Resistência e perseverança na Lorena
A zona de Lorraine (Lorena) é, muito provavelmente, uma das nossas preferidas em França, pelo que muitos dos nossos passeios por terras gaulesas se concentram por aqui. É, por natureza, uma terra mártir e sofrida, com gentes acolhedoras e afáveis.
Há dias passámos o dia em Verdun, na província do Grande Leste, nas margens do Rio Mosa, e aproveitámos para ficar a saber um pouco mais sobre esta cidade medieval, muitas das vezes esquecida pelos visitantes.
Entre muitos aspectos interessantes, inerentes a qualquer cidade antiga, Verdun foi palco de uma das mais importantes batalhas da Primeira Guerra Mundial, a Batalha de Verdun. Esta durou 302 dias – foi a mais longa do conflito – sendo uma das mais mostíferas da História da Humanidade. Em 2000, os historiadores Hannes Heer e Klaus Naumann calcularam que os franceses sofreram mais de 377 mil baixas e os alemães 337 mil, um total de superior a 714 mil mortes, uma média de setenta mil soldados tombados por mês.
Verdum é uma cidade cheia de história e em todas as suas ruas se podem encontrar detalhes interessantes para todos os gostos.
No nosso passeio pelas ruas apertadas da zona mais antiga da urbe acabámos por nos “perder” na Catedral de Notre Dame de Verdun, um edifício enorme e imponente, como grande parte das catedrais francesas. Na primeira tentativa encontrámos a porta fechada, sem que para tal houvesse qualquer explicação. Resignados, continuámos rumo ao Mosa, que dali fica a dois passos, do outro lado da Rua do Ru e da Rua Victor Hugo. Depois de almoçarmos num dos muitos restaurantes da Quai de Londres, com vista para o rio, decidimos novamente passar pela Catedral. Já com o estômago aconchegado – estamos na época das “moulle” – demos com a porta da Catedral aberta!
Assim, após termos passado a manhã (chegámos ainda antes das 8:00 horas) a calcorrear as ruas e ruelas da cidade antiga, deixámo-nos embrenhar no interior da Catedral.
Verdun é sede episcopal desde o Século IV, sendo que a data da sua fundação é ainda hoje alvo de discussão entre os historiadores.
O edifício original data de 457 e foi mandado construir pelo Santo Pulchronius (mais tarde viria a ser nomeado bispo) nas ruínas de um antigo edifício romano. Durante os séculos seguintes o templo foi destruído por diversas vezes, até que Heimon, bispo, ordenou a construção de uma nova catedral, no ano de 990, em estilo romano-renês – formada por uma nave central, dois transeptos e duas absides opostas com dois campanários. A estrutura que ainda hoje se pode apreciar foi mantida, tendo algumas valências sido adicionados ao longo dos anos.
No Século XII adicionaram ainda o Coro Leste, dois portais de São João e Leão, e as criptas. Com estas estruturas já construídas, o Papa Eugénio III consagrou o conjunto em 1147. Quanto ao claustro, apesar de também neste ponto haver alguma discórdia entre os historiadores, tudo indica que foi igualmente construído neste período.
Já no Século XIV foi levada a cabo uma grande empreitada de remodelação, a qual transformou a Catedral em estilo renascentista; e em 1760 foi novamente reconstruída, desta vez em estilo neoclássico. Devido ao efeito destruidor da Primeira Guerra Mundial, a Catedral foi restaurada entre 1920 e 1936. Em Julho de 1946 recebeu a vista de monsenhor Roncalli, futuro Papa João XXIII.
João Santos Gomes