediu aos seus Apóstolos que lhe prometessem ser fiéis. Antes pelo contrário, encorajou-os, dizendo: «Não deixemos os nossos corações afligirem-se (João 14:1)».

Jesus pôs os seus discípulos à vontade. Foi por isso que não hesitaram em fazer-Lhe perguntas como: «Quem é o maior de entre nós? (cf Mateus 23:11)», «Só se salvarão alguns poucos? (Lucas 13:23)», «Explique-nos esta parábola (Mateus 15:15)». Os Apóstolos não receavam que Jesus os julgasse, ou que os rejeitasse, ou que os desconsiderasse, ou que os deixasse.

Na Sua presença não temos que pretender ser qualquer coisa. Com a Sua gentil mansidão, Ele diz-nos: «Apenas sejam vós próprios!».

Nosso Senhor Jesus Cristo «manso e humilde de coração», veio, como uma criança, como um simples carpinteiro. Disfarçou-Se de criminoso, e agora disfarça-Se de Pão.

Apenas para que vós, e eu, nos mostremos como somos na realidade, ante Ele. Com as nossas virtudes e vícios, com as nossas boas acções e os nossos pecados. Dessa forma, Ele poderá facilmente limpar-nos e perdoar-nos, especialmente no Sacramento da Confissão.

Os Santos aprendem com Jesus a serem mansos e humildes de coração, e em como pôr os outros à vontade.

Stanislaw Grygiel, um filósofo polaco e amigo de São João Paulo II, descrevia o que uma vez, o ainda na altura arcebispo Wojtyla, fez numa visita a uma pequena paróquia. Chegou um pouco mais cedo do que o previsto e começou a deambular por ali, tendo espreitado para dentro de uma sala de aula. O pároco estava a ensinar o Catecismo a algumas crianças.

«– Sabem por que vim aqui?», perguntou às crianças.

«– Sim, sabemos», respondeu um rapazinho de sete anos de idade. «– Veio aqui para aprender algo».

«– Sim, tens razão», exclamou o arcebispo.

E com isto sentou-se ao lado do menino e ali ficou até ao fim da aula.

Aquele que se esforça por ser humilde aprende em como pôr à vontade os que o rodeiam. Aprende a ser humilde como Jesus, o Cavalheiro: Deus Perfeito e Perfeito Homem.

Pe. José Mario Mandía

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