Uma “bolha” na maioria islâmica
Há mais de 3,5 milhões de cristãos no Golfo, dos quais cerca de 75 por cento são católicos, a maioria deles trabalhadores migrantes das Filipinas e da Índia. Estes católicos, residentes na Península Arábica, são coordenados pelas Conferência dos Bispos Latinos das Regiões Árabes que reúne os episcopados de rito latino pertencentes aos países árabes do Médio Oriente e da África Oriental. Esta Conferência foi criada em 1967 pela Congregação para a Evangelização dos Povos, e os seus estatutos foram confirmados em 1989. Fazem parte: o Patriarcado Latino de Jerusalém que abrange Israel, Chipre, Jordânia e Palestina; a arquidiocese de Bagdade para o Iraque; a diocese de Djibuti para o Djibuti; a diocese de Mogadíscio para a Somália; o Vicariato Apostólico de Beirute para o Líbano; o Vicariato Apostólico de Alexandria do Egipto para o Egipto; o Vicariato Apostólico de Aleppo para a Síria; o Vicariato Apostólico da Arábia Meridional para os Emirados Árabes Unidos, lémen, e Omã; e o Vicariato Apostólico da Arábia Setentrional para a Arábia Saudita, Bahrain, Catar e Kuwait. Neste artigo/apontamento referimo-nos apenas aos católicos dos dois Vicariatos Apostólicos da Arábia.
VICARIATO APOSTÓLICO DA ARÁBIA SETENTRIONAL
Abrange os seguintes países: Bahrain, Kuwait, Catar e Arábia Saudita. Antigamente fazia parte do Vicariato Apostólico da Arábia; em 1953 o Vicariato foi criado com o nome de Vicariato Apostólico do Kuwait. Em 2011, alguns territórios adicionais do Vicariato Apostólico da Arábia foram transferidos para esta competência e ambos os Vicariatos foram renomeados.
O Vicariato tem a sua sede na Catedral da Sagrada Família, na Cidade do Kuwait, embora a residência do bispo seja em Awali, no Bahrain, na região central do Vicariato – já que a Arábia Saudita só faz parte nominalmente da circunscrição, pois lá é proibida a prática pública de outras religiões que não o Islão. O bispo é o comboniano Camillo Ballin, um italiano de 74 anos, responsável por 54 padres, onze paróquias e 2,4 milhões de católicos.
CENÁRIO DIFÍCIL
A relação com a Arábia Saudita é complicada, embora se tenham dado passos significativos. Em 2007, Bento XVI recebeu em audiência, no Vaticano, o Rei Abdullah, morto em 2015 – nunca antes havia sido realizado um encontro entre um rei saudita e um Papa. Recentemente, o cardeal francês D. Jean-Louis Tauran, então presidente do Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-Religioso, cumpriu uma visita histórica de oito dias ao País. Segundo o Vicariato Apostólico da Arábia Setentrional, há cerca de 1,5 milhões de católicos no País, todos eles migrantes, principalmente da Índia e das Filipinas. “A comunidade católica respeita a sensibilidade da região e sempre manteve discrição. As relações com as autoridades locais são geralmente boas”, diz o “site” do Vicariato. De acordo com os Vicariatos Apostólicos, há mais de um milhão de católicos apenas na Arábia Saudita (todos migrantes). Cerca de 350 mil no Kuwait, oitenta mil no Bahrain e entre duzentos e trezentos mil no Catar, embora não haja números oficiais. A Arábia Saudita proíbe qualquer templo de oração que não seja muçulmana. Porém, segundo o Vicariato Apostólico da Arábia do Norte, os católicos “desfrutam da liberdade de culto no recinto paroquial”. Não há igrejas ou capelas. Há salas, por vezes de multiusos. No entanto, ele aponta algumas dificuldades por causa de uma “restrição sobre o número de padres, pelo pequeno número de igrejas e espaço limitado” destes templos, especialmente no Natal e na Páscoa, onde pode haver até 25 mil participantes. “Também é proibido (sob pena de punição) realizar qualquer actividade pública ou demonstrar sua religião, inclusive a evangelização dos naturais”, disse o Vicariato.
