Soberba, a raiz de todos os pecados
O Evangelho deste Domingo traz-nos a parábola dos dois filhos (Mt., 21, 28-32). Nesta são mencionados três grupos de pessoas: os chefes dos judeus, os cobradores de impostos e as prostitutas, que representam três pecados capitais. No comportamento dos líderes judeus, que não eram humildes o suficiente para se reconhecerem pecadores e converterem-se com a pregação de João Baptista, podemos ver o pecado da soberba. A corrupção, a ganância e o apego ao dinheiro dos cobradores de impostos, que exploravam os seus conterrâneos, são sinais do pecado da avareza. Por fim, o pecado da luxúria é representado pelas prostitutas que viviam em função do prazer da carne.
Estes pecados estão muito presentes no mundo de hoje. Provavelmente nunca se viu na história um período em que se busca tanto o dinheiro e o poder. Basta perguntar com o que as pessoas sonham e logo se verá que muitos dirão património e mais dinheiro. Prova da ganância pelo dinheiro na sociedade de Macau são as inúmeras famílias destruídas, ou com dívidas intermináveis, devido aos jogos de fortuna e azar. Seguramente, nunca se viu também uma sociedade em que as pessoas são erotizadas tão cedo. Hoje, mesmo nos colégios chineses, adolescentes com catorze anos de idade já namoram. Nos colégios ocidentais a realidade é ainda pior. Recordo que, na Jornada Mundial da Juventude, uma adolescente de treze anos, da América Latina, partilhou que uma professora pediu para as meninas comprarem preservativos para aprenderem, na sala de aula, como se protegerem quando tiverem relações sexuais. Facilmente, inúmeros outros exemplos poderiam ser apresentados sobre a avareza e a luxúria. Contudo, pouco se fala sobre a soberba.
É inquestionável que os pecados da avareza e da luxúria precisam ser combatidos, mas a raiz de todos os pecados é a soberba, como nos ensina São Gregório Magno. A soberba muitas vezes é até justificada como uma virtude. Ela pode ser camuflada ao se dizer que a pessoa é determinada, tem uma personalidade forte, tem confiança em si própria. Contudo, estes valores podem esconder a soberba. Uma pessoa humilde é capaz de reconhecer os seus erros, lutar contra eles e salvar-se. Já o soberbo pensa que tudo o que faz é que está certo, que os erros estão apenas nos outros e que não precisa mudar. Normalmente são pessoas tão centradas em si mesmas que criam uma religião de acordo com seus valores e conveniências. Infelizmente, sem perceber, criam um deus à sua imagem e semelhança, e dificilmente obedecem ou se arrependem. Por isso, tal como os líderes religiosos da época de Jesus, terão dificuldades de entrar no reino dos céus.
Daí a importância de avaliarmos sempre as nossas atitudes e questionarmos se somos soberbos. De forma breve, podemos identificar este pecado em dez comportamentos: (1) pensar-se que se está sempre certo, com perda da noção do pecado, (2) hipersensibilidade quando se recebe uma reprimenda, (3) teimosia, (4) queixar-se frequentemente de não ser compreendido e julgar os outros com dureza, (5) vaidade e exagerada preocupação consigo mesmo, (6) guardar ressentimento por tudo o que lhe desagrada, (7) excesso de espírito crítico, vendo apenas erros em tudo o que é feito pelos outros, (8) diminuir e tratar os outros com ironia, (9) fazer as coisas para serem vistas e reconhecidas pelos outros, (10) falar muito e não gostar de escutar os outros.
A soberba tem entrado na vida dos cristãos de várias formas. Uma delas, como visto acima, é a dificuldade de nos reconhecermos pecadores. Hoje as pessoas são muito frágeis e, quando contrariadas, ofendem-se com muita facilidade, mas, não poucas vezes, perdemos a noção de que também ofendemos a Deus. Naturalmente, este não é o tema central da pregação cristã. Contudo, como podemos amar se estivermos apegados ao que nos separa de Deus e dos irmãos?
A melhor forma de se vencer os pecados capitais, especialmente a soberba, é a humildade. Com ela tudo pode ser transformado. Uma pessoa humilde sabe obedecer e arrepender-se quando está errada. Através da humildade é possível até mesmo recuperar a inocência. Existe um hino na tradição católica que diz que Maria Madalena, uma pecadora pública, vive no céu cantando no coro das virgens. Com essa virtude é possível livrar-se também do apego ao dinheiro, basta vermos os exemplos de São Mateus e Zaqueu. Em poucas palavras, Deus chama-nos à conversão e o primeiro passo para que ela seja autêntica é vencermos a soberba.
Neste Domingo, em que o segundo filho, possivelmente preocupado em parecer bom para o pai, preferiu mentir do que ser autêntico, peçamos ao Senhor a graça de vencermos qualquer tipo de soberba, fazermos um bom exame de consciência, pedirmos a graça de reconhecermos e mudarmos aquilo que não é bom. Deus é um Pai amoroso e misericordioso que não se cansa de perdoar. Para isso, precisamos recordar que só na verdade seremos, de facto, livres.
Pe. Daniel Ribeiro, SCJ