Cebu, Filipinas, 24-31 Janeiro de 2016

O Congresso Eucarístico Internacional

Estamos em 2016, um ano que se pretende, como proferiu o Papa Francisco, de Paz e Misericórdia, mas de compromisso individual e colectivo, familiar também, para combater a indiferença e melhorar a realidade em que vivemos. Nas Filipinas, na ilha de Cebu, primeiro palco da cristianização da maior nação católica da Ásia, a Igreja dá o mote no sentido de renovar e orientar a sua missão no mundo, na expressão do culto da Eucaristia, na comunhão com Jesus Cristo e entre nós todos. Deste modo, entre 24 e 31 de Janeiro próximos, a arquidiocese de Cebu organiza o quinquagésimo primeiro (51º) Congresso Eucarístico Internacional (CEI).

Definição, objectivo e organização

O CEI é uma assembleia da Igreja Católica convocada pelo Papa. Reúne-se durante alguns dias numa cidade determinada pela Santa Sé, congregando bispos, sacerdotes, religiosos e religiosas, fiéis leigos e especialistas, sob a presidência do próprio Sumo Pontífice ou de um seu delegado nomeado ad hoc, com o objectivo de promover o culto da Eucaristia e orientar a missão da Igreja, em vista da evangelização por via da adoração da Sagrada Eucaristia. Ou seja, a adoração da Pessoa de Jesus Cristo na Eucaristia, real e substancialmente presente na hóstia consagrada durante a celebração da missa.

Recordemos que a presença real de Jesus na Eucaristia é um dos principais dogmas da fé católica, que a Igreja considera como um precioso tesouro que lhe foi legado e que deve manter vivo. Manter a atenção dos fiéis nesse legado e dar a conhecer os meios pelos quais a devoção eucarística possa ser promovida e cultivadas no coração dos homens é pois um escopo dos CEI. De referir que também existem congressos eucarísticos nacionais e regionais.

O Comité Pontifício para os Congressos Eucarísticos Internacionais é um organismo da Cúria Romana criado em 1879 pelo Papa Leão XIII. O seu actual presidente é o arcebispo D. Piero Marini. A principal missão deste Comité consiste em “fazer conhecer, amar e servir cada vez mais a Nosso Senhor Jesus Cristo no Seu Mistério Eucarístico, centro da vida e missão da Igreja para a salvação do mundo” (Estatutos). Neste sentido, o Comité está incumbido da preparação e celebração periódica dos CEI, como este agora em Cebu. A apoiar esta organização dos CEI estão as Conferências Episcopais nacionais e os Patriarcados Sinodais, que nomeiam Delegados Nacionais para a sua preparação e a constituição de Comités Eucarísticos Nacionais.

 

História do CEI

O primeiro CEI foi celebrado na cidade francesa de Lille, em 1881. Os CEI nasceram do esforço de uma leiga, a senhora Emilie Tamisier (1834-1910) e da memória e culto do Milagre Eucarístico de Faverney (1608). Foi apoiada pelos seus confessores (Antoine Chevrier e Mgr. de Ségur), apoiada por Philibert Vrau (importante industrial de Lille), inspirada em (São) Pedro Julião Eymard (1811-1868), fundador da “Obra da Adoração Perpétua e da Congregação do Santíssimo Sacramento”. São Pedro Julião é universalmente conhecido como o Apóstolo da Eucaristia. Mme. Tamisier e São Pedro Julião, com a ajuda de outros leigos, sacerdotes e bispos, além da bênção do Papa Leão XIII, assumiriam assim os esforços de organizar o primeiro CEI, em Lille, subordinados ao tema “A Eucaristia salva o mundo”. A aposta era a renovação da fé em Cristo, presente na Eucaristia, como remédio contra a ignorância e a indiferença religiosa. Estávamos em plena época de laicização, de debates entre Fé e Razão, de erosão da espiritualidade. O primeiro CEI em Lille teve apenas um impacto regional, mas os seguintes iriam internacionalizar o congresso e ter adesões de multidões e o interesse do mundo católico (a partir de Pio XI, com a também rotatividade continental, com ênfase na reevangelização e na missionação). Os primeiros Congressos foram inspirados pela viva fé na presença real da pessoa de Jesus Cristo no sacramento da Eucaristia. O culto eucarístico manifestava-se de modo particular pela adoração solene e pelas grandiosas procissões que evidenciavam o triunfo da Eucaristia.

No princípio o CEI era organizado anualmente, mas tal deixou de ser possível, não havendo, todavia, um calendário que fixe ou determine qualquer periodicidade. Em média têm-se realizado de 3 ou 4 em 3 ou 4 anos. Mas sempre numa cidade diferente, embora alguns CEI tenham voltado a algumas cidades onde se realizaram anteriormente. Foram já realizados 50 CEI, tendo o último sido em Dublin, Irlanda, em 2012, sob a denominação de “Solenidade do Corpo e Sangue do Senhor”, centrando-se no tema “A Eucaristia: Comunhão com Cristo e entre nós”. O Concílio Vaticano II, com a Constituição Sacrosanctum Concilium (1963), a Instrução Eucharisticum Mysterium (1967) e particularmente o Ritual Romano De sacra comunione e de cultu mysterii eucaristici extra Missam (1973), redefiniu o formato dos CEI e os critérios para a sua preparação e celebração. A partir de então, os CEI orientam-se para os problemas do mundo actual, o ecumenismo e para o diálogo inter-religioso.

 

Depois de Manila, a ilha de Cebu

Depois de Manila (1937, o 30º), as Filipinas acolhem mais um CEI. Apresentado em Outubro de 2015 no Vaticano, o CEI de Cebu centrar-se-á no tema “Cristo em vós, a esperança da glória”. D. José Palma, arcebispo de Cebu, referiu que «nos últimos anos a Ásia tornou-se um dos grandes motores do crescimento global económico e social», justificando desta forma a importância de se ter escolhido a Ásia e em concreto as Filipinas para a realização deste congresso. Mas continua a ser um continente em evangelização, referiu o prelado, «onde a Igreja Católica é uma pequena minoria, apesar de ser o continente onde Jesus nasceu, viveu, morreu e ressuscitou».

O 51.º CEI poderá tornar-se «um espelho da Igreja asiática», no sentido de se vir a poder reflectir no modo de evangelização actual do continente. Monsenhor Marini reforça esta ideia de D. José Palma, recordando que a mensagem do Evangelho e «da fé em Jesus», professada pelas comunidades cristãs, serem «importantes e necessários para a Ásia». Perspectivas de diálogo com «as culturas, tradições religiosas e populações pobres», reflexões pastorais nesse âmbito, na procura da paz, da reconciliação e de um melhor futuro para a Ásia, são os eixos reitores deste CEI, a partir do fundamento de que a Eucaristia é a fonte e o zénite da missão da Igreja. A Eucaristia «não é apenas uma fonte de vida para a Igreja», como refere o padre Victor Boccardi. «Vinte cardeais, cinquenta bispos de outros nacionalidades e, pelo menos, cem bispos filipinos vão reunir-se para a Assembleia Plenária da sua conferência episcopal, também em Janeiro de 2016, além de mais de oito mil peregrinos de 57 países, cinco mil voluntários e 600 famílias que se disponibilizaram a receber os peregrinos», acrescentou D. José Palma.

Vítor Teixeira 

Universidade Católica Portuguesa

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