ATAQUE À COMUNIDADE LUSO-DESCENDENTE DE MYANMAR

ATAQUE À COMUNIDADE LUSO-DESCENDENTE DE MYANMAR

Junta Militar não poupa Bayingyis

Os membros da comunidade luso-descendente do Norte de Myanmar, conhecidos como “bayingyis”, vivem um momento muito difícil no quadro da guerra civil instalada naquele país. Soldados da Junta Militar (SAC) pilharam casas e torturaram vários habitantes da aldeia de Chan-tha-ywar. Três deles foram mortos e os restantes puseram-se em fuga.

Recorde-se que esta minoria profundamente católica resulta da miscigenação de aventureiros e comerciantes portugueses com as mulheres locais, entre finais do Século XVI e inícios do Século XVII.

O CLARIM deixa o testemunho de um padre local, também ele bayingyi:

«Estou muito triste com as atrocidades e assassinatos cometidos por militares desumanos em todo o País, especialmente em Loikaw, Lay Kay Kaw e Chan-tha-ywar, a minha aldeia, no município de Ye-U.

No dia 10 de Janeiro, cerca de 120 soldados da Junta Militar entraram na nossa aldeia católica bayingyi, um local histórico da Igreja de Myanmar, fundada no Século XVII. Assim que a notícia da proximidade dos militares chegou à aldeia, todos os aldeões fugiram para as matas e campos circundantes. No entanto, algumas pessoas muito idosas e doentes, com dificuldades de locomoção, decidiram permanecer na aldeia, apesar do risco de vida. Entre os que permaneceram na aldeia estavam duas das minhas tias e um tio também.

Por volta das 10:00 horas de segunda-feira [10 de Janeiro], os militares chegaram à aldeia e ocuparam todos os seus recantos. Como a aldeia estava vazia, à excepção de alguns velhos e doentes, os soldados, profundamente alcoolizados, começaram a pilhar a torto e direito: entraram nas casas e levaram o que quiseram: ouro e dinheiro; abateram vacas, porcos e galinhas; e prenderam algumas pessoas deficientes e idosas; entretiveram-se a assediá-los, aproveitando-se da sua incapacidade mental, e a alguns deles espancaram até à morte. Na manhã seguinte, os soldados deixaram a aldeia e ao regressar a casa os aldeões depararam com três cadáveres com óbvios sinais de torturas e sinais visíveis de tortura nalguns dos doentes mentais.

Entretanto, a minha tia de 81 anos e dois outros parentes ainda não tinham sido localizados e consta que os soldados lhes roubaram o dinheiro e os telemóveis. Alguns jovens da aldeia partiram de imediato à sua procura e, graças a Deus, acabaram por os encontrar, sãos e salvos. Mas a verdade é que maioria dos aldeões não regressou, e são muitos os que estão em parte incerta. Muitos dos deslocados estão agora alojados no Santuário Mariano perto de Mandalay e estão a precisar de alimentos e utensílios domésticos».

Joaquim Magalhães de Castro

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *