“As cinquenta sombras de grey”

Ainda que todos nos digam que é bom

Considerando que estou sempre a falar de amor, recebi um e-mail que me inquietou e que me levou a desatar a escrever porque não posso calar tanta indignação. Ainda não conhecia este livro e este filme que andam por aí na ribalta – As Cinquenta Sombras de Grey. De facto, não posso dizer que falam de amor, vendem-se como tal… ou, se calhar, nem se vendem como tal porque as pessoas já não querem ouvir falar de amor, preferem algo temporário e fugaz.

Neste filme, nem se trata de paixão… não percebo porque se falou dele para o Dia dos Namorados. As patologias sexuais não são amor, não são sensuais. As patologias sexuais são motivo de preocupação e de tratamento.

Isto preocupa-me porque só evidencia as profundas contradições a que a sociedade nos subjuga. Como dizia um querido amigo meu, por um lado, seduzem-nos, exploram a nossa intimidade, vendendo-nos este filme que, oportunamente, veio por altura do 14 de Fevereiro, por outro lado, ao mesmo tempo, fazem campanhas contra a violência no namoro. Há qualquer coisa aqui que não joga bem.

Então, mas afinal, o filme diz-nos que a violência, o abuso emocional, a pressão psicológica, a pornografia são algo atraente, desejável e bom? É algo que queiramos para as nossas filhas, para os nossos filhos? Consentimos que este tipo de livros e filmes entrem na cabeça dos nossos filhos porque os outros também leram, vão ver? Porque está na moda? E depois, o que vamos dizer quando eles experimentarem tudo o que viram no filme ou leram no livro? Será que vale a pena pagar para ver?

Claro que o mundo do dinheiro, o mundo do cinema, o mundo da música, os meios de comunicação não querem que se fale de amor de verdade. Podem até financiar pontualmente umas campanhas contra a violência no namoro, mas não são pensadas para ter o impacto que estas películas, a moda, a música têm. Ninguém quer ouvir falar de amor de verdade, de relações estáveis, de entrega. Ele já mal existe. Pelo contrário, fala-se de divórcios, namoros ocasionais, depravações sexuais mostradas como algo bonito, sedutor, fala-se de sexualidade como objecto de consumo rápido. Aqui e ali, agora e depois, com este e com aquele.

Tudo isto parece forte. Decerto que alguns concordarão comigo mas também dirão a seguir que se calhar não é bem assim, estes filmes não fazem assim tão mal, os meus filhos já sabem distinguir o bem do mal, isto é só para eles se divertirem. Desculpe, não estou nada de acordo consigo. E a prova é clara e inequívoca. Sou casada, mãe de filhos e com princípios e valores bem enraizados. Vi o “trailer” do filme para poder escrever este texto. Fez-me mal. Imagine-se…

Rita Gonçalves

Professora

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