É preciso ter estômago (coragem)
A primeira dama dos Estados Unidos da América, Hillary Rodham Clinton, perguntou à sua convidada durante um almoço na Casa Branca: «– Porque pensa que ainda não tivemos uma mulher Presidente?».
A pequena senhora que se encontrava sentada à mesa com a Senhora Clinton não hesitou em dar uma resposta: «– Provavelmente porque ela foi abortada», disse Madre Teresa de Calcutá…. Não foi a única vez que Hillary se encontrou com a Madre Teresa.
Em 1994 a Madre Teresa foi convidada a discursar perante o “National Prayer Breakfast”. O Pequeno Almoço Nacional de Oração é um acontecimento anual que tem lugar em Washington, na primeira quinta-feira de Fevereiro de cada ano, desde 1953.
A Wikipedia diz que foi instituído como um “fórum” para que as elites políticas, sociais e de negócios se reunissem e estabelecessem contactos. Por isso, era compreensível que os oradores fossem muito cuidadosos nos seus discursos, para não ofenderem ninguém, e tendessem a usar um discurso o mais politicamente correcto. Mas Madre Teresa foi diferente. No seu discurso, várias vezes interrompido por aplausos de pé, falou de forma clara e inequívoca.
«Eu sinto que o maior factor de destruição da paz, nos dias de hoje, é o aborto. Porque é uma guerra contra as crianças, um massacre directo às crianças inocentes, assassinadas pelas suas próprias mães».
«Se aceitam que uma mãe possa matar o seu filho, como é que podem dizer às outras pessoas para não se matarem entre si?», questionou, acrescentando: «Por favor, não matem as crianças. Eu quero essa criança. Por favor, dêem-me essa criança. Estou pronta a receber qualquer criança que esteja para ser abortada, e a entregá-la a um casal (normalmente constituído) que ame essa criança e seja por ela amado».
O Presidente e a Senhora Clinton estavam lá. Não se levantaram. Nem sequer aplaudiram. Mas Madre Teresa continuou a falar «gentil e reverentemente (I Pedro 3:15)».
Como cristão necessitamos de ter estômago (coragem). Em linguagem teológica, chamamos-lhe Fortaleza (Grego: ἀνδρεία, “andreia”; Latim: “fortitudo”). «No mundo tereis tribulações, mas tende confiança. Eu já venci o mundo! (João 16:33)».
Se a Temperança nos ajuda a ser os mestres daquilo que gostamos, a Fortaleza ajuda-nos a enfrentar as coisas das quais não gostamos.
A coragem envolve duas coisas: a capacidade de suportar uma dificuldade e a capacidade de reagir para ultrapassar essa dificuldade. A primeira é passiva, a segunda é activa.
Assim como as outras virtudes, esta é controlada pela Prudência e o raciocínio correcto iluminado pela Fé. Por exemplo, colocar os dedos em cima de uma chama, para ver quanto tempo se pode suportar a dor, não é Fortaleza. Mas suportar a tortura por causa da Fé é Fortaleza.
As virtudes relacionadas com a Coragem incluem a Magnanimidade, Generosidade, Paciência, Constância e Perseverança. E aqui ainda se pode incluir a Mansidão – que modera a nossa fúria – (que como já vimos antes) também está relacionada com a Temperança.
Como é que um cristão normal pratica a Fortaleza? Nós praticamos um aspecto passivo da Fortaleza quando tentamos suportar com alegria os pequenos aborrecimentos da vida quotidiana. “Muitos dos que voluntariamente se deixam pregar numa Cruz, ante o olhar espantado de milhares de espectadores, não são capazes de suportar com espírito cristão as “alfinetadas” de cada dia. Então pensem, qual dos actos é mais heróico?” (São Josemaría, “O Caminho”, nº 204).
Exercemos o lado activo da Fortaleza quando damos o nosso melhor em cada pequeno trabalho e nas responsabilidades, de forma a dar maior glória a Deus e servirmos os outros.
A virtude humana da Fortaleza ainda é mais fortalecida pela Graça. É por isso que devemos rezar para termos Fortaleza, e meditar frequentemente sobre a Paixão de Jesus, que nos mostrou que o amor nos fortalece.
Alguém que ama é alguém que tem estômago (coragem).
Pe. José Mario Mandía