A esperança cristã pela vinda definitiva do Senhor
Estamos a aproximar-nos do fim de mais um Ano Litúrgico. Na próxima semana, com a Solenidade de Cristo Rei do Universo, celebraremos o último Domingo deste ano católico. Neste penúltimo Domingo do Tempo Comum a Igreja fala-nos sobre a segunda vinda de Cristo e o fim do tempo presente. Esta temática é tão importante que, sabiamente, São Tomás de Aquino trata-a na sua obra “Suma Teológica”, antes mesmo do tratado sobre as virtudes cristãs. Segundo o Santo, as nossas acções devem estar destinadas a um fim, sendo que para os crentes este fim é a bem-aventurança eterna. Por isso, antes mesmo de reflectir sobre as virtudes cristãs, conhecidas como meios para alcançarmos esta bem-aventurança, ele trata da segunda vinda de Cristo e a vida eterna, verdadeira razão para vivermos virtuosamente.
Diante dos extremos na compreensão da temática, seja ao ver tudo de forma material, rigorosamente como narrado no Evangelho, ou negando o retorno de Cristo, a Igreja ensina-nos que existirá uma segunda vinda de Cristo que será marcada pela plenitude do Reino de Deus, já presente parcialmente desde a Encarnação do Verbo, onde haverá um novo céu e uma nova terra. Neste dia, acontecerá o que a Igreja chama de juízo universal. Merece destaque relembrar que o nosso futuro será decidido no momento da nossa morte no chamado juízo particular (Catecismo da Igreja Católica n.os 1021-1022), mas a plenitude do Reino de Deus, a consumação dos tempos e o momento em que receberemos um corpo imortal, dar-se-á apenas no fim dos tempos. Também as almas dos fiéis defuntos que já se encontraram com Deus e tiveram o seu destino eterno decidido no momento da morte, através do juízo particular, com a segunda vinda de Cristo receberão um corpo imortal para viverem a glória de Deus ou a condenação eterna (CIC nos 1038-1041).
Várias pessoas perguntam quando será a segunda vinda de Cristo narrada no Evangelho deste Domingo. A resposta é simples e está expressa no próprio Evangelho: só Deus sabe esta data (cf. Mc., 13, 32). Há católicos que afirmam que as guerras, injustiças e sofrimento do tempo presente demonstram que estamos no período anunciado pelo Evangelho, pelo que a vinda de Cristo está eminente. É inquestionável que existem inúmeros sinais apresentados no Evangelho sobre a segunda e definitiva vinda de Cristo vividos nos tempos actuais. Contudo, no passado não foi diferente. Existiram lugares na Europa em que, durante o fim da Idade Média, grande parte da população morreu devido à Peste Negra e os sofrimentos seguramente não eram menores do que os do tempo de hoje, mas aquele ainda não era o momento do regresso glorioso de Jesus. Por isso, não nos cabe deduzir qual o momento do regresso de Cristo e o fim dos tempos, mas apenas avaliar os sinais dos tempos presentes e nos prepararmos diariamente para esse dia, pois uma certeza podemos retirar do ensinamento que Cristo nos dá: esta data é conhecida apenas por Deus.
Há quem procure amenizar a seriedade deste momento – o encontro pessoal com o Senhor –, ao afirmar que iremos reencarnar outras vezes até alcançarmos a nossa plenitude e irmos viver com Deus. Este ensinamento é de certa forma sedutor, pois diminui a responsabilidade humana na vida presente, mostrando que depois da morte teremos “outras oportunidades” para corrigir o que não fizemos na nossa vida presente. Diante dessa sedução e confusão causada na cabeça de muitos católicos, o melhor é guardarmos no nosso coração as claras palavras da Sagrada Escritura: «Assim também Cristo foi oferecido em sacrifício uma única vez, para tirar os pecados de muitas pessoas; e aparecerá segunda vez, não mais para eximir o pecado, mas para brindar salvação a todos que o aguardam!» (Hebreus 9, 28).
Nós, católicos, acreditamos que o Reino de Deus será consumado com a segunda vinda de Cristo, mas também acreditamos que Ele já está no meio de nós. Tal deve ser motivo suficiente de alegria para nos prepararmos bem para a consumação do grande dia do nosso encontro definitivo com Deus. Os sinais narrados no Evangelho de hoje e a espera por este dia não devem ser motivo de medo e apreensão, mas sim de esperança. Esperança porque Deus terá a última palavra diante das injustiças e caos que vemos no mundo presente. Isto é tão claro na vida dos santos que São Gregório de Nissa não se cansava de dizer sobre a importância da divinização humana (theosis). Segundo este santo, o ser humano, criado à imagem e semelhança de Deus nasceu para ser divino. Naturalmente não por natureza, a qual só pertence a Deus, mas pela nossa participação na vida divina que já começa aqui na terra.
Devemos preparar-nos para o retorno de Jesus com uma atitude de vigilância, mas uma vigilância sem desespero e medo. Quem está na verdade e confia no Senhor não precisa especular sobre o dia e detalhes da Sua vinda. Santo Agostinho dizia: “quem está despreocupado espera tranquilo a chegada do Senhor. Se nós temêssemos pela Sua vinda, que tipo de amor seria o nosso?”. Certa ocasião, perguntaram a São Filipe Neri o que faria se soubesse que o Senhor voltava naquele instante. Ele soltou uma boa gargalhada e disse que continuaria a jogar o seu bilhar. Esta é a grande lição: Deus criou-nos para Ele e devemos preparar-nos para quando Ele nos chamar, o que pode acontecer apenas com a nossa morte ou com a segunda vinda de Jesus.
De que valeria saber o dia, se não estivéssemos preparados? Seguramente, mais vale confiar pacientemente no Senhor, vivermos fielmente os Seus ensinamentos e saborearmos o Reino que já está parcialmente presente no nosso meio. Pois conforme Jesus nos prometeu, Ele nunca nos abandonará, Ele está sempre entre nós, até ao fim dos tempos (cf. Mt., 28, 20).
Pe. Daniel Ribeiro, SCJ