Rumo a Grenada

Se tudo se desenrolar como planeado, o que em vela é sempre pouco provável, quando este artigo for publicado estaremos a um dia de distância da ilha de Grenada, quase junto à costa do continente americano. Neste destino esperamos ter oportunidade de reencontrar alguns amigos que fomos fazendo ao longo deste quase meio ano de vida no mar e preparar a nossa casa/veleiro para a última travessia no mar das Caraíbas, rumo ao Panamá.

Ainda não está decidido se iremos preparar o Dee para a travessia do Oceano Pacífico, no próximo ano, em Grenada ou no Panamá. Isso será também decidido e abordado durante a nossa estada na ilha das especiarias, ou seja, na ilha de Grenada. O processo de preparação da embarcação para a travessia do Pacífico é complicado e merece meticulosa atenção porque serão entre 20 a 30 dias de mar sem ver terra. Nada pode correr mal e tudo tem de estar a funcionar dentro da normalidade. Se algo estiver errado antes da travessia, esta não terá início até que tudo esteja assegurado.

Nestes últimos dias em St. Thomas temos tido a companhia de um casal alemão/americano que era suposto fazer a viagem até Grenada connosco, mas à última da hora mudaram os planos pois foram convidados para a festa de aniversário de um amigo. Já nós não podemos desperdiçar esta janela meteorológica favorável, que irá durar cerca de uma semana. Também nestes últimos dias travámos conhecimento com outro casal que está a velejar nas Caraíbas – uma família de dois adultos e uma criança oriundos da Cidade do Cabo, na África do Sul. Já os tínhamos visto nesta baía antes da última tempestade e tínhamos planeado ir falar com eles, mas quando demos por ela tinham ido embora. Agora que regressaram não deixámos passar a oportunidade e fomos conversar para ficar a conhecer mais uma família que vive a bordo.

Há dois anos fizeram a travessia da África do Sul rumo ao Brasil (Fortaleza), com uma paragem na ilha de Santa Helena, e agora vivem a bordo mas baseados na ilha de Tortola, nas Ilhas Virgens Britânicas, e por ali planeiam ficar dois ou três anos antes de seguir viagem para outros destinos. Curioso foi saber que o homem desta família arranhava Português; viveu alguns anos em Albufeira, onde trabalhou numa empresa de compra e venda de iates antes de ter decidido enveredar por este estilo de vida com a família.

Relativamente aos trabalhos de preparação da travessia para Grenada, de salientar que nada de especial foi feito. Tudo na embarcação parece estar a funcionar dentro da normalidade. Os filtros e o óleo do motor foram mudados há cerca de duas semanas. Como o motor só tem sido usado uma hora por dia não será necessário proceder a nova mudança. Os filtros de combustível também fora mudados na mesma ocasião e não necessitam ser substituídos. O tanque de gasóleo foi atestado e os bidões de reserva (120 litros) também foram cheios para a eventualidade de ser necessário usar o motor mais do que o normal. Desta feita estamos a planear usar ao máximo o vento, visto ser finalmente favorável e termos todas as velas operacionais.

Faz amanhã, sábado, 20 de Setembro, cinco meses que vivemos sem morada e de acordo com as vontades da natureza (a 20 de Abril de 2014 deixámos a Baía de Luperón, na República Dominicana). Foram cinco meses que nos trouxeram muita alegria, preocupações e ficámos a conhecer os nossos limites. Como família crescemos e aprendemos que temos de nos apoiar mutuamente para que os obstáculos sejam ultrapassados. Cinco meses com a alegria de ver a nossa filha 24 horas por dia, de a ver crescer, a dar os primeiros passos, a correr pela primeira vez e a dizer as primeiras palavras sabendo o que está a dizer. Só por isto vale a pena, mesmo que grande parte dos nossos conhecidos não aceitem e não compreendam a nossa decisão. Nós, agora, sabemos sem sombra de dúvidas que estamos certos.

Até a nossa casa sobre a água parece finalmente ajudar e começou a dar tréguas em termos de coisas para serem reparadas ou substituídas.

Esperamos que esta travessia corra sem grandes problemas e que na próxima semana vos possa trazer aqui o relato da experiência.

João Santos Gomes

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