Os Anjos-chefe de todos nós
O arcanjo São Miguel sempre teve a sua Festa a 29 de Setembro, mas desde 1970 que é celebrado juntamente com São Gabriel e São Rafael. A reforma do Concílio Vaticano II recorda-os conjuntamente, pois as suas Memórias litúrgicas eram antes celebradas separadamente.
O termo arcanjo deriva do Grego “arkhaggelos”, o “principal mensageiro”, vertido no Latim eclesiástico como “archangelus”, o “anjo principal”. São sete de acordo com a Bíblia, mas nesta são apenas mencionados estes três: Miguel, Gabriel e Rafael. Os outros nomes, Uriel, Baraquiel ou Barachiel, Jegudiel ou Jehudiel, Fanuel ou Phanuel, e Salatiel, aparecem somente nos livros apócrifos de Enoch, no quarto livro de Esdras e na literatura rabínica.
Os arcanjos ocupam as mais altas esferas da hierarquia angélica. Os três arcanjos que aqui tratamos representam a alta hierarquia dos anjos-chefe, o grupo dos sete espíritos puros que atendem ao trono de Deus e são os seus “mensageiros dos decretos divinos”, tendo a tarefa de conservar a transcendência e o mistério de Deus, mas tornando-O próximo e manifestando as suas qualidades salvíficas.
Desde Pseudo-Dionísio, padre da Igreja do Século VI, são enumeradas três hierarquias de anjos. Na primeira estão os Serafins, Querubins e Tronos. Depois vêm as Dominações, Virtudes e Potestades. Na terceira hierarquia estão os Principados, Arcanjos e Anjos. Este último grupo compreende os que estão mais próximos às necessidades dos seres humanos. Os arcanjos, como os classificou São Gregório Magno, são os mensageiros dos anúncios mais importantes e de maior transcendência, enquanto os anjos transmitem os de menor gravidade.
Miguel significa “Quem como Deus”, nome de origem hebraica. Segundo a tradição, terá sido esse o grito de guerra em defesa dos direitos de Deus quando Lúcifer se opôs aos planos salvíficos e de amor do Criador. A Igreja Católica teve sempre uma grande devoção ao arcanjo São Miguel, especialmente ao pedir-lhe que liberte o mundo dos ataques do demónio e dos espíritos infernais. Costuma ser representado com a roupa de guerreiro ou soldado centurião, com o seu calcanhar sobre a cabeça do inimigo, o demónio. Traz também uma balança, pois é ele quem pesa as almas. São Miguel, o Príncipe que luta contra o mal, é venerado pela sua capacidade de intercessão também, além de ser o patrono das colheitas no Ocidente. A sua Festa era um marco no calendário anual, dada a sua importância económica e agrária. É ele o anjo guerreiro que com a sua espada desembainhada vigia, desde o Castelo Santo Anjo (Castel Sant’Angelo), a Cúpula de São Pedro, no Vaticano. Miguel é o arcanjo da justiça e do arrependimento, padroeiro da Igreja Católica.
Gabriel significa “a Força de Deus”, surgindo no livro de Daniel, no Antigo Testamento, a explicar ao profeta uma visão do carneiro e do cabrito (Dn., 8), assim como instruindo-o sobre as coisas futuras (Dn., 9, 21-27). Nos Evangelhos, é Gabriel que segundo Lucas (1, 11-20) anuncia a Zacarias o nascimento de São João Baptista e depois a Maria (1, 26-38) que conceberia e daria à luz um menino chamado Jesus. Como mensageiro importante, tem também relevância no Islão, pois é Gabriel quem anuncia a Maomé os primeiros cinco versos do que seria o Alcorão, versos esses que compõem o Al-Alaq, a sura 96 daquele grande livro. Na iconografia cristã, Gabriel surge representado com uma vara perfumada de açucena, muita em vezes em pose de genuflexão. É o padroeiro das comunicações e dos comunicadores, pois através da Anunciação trouxe ao mundo a mais bela notícia. Foi declarado também Padroeiro da “Rádio Vaticano”.
“Deus cura” é o significado do outro arcanjo, Rafael. O único livro sagrado que menciona Rafael é o de Tobite, no qual o arcanjo figura em vários capítulos. Deus terá enviado este arcanjo para que acompanhasse Tobias numa viagem, na qual se casaria com Sara. Da mesma forma, Rafael indicou a Tobias como devolver a visão ao seu pai cego. Por esta razão é invocado para afastar doenças e conseguir terminar bem as viagens. É ainda guardião da saúde e da cura física e espiritual, sendo considerado, também, patrono da ordem das virtudes, além de padroeiro dos cegos, médicos, sacerdotes e, ainda, dos viajantes, soldados e escuteiros.
Vítor Teixeira
Universidade Fernando Pessoa
LEGENDA: Estátua de São Miguel Arcanjo no topo do Castel Sant’Angelo, em Roma