VICARIATO APOSTÓLICO DA ARÁBIA MERIDIONAL
Abrange os Emirados Árabes Unidos (sete Emirados: Abu Dabi, Ajman, Al Fujayrah, Sharjah, Dubai, Ra’s al Khaymah, Umm al Qaywayn), o Iémen e Omã. O grande problema é a situação do Iémen, devido à guerra. “Embora a evangelização cristã na Península Arábica tenha começado justamente no Iémen, há cerca de 180 anos, e a primeira sede do Vicariato tenha sido Aden, hoje, depois de três anos de guerra, a Igreja, como organização é quase inexistente”, conta o bispo.
“Há ainda alguns fiéis em algumas partes do País, com os quais, no entanto, não tenho contacto. Sabemos que em Saná aqueles que conseguem mover-se pela cidade reúnem-se de vez em quando, com poucas pessoas, para rezar com as irmãs de Madre Teresa. Mas não há mais padres nem os lugares onde se celebrava missa”, continua.
O último padre, o salesiano indiano Thomas Uzhunnalil, foi raptado em 2016 e libertado depois de um ano e meio de cativeiro.
Nos Emirados a situação é mais tolerante. Em 2016 o príncipe de Abu Dhabi e o xeque Mohamed bin Zayed visitaram o Papa Francisco em 2016, acabando o Papa por retribuir essa viagem quando visitou Abu Dhabi em fevereiro de 2019. O Vicariato Apostólico da Arábia Meridional tem à sua frente o bispo Paul Hinder, um capuchinho suíço de 76 anos – os capuchinhos são os responsáveis pelo cuidado pastoral da região desde 1916. A sede do Vicariato é a Catedral de São José, em Abu Dhabi. O Vicariato é responsável por vinte paróquias, nas quais trabalham 45 padres que atendem cerca de um milhão de católicos. Nos Emirados Árabes Unidos os cristãos formam uma “bolha” dentro da sociedade. “Somos quase todos migrantes”, explica. No entanto, o País é o único do Oriente Médio em que o número de cristãos tem aumentado. Um décimo dos habitantes dos Emirados Árabes Unidos é católico. Também isso se deve ao grande número de migrantes, que formam oitenta por cento da população do País. A catedral do Vicariato tem missas em Inglês, Árabe, Filipino, Francês, Coreano, Polaco e outras dez línguas. “Aqui experimentamos verdadeiramente a catolicidade da Igreja: os nossos fiéis vêm do mundo todo, ainda que prevalentemente da Ásia, e trazem consigo uma riqueza excepcional de culturas, tradições e ritos”, exclama o bispo. Conversões, por sua vez, sendo muito mal vistas no Islão, não acontecem.
IGREJAS NA REGIÃO
Existem 22 igrejas católicas na região: oito nos Emirados Árabes Unidos, quatro em Omã, Kuwait e Iémen, uma no Bahrain e uma no Catar. A missa que é celebrada nas igrejas na sexta-feira, que marca o primeiro dia do fim-de-semana na região, costuma ser a mais frequentada. Nos Emirados Árabes Unidos, a missa é celebrada em vários dias da semana e em diferentes línguas (Inglês, Tagalo, Malayalam, Hindi…) para atender todos os fiéis.
RELAÇÕES DIPLOMÁTICAS COM O VATICANO
O Kuwait foi o primeiro país da região a formalizar as suas relações com o Vaticano em 1968. O Iémen fez o mesmo em 1998, Bahrein em 2000, Catar em 2002 e os Emirados Árabes Unidos em 2007. A Arábia Saudita e Omã ainda não estabeleceram relações diplomáticas formais com o Vaticano. A Arábia Saudita, sede de locais sagrados como Meca e Medina, recebeu já representantes de diversas tradições cristãs, num gesto do príncipe Saiman Bin Mohamed para mostrar sinais de abertura do seu reino ultraconservador. Em Abril de 2018, a Arábia Saudita recebeu o cardeal D. Jean-Louis Tauran, que presidiu ao Conselho Pontifício para o Diálogo Inter-religioso do Vaticano.
CIDADÃOS CRISTÃOS
Embora a maioria dos cristãos na região seja de trabalhadores migrantes, há uma pequena percentagem de cristãos locais no Kuwait, no Bahrain e no Iémen. Segundo o padre Benjamin Jacob Gharib, chefe da Igreja Evangélica Nacional do Kuwait, há cerca de 260 cristãos kuwaitianos de oito famílias extensas. Segundo estimativas não oficiais, haveria mil cristãos do Bahrein e milhares de cristãos iemenitas.
ANDRÉ LAGOS
com várias fontes
In Boa Nova – atualidade missionária