Filosofia, uma dentada de cada vez (20)

Como é que os dilemas acontecem?

Já chega de silogismos categóricos. Deixem-nos ter uma breve discussão sobre outro tipo de silogismo: o silogismo hipotético.

O que é um silogismo hipotético? É um silogismo no qual a premissa maior é uma proposição hipotética.

Existem três tipos de silogismos hipotéticos: (1) o silogismo condicional; (2) o silogismo disjuntivo; (3) o silogismo conjuntivo. E também eles possuem três regras, mas não as discutiremos nesta série.

(1) O silogismo condicional contém, no mínimo, uma proposição condicional nas suas premissas. Prestem atenção à palavra “se”.

Exemplo 1:

Se um organismo contém DNA humano, ele é um ser humano.

Um zigoto humano contém DNA humano.

Logo, o zigoto é um ser humano.

Exemplo 2:

Se as plantas estão vivas, o jardineiro tem que as regar.

Se as folhas das plantas estiverem verdes, as plantas estão vivas.

Logo, se as folhas das plantas estiverem verdes, o jardineiro tem que as regar.

(2) A premissa maior do silogismo disjuntivo é uma proposição disjuntiva. Tenham em atenção à palavra “ou”.

Exemplo 1:

A alma não é material ou mortal.

Ela não é material.

Logo, não é mortal.

Exemplo 2:

Ele ou não se está a sentir bem, ou não quer vir.

Ele quer vir.

Logo, ele não se está a sentir bem.

(3) No silogismo conjuntivo, a premissa maior afirma que duas ou mais coisas são impossíveis ao mesmo tempo.

Exemplo:

Não pode ser noite, crepúsculo e dia ao mesmo tempo, no mesmo lugar.

Mas é de dia.

Logo, não é noite ou crepúsculo/nem noite nem crepúsculo.

Da combinação do silogismo condicional e do silogismo disjuntivo aparece um outro tipo chamado dilema. No dilema, a premissa maior é uma proposição disjuntiva e a premissa menor é uma proposição condicional.

Exemplo 1:

Há muitos séculos, uma mãe, em Atenas, tentava convencer o seu filho a dedicar-se à política.

«– Na política, se falares verdade, os homens odiar-te-ão; e se tu mentires, serão os deuses a odiar-te. Mas tens que falar de uma ou de outra forma. Sendo assim, deves dedicar-te à política».

O filho respondeu:

«– Se eu falar verdade, os deuses amar-me-ão; e se eu mentir, o povo amar-me-á. Sendo assim, eu posso/devo dedicar-me à política».

Exemplo 2:

Houve uma acção judicial que ficou famosa, entre Protagoras e Euathlus. Protagoras era um professor, na Grécia no século V antes de Cristo. Euathlus queria ser advogado, mas não tinha dinheiro (para pagar os estudos). Então, combinou com Protagoras, que este o ensinaria, mas só pagaria a Protagoras depois de vencer o seu primeiro caso (em tribunal). Quando acabou os estudos, Euathlus não começou logo a trabalhar. Protagoras moveu uma acção judicial contra Euathlus. Esta foi a sua argumentação:

«– Se Euathlus perder este caso, tem que me pagar (de acordo com julgamento do tribunal); e se vencer o caso, terá que me pagar (de acordo com os termos do contrato). Ele tem que me pagar, perca ou ganhe este caso».

Mas Euathlus replicou com outro dilema:

«– Se eu vencer este caso, não terei que pagar (por decisão do tribunal); se eu perder este caso, não tenho que pagar (conforme os termos do acordo, porque ainda não ganhei o meu primeiro caso. Tenho que vencer ou perder este caso. Posto isto, não terei que pagar a Protagoras».

Se fossem o juiz, qual seria a vossa decisão?

Pe. José Mario Mandía

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