Três sinais do verdadeiro guia cristão
No Evangelho deste Domingo (Lc., 6, 39-45), Jesus apresenta aos seus discípulos três ensinamentos de como serem verdadeiros evangelizadores. Estes conselhos também podem ser encarados como três passos essenciais para sermos guias e educadores seguindo o modelo do Evangelho.
Primeiro, Jesus ensina que um cego não pode guiar outro cego – Aqui podemos ver a necessidade do conhecimento da verdade. Só a verdade nos liberta (cf. Jo., 8, 32). Num mundo onde muitos pensam que a verdade do Evangelho deve moldar-se de acordo com o pensamento do que a maioria acredita, Nosso Senhor ensina-nos que Ele nos trouxe a plenitude da Revelação, a qual não pode ser manipulada segundo os desejos e interesses subjectivos de cada um.
Não poucas vezes fui questionado, talvez por aguardarem o meu apoio, se a Igreja iria aprovar o aborto, o casamento de pessoas do mesmo sexo, o casamento de pessoas em segunda união matrimonial, o casamento dos padres, etc. Normalmente, estas pessoas afirmam que a Igreja precisa de se actualizar, pois tal atrairia mais fiéis.
Vale aqui recordar que a Igreja não existe para si própria; existe para defender e propagar o depósito da fé revelado por Jesus, e não para criar novas doutrinas de acordo com conveniências individuais. Sendo assim, o primeiro passo para alguém se tornar um verdadeiro líder, pai ou mãe cristão, é através de um processo de auto-conhecimento da sua fé, o que só pode acontecer através do estudo da Doutrina Cristã católica. Esta realidade traria paz e alegria. Mesmo que a fé cristã possa parecer árdua, podem acreditar que ela não decepciona.
O passo seguinte é tirar a trave da frente dos próprios olhos, antes de tirar o cisco dos olhos dos outros – Existe uma tendência nos relacionamentos humanos em que as pessoas não gostam de ser corrigidas. É como se dissessem num silêncio tácito: eu não corrijo os teus erros e tu não falas dos meus e vivemos em paz; ou ainda, não tens legitimidade para me corrigir porque tu também erras. O Evangelho, porém, diz que devemos corrigir os outros. Os líderes, pais e educadores têm como missão corrigir aqueles que estão sob a sua responsabilidade. Corrigir é um gesto de amor. Quem ama educa! Contudo, antes de corrigir os outros é necessário passarmos por um processo de auto-avaliação e correção pessoal. Isto dar-nos-á autoridade moral e credibilidade quando falarmos.
Nos meus primeiros anos de padre, ainda no Brasil, uma pessoa procurou-me para se confessar e disse todos os pecados do marido, da vizinha, do seu padre e de outras pessoas da igreja. Aliviada, ficou à espera da absolvição. Então, carinhosamente, eu disse-lhe: «– A senhora pode trazer o seu marido, a sua vizinha, o padre e as pessoas da igreja, já sei o pecado de todas elas e posso dar-lhes a absolvição…». Penso que entendeu o recado e assim aprendeu que antes de tirarmos o cisco dos olhos dos outros, devemos tirar primeiro do nosso próprio olho; em seguida, fez então a sua própria confissão.
O terceiro passo é a prova dos frutos – Pelos frutos conhecemos as árvores. Aqui devemos ter cuidado para não julgarmos os frutos como resultados externos. Os frutos são inicialmente acções do Espírito Santo na alma do evangelizador e de quem escuta a Palavra. Como ensina Santo Inácio de Loyola nos seus exercícios espirituais, quando vivemos na verdade temos paz no coração. Um verdadeiro líder não depende de aplausos e validações humanas; a certeza de estar a servir a Deus é a maior das recompensas. Muitos pais devem ter essa clareza para não desanimarem. Há pais que ensinam a verdade, procuram viver uma vida de santidade, mas às vezes não conseguem ver os frutos na vida dos seus filhos e netos. Nestes momentos devemos recordar que Deus respeita a liberdade humana de cada um, que o tempo Dele e o nosso não são o mesmo e que existem sementes, que plantamos aqui na terra, cujos frutos veremos apenas no céu.
Conhecer a verdade, lutar primeiramente pela nossa própria conversão e ter paz no coração são sinais que o Espírito Santo está a agir em nós e nos está a transformar em verdadeiros guias cristãos. Este é um processo para toda vida que exige humildade, perseverança, muita oração e a consciência de que Deus é amor. Rezemos para que cada um de nós possa ver o outro com os olhos de Cristo e possa dar ao outro o olhar de amor de que ele precisa.
Pe. Daniel Ribeiro, SCJ