O Bom Pastor fornece serviço personalizado
Willy Herteller era um sem abrigo de 80 anos que vivia da caridade pública na Praça de S. Pedro, em Roma. Segundo o Rome Reports, Willy faleceu num hospital perto do Vaticano a 12 de Dezembro de 2014. Acontece que era amigo de um dos prelados, o arcebispo D. Americo Ciani, que solicitou ao Papa Francisco que o seu amigo pudesse ser sepultado no Cemitério Teutónico, no interior do Vaticano. Este cemitério antigo com séculos de existência, e onde apenas príncipes e cavaleiros estão ali sepultados. O Papa concordou, e assim Willy foi o primeiro sem abrigo a ser enterrado no cemitério do Vaticano. Foi o próprio D. Ciani que presidiu ao seu funeral no passado dia 9 de Janeiro.
Bonito, não!? Esta é a Igreja que Jesus quer, uma Igreja que presta atenção a cada indivíduo. Muitas vezes pensamos que um serviço feito à medida e personalizado é uma invenção dos modernos “gurus” administrativos. Não é assim.
Jesus ensinou-nos: «Que homem, de entre vós, possuindo cem ovelhas, e se uma se extraviar, não deixará as suas noventa e nove na montanha, e irá à procura da que se perdeu, até que a encontre? E, quando a encontra, transporta-a em ombros, alegremente».
«E quando regressa a casa chama os amigos e vizinhos, dizendo-lhes: “Alegrem-se comigo, porque encontrei a minha ovelha que estava perdida”. Apenas isso… digo-vos que há mais alegria no Céu quando um pecador se arrepende, do que com noventa e nove justos que não necessitam de se arrepender (Lucas 15:4-7)».
Nesta Mensagem para a Quaresma de 2015 o Papa Francisco escreveu que «Deus nunca se desinteressa de nós. Cada um de nós tem um lugar no Seu coração. Ele conhece-nos pelo nosso nome, cuida de nós e procura-nos sempre que nos afastamos Dele. Ele interessa-se por cada um de nós; o Seu amor por nós não lhe permite ser indiferente ao que nos acontece».
«Esse amor é tão grandioso que Ele tem tempo para cuidar das pequenas coisas da nossa vida: “Cada fio de cabelo da nossa cabeça está numerado (Mateus 10:30; Lucas 12:7)”», disse o Papa Bento XVI aos seminaristas em 2010.
Cada um de nós é único, cada um com os seus traços, forças e fraquezas próprios. Não somos produzidos em massa. Cada um de nós foi pensado e amado. E mesmo se sendo todos chamados à Santidade ainda assim Deus tem um projecto específico para cada um de nós. Cada Santo mantém a sua própria personalidade. É por isso que os Sacramentos nos são administrados individualmente. Este serviço, feito à medida e personalizado, é mais claramente perceptível no Sacramento do Arrependimento (Confissão). A Confissão individual mostra-nos como Deus cuida individualmente de nós, como Ele respeita a nossa singularidade. É essa singularidade que é ignorada quando absolvições comunais ou em massa são concedidas, quando ao fiel não lhe é concedida a possibilidade de dizer o que lhe vai na alma, num encontro pessoal com a Graça Santificadora deste Sacramento. Porque Jesus determinou que cada ovelha perdida deva ser procurada, cada simples fiel tem o direito de ser encontrado e de lhe ser concedido tempo e atenção personalizada.
Além disso, esta atenção personalizada implica o direito dos fiéis a receberem orientação espiritual.
Se lermos as histórias das vidas dos Grandes Santos verificaremos que muitos deles cresceram em Santidade através da orientação de outras pessoas. S. Paulo, o grande apóstolo dos Gentios, teve que seguir as instruções de um discípulo desconhecido, de nome Ananias (cf. Actos 9:10). Foi Ananias que, seguindo as instruções de Deus, fez com que S. Paulo recuperasse a sua visão. A orientação espiritual ajuda-nos a descobrir o caminho que Deus definiu para cada um de nós.
E quais são as características de um bom conselheiro espiritual? Podemos citar três:
Em primeiro lugar, ele deverá ensinar o que a Igreja ensina. Se forem a uma loja de artigos electrónicos e o empregado lhes vender um computador em seu nome, o que pensarão dele? Além disso, vós esperareis que ele conheça bem o produto e seja capaz de explicar como funciona. Se ele não for capaz disso e comece a falar-vos das dúvidas e dificuldades da fiabilidade do produto não o considereis desonesto e oportunista?
Em segundo lugar, ele deverá ser um homem, ou mulher, de oração, que tenta estar sempre em contacto com o Bom Pastor. Ele não estará a divulgar-se a si próprio ou às suas ideias, mas deverá divulgar apenas as palavras de Cristo. Sinto-me sempre surpreendido pela forma como as palavras da Santa Madre Teresa de Calcutá me impressionam sempre que as leio. Não porque ela fosse super eloquente. Mas porque no fundo podemos sentir uma vida espiritual profunda, um conhecimento que apenas poderia vir de uma grande intimidade com Jesus.
E em terceiro lugar, ele deverá ser uma pessoa que divulgue a Palavra Divina, mais com as suas acções do que com as suas palavras. Ele deverá dar mostras, com a sua própria forma de viver, de que aquilo que ele diz realmente funciona. Uma vez, um jovem que procurava a Fé Verdadeira, disse-me que foram as vidas dos Santos que o convenceram que a Igreja Católica era a Igreja da Verdade. Porquê? Porque se os ensinamentos da Igreja Católica fossem apenas palavras bonitas, ninguém poderia realmente tornar-se Santo. Os Santos, Homens e Mulheres, provam-nos a eficácia do Evangelho de Jesus. Um guia espiritual mostra a eficácia da Graça por intermédio do testemunho da sua própria vida.
Um último ponto. Jesus Cristo é o Bom Pastor, e através do Baptismo ele chama cada um de nós a sermos também bons pastores dos outros, a sermos guia espirituais. O beato D. Álvaro del Portillo disse uma vez que a fé implica não apenas sermos boas ovelhas, mas também sermos bons pastores. Todos nós somos pastores uns dos outros. Na sua Mensagem para a Quaresma de 2015 o Papa Francisco pede-nos que nos lembremos da pergunta que Deus fez a Caim: «Onde está o teu irmão? (Génese 4:9)». Nós não podemos responder como Caim respondeu: «Serei eu o guardião do meu irmão? (Génese 4:9)». Nós somos os guardiões uns dos outros.
Deixem-me concluir com as palavras de despedida do Papa Francisco nessa sua Mensagem para a Quaresma. «Deixem-nos pedir ao Senhor: “Fac cor nostrum secundum cor tuum” [Fazei Senhor os nossos corações à imagem do Teu] (Litania do Sagrado Coração de Jesus). Desta forma nós receberemos um coração que será firme e tolerante, atento e generoso, um coração que não está fechado sobre si próprio, indiferente ou vítima da globalização da indiferença!».
Pe. José Mario Mandía