E o que diremos à nossa Mãe?
Agora, que concluímos a nossa pequena revelação de Fé, falemos de uma outra oração que os cristãos têm repetido incansavelmente ao longo dos séculos. Depois do Pai Nosso, esta é outra oração que sempre encontramos à mão.
“SALVÉ, MARIA!” –“Chaîre kecharitomene, ho Kyrios meta sou”, “Alegra-te, cheia de graça, o Senhor é contigo” (cf. Lc., 1, 28). «A saudação do anjo a Maria constitui um convite à alegria, a um júbilo profundo, anuncia o fim da tristeza que existe no mundo» (Bento XVI, Audiência Geral de 19 de Dezembro de 2012). Quando Deus entra nas nossas vidas, anuncia alegria e traz paz.
Estas palavras foram ditas pelo mensageiro, o Arcanjo Gabriel, mas as palavras vieram de Deus. A primeira parte da Avé Maria é a Palavra de Deus, a proclamação de Deus.
Quando São João Paulo II visitou o México em 1979, rezou diante da imagem de Nossa Senhora de Guadalupe: “Avé Maria! É com imenso amor e reverência que pronuncio estas palavras, palavras tão simples e ao mesmo tempo tão maravilhosas. Ninguém jamais poderá cumprimentá-la de maneira mais maravilhosa do que a forma como o Arcanjo uma vez a saudou no momento da Anunciação. Avé Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco. Repito estas palavras, palavras que tantos corações meditam e tantos lábios pronunciam em todo o mundo. Nós aqui presentes as pronunciamos juntos, e sabemos que estas são as palavras com as quais o próprio Deus, através do seu mensageiro, saudou a mulher prometida no Jardim do Éden, escolhida desde a eternidade como a Mãe do Verbo, a Mãe do Sabedoria Divina, Mãe do Filho de Deus” (27 de Janeiro de 1979).
“CHEIA DE GRAÇA, O SENHOR É CONVOSCO” –O Catecismo da Igreja Católica aponta a ligação entre estas duas frases: “As duas palavras da saudação do anjo esclarecem-se mutuamente. Maria é cheia de graça, porque o Senhor está com Ela. A graça de que Ela é cumulada é a presença d’Aquele que é a fonte de toda a graça” (CIC nº 2676).
Na mesma Audiência Geral de 19 de Dezembro de 2012, o Papa Bento XVI explicou: “Na saudação do anjo, Maria é chamada ‘cheia de graça’; em grego o termo ‘graça’,charis, tem a mesma raiz linguística da palavra ‘alegria’. Também nesta expressão é ulteriormente esclarecida a nascente do alegrar-se de Maria: o júbilo provém da graça, ou seja, deriva da comunhão com Deus, do facto de manter um vínculo tão vital com Ele, a ponto de ser morada do Espírito Santo, totalmente plasmada pela obra de Deus”.
“BENDITA ÉS TU ENTRE AS MULHERES E BENDITO É O FRUTO DO TEU VENTRE, JESUS” –“Maria é ‘bendita entre as mulheres’, porque acreditou no cumprimento da Palavra do Senhor” (CIC nº 2676). Como Maria acreditou? Segundo o Papa Francisco, “Ela vivia [a sua fé] na simplicidade das muitas ocupações e preocupações quotidianas de cada mãe, como assegurar comida e roupa, e cuidar da casa… Foi precisamente a existência normal da Virgem o terreno sobre o qual se desenvolveu uma relação singular e um diálogo profundo entre ela e Deus, entre ela e o seu Filho” (15 de Maio de 2018).
“SANTA MARIA, MÃE DE DEUS” –Assim, com efeito, declarou Santa Isabel, ao receber a visita de Maria: «Mas, qual o motivo desta graça maravilhosa, que me venha visitar a mãe do meu Senhor?» (Lucas 1, 43). Nenhuma outra pessoa está em melhor posição para nos representar nas orações que efectuamos: “podemos confiar-lhe todas as nossas preocupações e pedidos”, o que significa, também, que “confiando-nos à sua oração, abandonamo-nos com Ela à vontade de Deus: ‘Seja feita a vossa vontade’” (CIC nº 2677).
“ROGAI POR NÓS, PECADORES, AGORA E NA HORA DA NOSSA MORTE” –Quão gentilmente somos lembrados de que somos pecadores, que não temos direito a qualquer das coisas que pedimos. Mas vamos até Ela, que é Mãe da Misericórdia.
Sempre que São Josemaría Escrivá recitava alguma oração, muitas vezes parava numa palavra; no caso desta oração, a palavra era “agora”. Já vimos o quão importante é esta palavra. “Confiamo-nos a Ela ‘agora’, no hoje das nossas vidas. E a nossa confiança alarga-se para lhe confiar, desde agora, ‘a hora da nossa morte’. Que Ela esteja então presente como na morte do seu Filho na cruz e que, na hora do nosso passamento, Ela nos acolha como nossa Mãe (cf. Jo., 19, 27), para nos levar ao seu Filho Jesus, no Paraíso” (CIC 2677).
Na 13.ª Estação da Via Sacra meditamos sobre o modo como o corpo de Jesus é colocado nos braços de Sua Mãe. Podemos dizer-lhe: “Mãe, eu gostaria de morrer assim – nos seus braços”.
Finalmente, deixem-me compartilhar convosco uma pequena história: Há cerca de vinte anos costumava recitar o Terço com alguns alunos do Ensino Médio, pelo menos uma vez por semana. Um dia, enquanto recitava, notei que um dos meninos tinha uma versão ligeiramente diferente da Avé Maria. A sua versão era pouco ortodoxa, mas não era por isso que estava errada. Então, dei-lhe a minha opinião, mas sempre acrescentando que ele poderia rezar a sua versão do Terço pelo tempo que desejasse, porque, francamente, isso dava-lhe uma maior sensação de segurança. E era assim que ele rezava a última parte: “Rogai por nós, pecadores, agora até à hora da nossa morte!”.
O nome do menino: Robin Gregory D’Souza. Cresceu tornou-se um advogado brilhante, ao mesmo tempo que ajudava as pessoas de todas as maneiras que podia. Morreu de insuficiência renal a 9 de Junho deste ano. Estou certo de que Nossa Senhora ouviu a sua petição e por ele rezou até à hora da sua morte.
FIM
Pe. José Mario Mandía
N.d.R.:A coluna “TEOLOGIA, UMA DENTADA DE CADA VEZ” termina aqui. Na próxima edição d’O CLARIM, o padre José Mario Mandía inicia uma nova série de artigos semanais.