2º DOMINGO DO ADVENTO – Ano C – 8 de Dezembro

2º DOMINGO DO ADVENTO – Ano C – 8 de Dezembro

Ver Cristo nos nossos irmãos, para sermos a Igreja de Deus

O Evangelho deste Segundo Domingo do Advento é um convite à conversão. A conversão é essencial para celebrarmos bem a memória da Encarnação do Verbo, no Dia de Natal, e nos prepararmos para a vinda definitiva de Cristo. Estas duas realidades devem ser vistas de forma inseparável no Período do Advento e nunca é demais repeti-las: queremos celebrar bem a memória do Nascimento de Jesus e prepararmo-nos para a Sua vinda definitiva. De acordo com São João Baptista, isto exige uma profunda conversão (metanoia) e mudança de atitude.

O Tempo do Advento é caracterizado como sendo um período de esperança na felicidade eterna trazida por Deus. Confesso que a virtude da esperança é a mais difícil de ser pregada. Parece que existe uma crise na reflexão sobre esta virtude. Sobre o amor podemos falar durante horas; geralmente as pessoas são tocadas por esta temática. Quando o assunto é a virtude da fé, ela também parece ser muito bem aceite, principalmente nos momentos de dificuldade. Contudo, a virtude da esperança parece ser a virtude mais complexa e até por vezes esquecida nas reflexões católicas.

São Tomás de Aquino, na segunda secção da sua “Suma Teológica”, explica que a virtude da esperança encontra dificuldade em ser propagada, porque muitos imaginam a salvação como algo tão difícil que, mesmo com os maiores esforços, as pessoas pensam não poderem alcançá-la. Para vencer esse pessimismo, Santa Teresinha prega que o medo de não sermos salvos deve ser vencido pela compreensão do amor de Deus que nos deseja próximos Dele e nos auxilia nesse caminho. Actualmente, o problema parece ser o oposto. Para muitos católicos, a temática da esperança tornou-se irrelevante porque muitos nem pensam na vida eterna; e entre aqueles que ainda acreditam e pensam na temática, é significativo o número de pessoas que afirmam que Deus é amor – o que de facto é verdade –, e por isso a todos salvará e ninguém será condenado. Neste contexto, cabe a pergunta: porquê convertermo-nos, se a vida eterna não existe ou se ela existe e todos serão salvos?

Antes de falarmos sobre conversão devemos reafirmar a verdade da fé católica na vida eterna e como ela deve ser conquistada através da nossa fé e obras por nós realizadas. Deus, sendo amor e respeitando a liberdade dos Seus filhos, respeita também o livre arbítrio daqueles que não se querem salvar. Para aqueles que se desejam salvar, São João Baptista deixa claro no Evangelho de hoje que é fundamental a conversão. Até parece que Deus muitas vezes é como um “estraga prazeres”, que diz ser pecado tudo aquilo que nos dá prazer. Na verdade, imaginamos que a felicidade é algo que traz uma sensação cerebral e física agradável. Por isso, quando um padre fala para a pessoa viver na castidade, deixar os vícios e a vida de pecado, muitos pensam: o padre não está a pensar na minha felicidade, quer que eu viva uma vida de sofrimento. Esta visão errada de felicidade tem levado muitas pessoas ao vazio, à frustração, à perda do sentido da vida e a encherem os consultórios psiquiátricos. Mesmo que muitos não queiram acreditar ou não tenham uma verdadeira noção do que tal significa, todos nascemos para as coisas do alto e seremos felizes apenas quando nos identificarmos com Aquele que nos criou: o próprio Deus. Por outras palavras, a nossa alma tem um desejo intrínseco pela eternidade, pelo que se não deixarmos que a nossa alma busque essa união com Deus, estamos a contrariar a nossa essência e toda a felicidade será apenas aparente, frágil e ilusória.

A conversão é um requisito fundamental para nos identificarmos com o mais profundo do nosso ser, que foi criado por Deus. São Gregório de Nissa chegou a dizer que o que Deus mais deseja é a nossa divinização. Devemos ser divinos não por natureza, o que só a Deus é possível, mas por participação. Aqui, sim, está a meta da vida humana que trará a verdadeira felicidade. Neste processo de conversão para celebrarmos verdadeiramente o Natal, procuremos abandonar os caminhos que nos afastam de Deus e convertamo-nos de todo o coração a Ele. O que apenas será possível quando criarmos momentos únicos de encontro, em silêncio, com Deus, tal como São João Baptista o fez quando esteve no deserto; mas também através dos Sacramentos da Eucaristia, Confissão, e na vivência do amor cristão nos nossos relacionamentos.

Quando aprendermos a ver Cristo nos nossos irmãos, as nossas acções, as nossas palavras e o nosso olhar vão deixar transbordar o amor de Deus, e então veremos essa Luz Divina, que está em nós, ser capaz de trespassar o espelho que às vezes se encontra à nossa frente, e reflectir no coração do nosso irmão, para sermos a Igreja que Deus espera.

Pe. Daniel Ribeiro, SCJ

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