Chamada para a grandiosidade (13)

Dando a Deus o que é de Deus

Em 1980 São João Paulo II expressou o seu desejo de voltar a trazer a procissão do “Corpo de Cristo” para as ruas de Roma. A procissão tinha sido banida em 1870, depois da perda dos Estados Papais. Em 1982 o Papa João Paulo II avançou com a sua decisão, carregando pessoalmente o ostensório, desde a Basílica de São João de Latrão, até à de Santa Maria Maior.

Nos últimos anos da sua vida, quando a doença enfraqueceu o Papa, o Santíssimo Sacramento foi colocado num pedestal instalado num veículo especial, que também tinha um banco e um genuflector para o Papa. Apesar da sua fraqueza, o Santo Padre insistiu sempre em ajoelhar-se, mesmo quando já muito fraco, dizendo: «O meu Senhor está ali».

Na semana passada falámos sobre justiça, sobre o dar aos outros aquilo a que eles têm direito. Bem, o mais importante “Outro” é Deus. Dando-Lhe o que lhe é devido é chamada a virtude da religião. Praticar essa virtude é praticar justiça na sua forma mais elevada.

Por vezes nós somos muito rápidos em reclamar os nossos direitos, mas podemos ser negligentes no cumprimento dos nossos deveres. Este facto é especialmente verídico no nosso relacionamento com Deus. Nós exigimos que Ele nos ouça, que Ele nos dê atenção, que Ele responda rapidamente, que Ele nos conceda o que solicitamos ou que nos explique porque razão Ele não nos concedeu o que pedimos, e muitos de nós nem podemos dispensar um hora para a Missa Dominical, apesar das 168 horas que Ele nos concede a cada semana! E ainda dizemos que Deus é injusto!?

E o que a virtude da religião nos pede? A todos os cristãos pede adoração, oração, sacrifício e ofertas. Aos religiosos e aos casados, o cumprimento dos votos.

Deixem-nos falar um pouco sobre a adoração.

O diabo não quer que nós adoremos a Deus. Ele prefere que nos adoremos a nós próprios: «Vós sereis como Deus (Génese 3:5)», disse ele aos nossos pais primordiais. Ele disse isso, não porque pense que o ser humano mereça ser adorado. Nada disso! Ele sabe que no momento em que deixarmos de adorar a Deus nos separamos da fonte de tudo o é verdadeiro, bom, bonito e adorável nas nossas vidas. O Homem é a imagem de Deus. No momento que Deus deixar de estar presente, a sua imagem também desaparece. O Homem perde a sua dignidade e pode ser facilmente ser usado e manipulado.

Por outro lado, uma pessoa que O adore torna-se numa força para o bem no Mundo. O Papa Francisco comentou uma vez, «pensem em Madre Teresa: O que o mundo diz de Madre Teresa? “Ah, a Bem Aventurada Madre Teresa, uma bela mulher, ela fez muitas coisas boas pelos outros…”. O mundo nunca disse que a Bem Aventurada Madre Teresa passou, diariamente, muitas horas em adoração… Nunca! Essa omissão reduz a Actividade Cristã a apenas um simples cuidar do bem social» (Homilia, 28 de Maio de 2013).

Durante as preparações para o Conclave que elegeria o Papa Francisco, o futuro Papa (cardeal D. Jorge Mario Bergoglio) dirigiu-se aos outros cardeais, dizendo: «Pensem no próximo Papa: Ele deve ser um homem que, para além da contemplação e adoração de Jesus, ajude a Igreja a ir até às periferias existenciais, que a ajudem a ser a mãe frutífera, que ganhe vida da “doce e confortante alegria da evangelização”».

Sendo ajudar os mais pobres dos pobres, ou sendo o Pontífice Romano (o Papa), tudo deve começar com a adoração.

A adoração requer a participação da pessoa total, tanto da alma como do corpo. Interiormente, nós próprios precisamos de nos tornarmos humildes perante Aquele que nos criou, Aquele que nos redime e que nos santifica. Exteriormente, temos que dobrar os nossos joelhos perante Aquele que é o nosso Começo, o nosso Fim, a nossa Vida, o nosso Tudo!

Nós adoramos, especialmente durante a Missa, a mais elevada forma de adoração. Mas podemos, e devemos, adorar em qualquer lugar a qualquer momento. De facto São Josemaría ensinou-nos que tudo o que nós fazemos pode ser transformado em adoração, e que também pode ser transformado em oração, em sacrifício e oferta. Cada uma das nossas acções pode ser um conjunto quatro em um! Como?

«Enquanto se come ou bebe, ou durante seja o que o que for que fizermos, façamos tudo para glória de Deus (Coríntios 10:31)». Um polícia a dirigir o trânsito, um professor a dar um aula, uma mãe a amamentar o seu bebé, um agricultor a arar o seu terreno, um piloto de avião comercial ao levantar voo, um aluno a preparar-se para um exame, etc. Todos podemos transformar tudo em adoração, oração, sacrifício, oferta. O trabalho torna-se numa boa ocasião para dar a Deus o que pertence a Deus.

Pe. José Mario Mandía

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