ANSELMO FABIANO, UM JOVEM MISSIONÁRIO ENTRE CRISTÃOS COPTAS

ANSELMO FABIANO, UM JOVEM MISSIONÁRIO ENTRE CRISTÃOS COPTAS

«Senti-me acolhido como um irmão na fé»

Numa altura em que a Igreja Copta celebra a Festa do profeta Jonas – importante comemoração marcada por três dias de oração e jejum que prepara os fiéis para o Tempo da Quaresma –, a agência noticiosa VATICAN NEWS foi ouvir Anselmo Fabiano, um jovem missionário da Sociedade das Missões Africanas (SMA), que em Setembro de 2024 se juntou aos residentes da casa-mãe desta Congregação, situada em Shoubra, um dos oito distritos do Cairo, a capital do Egipto. Ou seja, Anselmo teve a alegria e a graça de celebrar o Natal duas vezes. A 25 de Dezembro comemorou o nascimento de Jesus com os demais católicos da paróquia de Shoubra, e depois, a 7 de Janeiro, festejou o Natal com os seus irmãos católicos de rito copta, residentes na aldeia de Kom Ghareeb, onde Anselmo se encontra depois de ter passado pela capital egípcia, rumo ao Sul, mais precisamente, ao Alto Egipto.

Anselmo Fabiano foi fraternalmente recebido pelo pároco copta Abuna Iusif. Uma mudança e tanto: da grande e frenética cidade do Cairo, passou a viver numa pequena povoação de agricultores e criadores de gado. Dos serviços religiosos na grande catedral de Shoubra, – às vezes com uma dúzia de fiéis apenas – passou para as orações numa pequena igreja que na véspera de Natal se encontrava lotada de cristãos, fora e dentro de portas.

«Desde o primeiro dia», conta Anselmo, «fui alvo da mais extraordinária hospitalidade». Começando pelos braços abertos do pároco local; depois, os das crianças e jovens que agora não só o cumprimentam de forma entusiástica cada vez que o vêem, como o procuram e o acompanham para lhe mostrar como é o seu dia-à-dia. E, não esqueçamos as inúmeras famílias que lhe abrem as portas das suas casas para calorosamente o receber. Ali, no Alto Egipto, cercado por campos verdes onde crescem cebolas, pepinos, tomates e também trigo, a vida difere em tudo do meio urbano. De manhã, galos e burros fazem as vezes de despertador; ao longo do dia acompanham-no o som dos cascos dos cavalos e bois. A realidade social, porém, choca-o. Depara-se Anselmo com frequência, na poeirenta estrada, com crianças descalças, “vestidas” com roupa esfarrapada. Nos campos, é duro e exaustivo o trabalho dos seus parentes. As casas onde vivem, essas, são tristes e rudimentares. Em contraste, extraordinária a riqueza humana daquela gente de generosa hospitalidade, «às vezes desarmante», e inabalável fé.

«Guardo no meu coração a minha primeira missa copta no dia de Natal», lembra o missionário transalpino. Recorda, em particular, o cheiro do pão, do vinho e do incenso. E todos aqueles gestos e ritos, «tão diferentes dos nossos, mas cheios de significado». E como esquecer os pequenos acólitos em redor do altar, movendo-se habilmente consoante o decorrer dos vários ritos, cantando, recitando e rezando com alegria e entusiasmo? Apesar da barreira do idioma, Anselmo sentiu-se imediatamente em casa, «acolhido como um irmão na fé». Conseguiu aprender a “Oração do Senhor” graças à ajuda de um pequeno grupo de crianças. A propósito, revela: «Os pequenos são os meus professores e catequistas. Eles abrem-me a porta para a sua maneira de celebrar e viver a fé».

No mundo rural egípcio, onde Anselmo permanecerá durante os próximos cinco meses, os dias passam rápidos, num «Inverno quente e ensolarado, onde a neve e a chuva são apenas lembrança distante». Inúmeras são já as experiências vivenciadas no seio de uma jovem comunidade, «entusiasmada na fé» e bastante dinâmica. «As pessoas daqui são curiosas e fazem muitas perguntas. Sinto-me como uma delas e tento, à minha maneira, ser uma verdadeira testemunha do Evangelho», refere o jovem missionário. E há tantas experiências para contar: casamentos, primeiras comunhões, visitas domiciliares, funerais, momentos passados com os jovens e as crianças.

Anselmo gosta de evocar três pequenos episódios. O primeiro está relacionado com a Eucaristia. Em Kom Ghareeb celebra-se Missa com pão fermentado, preparado nas tardes de sábado por um grupo de crianças e jovens, com a ajuda de um adulto. «É um privilégio poder viver esta experiência com eles: uma verdadeira escola de fé e de vida, onde o serviço se torna oração. Aquele cheiro do pão que, no altar, se torna o corpo de Jesus, comove-me sempre», admite.

O segundo episódio relaciona-se com as crianças da Paróquia, oriundas das famílias pobres que habitam nos arredores da igreja, em situações bastante precárias. Para muitas delas, a Paróquia e o Padre tornaram-se no seu segundo lar. É lá que, depois da escola, passam o resto do dia. O padre Abuna Iusif convida-as a compartilhar as refeições que toma, sendo hoje a sua mesa um ponto de encontro para jovens e idosos. Mesmo nos casamentos ou nas festas, é comum ver crianças descalças ou com chinelos sujos, de pé, ao lado dos noivos ou entre os convidados elegantemente vestidos. «Enche-me de alegria saber que a Igreja é um refúgio para os mais necessitados», diz Anselmo Fabiano.

Finalmente, o terceiro episódio, ao qual «posso chamar de “fogo da hospitalidade”». Todos os dias os missionários visitam as famílias da aldeia, uma experiência enriquecedora que lhes permite conhecer as alegrias, tristezas e dificuldades dos crentes, mas sobretudo confirmar a sua fé autêntica e profunda. Muitas vezes, as visitas prolongam-se noite dentro, à volta da fogueira, «com um copo de chá ou café quente, para melhor enfrentarmos o vento frio do deserto». E não importa o cheiro do fumo ou o cansaço que se sente. «A alegria de estarmos juntos e de podermos rezar, acende e alimenta o fogo da fé», conclui o missionário.

Joaquim Magalhães de Castro

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