Angola

Igreja Católica fala em má gestão e corrupção

O vice-presidente da Conferência Episcopal de Angola afirmou que o crescimento do País está a ser travado pela má gestão, a corrupção e a falta de ética, e realça a importância de apostar em sectores como a educação e a saúde.

Em entrevista à Agência ECCLESIA, D. José Imbamba abordou a crise económica na nação lusófona, salientando que ela tem raízes bem mais profundas do que a actual «baixa do preço do petróleo».

«Quando o petróleo estava em alta, tivemos superavits que deveriam responder nesta hora crítica que o País está a viver, mas houve mau uso do erário público», lamentou o responsável católico, apelando a uma reflexão séria sobre «problemas que, se não forem atacados, tirarão ao País todas as perspectivas de desenvolvimento».

«A falta de ética, a corrupção, o compadrio, o nepotismo (…) Angola é um país potencialmente rico, tem muita coisa para os angolanos viverem bem, mas a distribuição da renda nacional ainda não satisfaz as necessidades de todos, as assimetrias sociais ainda são visíveis», frisa D. José Imbamba.

Por outro lado, «as feridas que a guerra deixou ainda estão vivas» na consciência dos angolanos.

«Todos queremos que Angola se refaça, que Angola renasça, se reconstrua, mas a verdadeira reconstrução e renascimento deve partir dos cidadãos», sublinha o arcebispo de Saurimo.

Num Estado recente, onde os próprios políticos e governantes ainda estão «em fase de aprendizagem», há todo um «salto de qualidade» a dar, segundo a Igreja Católica local.

No entanto, esse processo «está a ser lento porque os índices de analfabetismo são muito altos» e «a consciência cívica dos cidadãos também ainda deixa muito a desejar», explica D. José Imbamba.

«Há todo um processo de educação a fazer, de diálogo a manter vivo, para que verdadeiramente os níveis de consciência, de dignidade, a partir do próprio cidadãos, sejam visíveis e todos possamos colaborar positiva e responsavelmente na reconstrução do País», acrescenta.

O sector da Saúde é um exemplo que ilustra bem a letargia que marca a sociedade angolana, de acordo com o prelado.

Um sector onde «houve um grande investimento por parte do Governo na construção de hospitais e postos médicos, mas a mesma velocidade não se viu na formação dos recursos humanos».

Isto faz com que existam «equipamentos de última geração, mas que não estão a funcionar porque não há quem os possa manusear».

Outro problema é o desvio de recursos que poderiam ser usados no tratamento das populações para determinados projectos privados, que têm como único objectivo o lucro.

Angola está ainda a viver os efeitos de um grave surto de febre amarela, centrado sobretudo na capital Luanda, e que já vitimou centenas de pessoas.

Nos últimos dias, a polícia angolana tem travado uma luta contra a venda ilegal de vacinas contra a doença.

«Infelizmente muitos estão a criar hoje o negócio das farmácias, das clínicas privadas, muitas vezes sustentado com bens que deveriam chegar às populações desfavorecidas», critica o vice-presidente da Conferência Episcopal de Angola.

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