Em Portugal, no início de cada ano escolar, invariavelmente, as coisas não correm bem.
Este ano o ministro da Educação, com base nos “erros” do passado e da sua própria experiência anterior, decidiu “resolver” todos estes problemas do seu ministério.
Duvidando das capacidades dos professores, da sua formação superior e dos muitos anos de serviço e, em nome da “melhoria da qualidade do ensino”, obrigou-os a fazer um “exame de admissão”. Quem não o fizesse era excluído do serviço público, ponto final!
Como muitos se recusaram a fazer a prova, à qual não se sentiam obrigados por força da lei, acabaram por sair pela “porta pequena”.
Para colmatar a eventual insuficiência de professores e em nome da “melhoria da qualidade do ensino”, aumentou o número de alunos por turma, ponto final!
Como considerou que havia escolas com poucos alunos, nomeadamente no interior do País, cada vez mais deserto de gente em idade de procriar, decidiu fechá-las e mandar os alunos para outras, a dezenas de quilómetros de distância, sem considerar o sacrifício imposto às crianças, que saem de madrugada para as aulas e voltam à noite para casa. “De pequenino é que se torce o pepino”, ponto final!
Mas as aulas começaram, ou não!? Não para muitos!
Escolas sem capacidade para absorver tantos alunos; instalações abarracadas; falta de professores e outros funcionários nas escolas; pais insatisfeitos; alunos sem aulas e sem o ensino especial que alguns necessitam; professores a aguardar que lhes digam onde serão colocados no dia seguinte (por vezes a centenas de quilómetros de distância) e uns a sentirem-se discriminados, face a outros; os autarcas em “pé de guerra” e uma enorme trapalhada com o sistema informático que gere as colocações. Conclusão: o ministro Crato deu mais uma “cavadela” na cova deste Governo.
Como parece que cada ministro quer ficar no “quadro de honra” deste devaneio governamental a ministra da Justiça que, com o seu “novo mapa judiciário”, fechou tribunais a torto e a direito em muitas das vilas e cidades do interior, muitos dos quais eram o último baluarte da presença administrativa do Estado nesses locais (sim, porque correios e centros de saúde, “já foram”!), arranjou um tal “berbicacho” com o (este Governo está cheio de vírus) sistema informático do seu ministério que, em Portugal, (como se já não bastasse a morosidade dos processos) a justiça está impedida de funcionar. O curioso é que ela tinha sido avisada de que tal iria acontecer mas, como se tinha comprometido em fazer “nascer o seu bebé” a 1 de Setembro e como quem promete deve cumprir, acabou por “parir um nado morto”, ponto final! Conclusão: a ministra Teixeira da Cruz não quis deixar de dar também a sua “cavadela”.
Mas a maior “cavadela” da passada semana foi (e ainda a “procissão vai no adro”) a demissão de Vítor Bento e toda a sua equipa de administradores do “Novo Banco”, a parte “boa” do BES…
Dois meses depois de serem empossados como a melhor escolha para o cargo, gente com elevado sentido de Estado e Vítor Bento reconhecido como o mais capaz de enfrentar o futuro do “Novo Banco”, elogiado publicamente pelo Primeiro-Ministro, ministra das Finanças, Governador do Banco de Portugal e etc., o homem e os colegas decidiram demitir-se!?
Porquê? Vítor Bento disse, não há muito tempo, que o Banco de Portugal lhe tinha solicitado um plano de desenvolvimento sustentável para o banco, ajudando a atrair investidores e formando uma estrutura accionista estável. O actual accionista do Novo Banco, o Estado, mudou de opinião ou já tem um comprador?
Será que a parte “boa” do BES não está assim tão bem e é preciso vender à pressa, antes que se saiba? Será que, por isso, a administração demissionária não se queria envolver numa fraude?
Será que estão em risco os milhões que o Estado (ou seja, os cidadãos) emprestou a esse banco? Ou será que os outros milhões que foram emprestados pelo Fundo de Resolução, ou seja, os impostos pagos pelos bancos, sendo dinheiro do Estado (ou seja, dos cidadãos), estão a “escorregar para mais um buraco”?
Respostas nos próximos capítulos. Até lá o demissionário Vítor Bento elogia os novos administradores, nomeados pela ministra das Finanças e pelo Banco de Portugal, considerando que está «mais alinhada com o accionista» (o Estado) e que ele não queria fazer parte de uma comissão liquidatária. Conclusão: não há, mas parece-me que vai dar origem a uma grande “cavadela”.
Luis Barreira