A escravidão do imediato
«É necessário ajudar os jovens a superarem a escravidão do imediato. Para isso, eles têm de compreender que a liberdade que possuímos não consiste tanto em fazer aquilo que nos apetece, mas sim em fazer o bem porque o queremos de verdade. Ser livre não é a mesma coisa que ser caprichoso. A liberdade não nos foi dada somente para escolher iogurtes num hipermercado».
Que palavras tão sábias! Numa época em que temos tanta sensibilidade para este conceito (liberdade), também temos de tomar cuidado para não ficarmos somente numa visão empobrecida e reduzida do que ela significa.
Na educação dos filhos, é muito conveniente ensinar-lhes a serem ponderados no exercício da sua liberdade. É preciso que aprendam a decidir perguntando-se antes: isto que me apetece é conveniente para mim? É uma necessidade real, ou é um simples capricho? É justo gastar este dinheiro quando tantas pessoas por aí estão a passar dificuldades?
Na tarefa educativa, os pais têm de ajudar os filhos a quererem de verdade aquilo que é o melhor para eles, e a não se deixarem levar pelo que é mais atraente à primeira vista. Isto é o que significa superar a escravidão do imediato.
No entanto, existe uma característica da vida hodierna que não facilita nada essa superação: a falta de ponderação. É com a ponderação que uma pessoa pode suscitar em si mesma essa força de vontade que a faz atrasar uma satisfação imediata, por ter em vista um bem maior pelo qual vale a pena esforçar-se.
Os jovens têm de perceber que a liberdade é uma certa abertura ao infinito. Nós, cristãos, sabemos que ela é um dom gratuito de Deus, que Ele nos deu precisamente para chegarmos até Ele e não nos contentarmos somente com os iogurtes do hipermercado.
A liberdade é uma capacidade radical. A juventude sempre gostou desta palavra porque é radical por definição. Mas se os jovens não entenderem bem esta capacidade, podem acabar por chegar à brilhante conclusão de que ela deve servir para fazer desportos radicais. Desportos que têm imensa “piada” precisamente porque vão unidos à “emoção” de arriscar a própria vida.
A liberdade é uma capacidade radical de sermos protagonistas da nossa própria vida. De sermos os nossos próprios pais. De sermos aquilo que de verdade queremos ser.
Como tantas vezes nos repetiu João Paulo II, a liberdade não é só, nem sobretudo, uma escolha de algo concreto, mas, dentro dessa escolha, uma decisão sobre nós mesmos. A pessoa constrói-se ou destrói-se através dos seus próprios actos. Isso é o que significa ser livre.
Por isso, a escravidão do imediato é um problema de falta de liberdade. Ou talvez seja, antes disso, uma consequência lógica de acharmos que temos essa capacidade só por causa dos iogurtes.
Pe. Rodrigo Lynce de Faria
Doutor em Teologia