“Reler a história dos dois países com os olhos da Fé”
O 26.º Encontro Episcopal Coreia-Japão, que ocorreu na capital sul-coreana de 11 a 14 de Novembro, marcou uma nova etapa de um “caminho sinodal” que não só responde às necessidades dos povos destes países, como também une os seus bispos católicos há já quase trinta anos. A 13 de Novembro, bispos coreanos e nipónicos celebraram uma missa conjunta na catedral de Sanjeong-dong, da arquidiocese de Gwangju, presidida pelo arcebispo D. Simon Ok Hyun-jin, que na sua homilia fez questão de lembrar que «é através do encontro episcopal coreano-japonês que se concretiza a unidade fraterna em Deus», e em face disso se promove «a reconciliação sincera» entre os habitantes da Coreia e do Japão, de modo a que se possam tornar «vizinhos de coração». Finda a homilia, os bispos visitaram em conjunto o cemitério, para relembrar e homenagear as vítimas de todas as guerras e confrontos do passado.
Estes dias de meados de Outono – a época de eleição para efectuar visitas turísticas a ambos os países, seja pelo espectáculo que a multicolorida folhagem das árvores nas florestas proporciona, seja pela amenidade do clima – foram marcados pelo diálogo, oração e preparação de iniciativas pastorais conjuntas, numa atmosfera de fraternidade e comunhão.
Esta caminhada conjunta, iniciada em 1996, fundamenta-se num apoio mútuo e na promoção de maiores e constantes intercâmbios, não apenas entre os prelados, mas entre todos os fiéis ao serviço da Igreja, especialmente os mais jovens. E nesse sentido – como recordou à agência FIDES o cardeal D. Tarcisio Isao Kikuchi, arcebispo de Tóquio, participante no encontro deste ano – a Jornada Mundial da Juventude, que terá lugar na Coreia do Sul em 2027, constou também do programa. «Ansiamos pelo início desse acontecimento», afirmou D. Tarcisio, acrescentando: «a Jornada Mundial da Juventude em Seul será uma peregrinação de esperança que incluirá uma esmagadora maioria de fiéis, não só da Coreia como também do Japão; uma peregrinação de esperança para os jovens».
Os pioneiros da iniciativa conjunta incluíram o bispo (mais tarde cardeal) D. Stephen Fumio Hamao, então vice-presidente da Conferência Episcopal Japonesa, e o arcebispo D. Paul Ri Moun-hi, presidente da Conferência Episcopal Católica da Coreia. Os dois estavam convencidos de que as Igrejas de ambos os países, unidas pela fé em Cristo e sem representar quaisquer interesses nacionais, poderiam promover relações benevolentes e pacíficas, esforçando-se pela compreensão mútua e reconhecimento do sofrimento um do outro. Tendo em vista o objectivo do primeiro encontro, o texto “História coreana para jovens: rumo a um reconhecimento conjunto da história” foi publicado em 2004, sendo traduzido para Japonês em Novembro do mesmo ano.
Quanto ao historial dos encontros bilaterais, convém lembrar que eles resultam de espontâneas tomadas de posição de bispos japoneses e coreanos, e não de eventos oficiais sancionados pelas conferências episcopais. Na verdade, o primeiro dos encontros partiu de uma iniciativa de um pequeno grupo de bispos que se queriam encontrar e “reler a história dos dois países com os olhos da Fé”.
Ao longo dos séculos, o Japão e a Coreia mantiveram intensas relações culturais e comerciais, marcadas por muito momentos dolorosos e traumáticos, sobretudo na história recente quando – como sublinhou D. Tarcisio Isao Kikuchi – «o Japão assumiu o controlo da Coreia e, como consequência disso, deixou feridas profundas no seu povo». Foi precisamente para sanar essas feridas que alguns bispos decidiram formar um grupo com o objectivo “de estudar a história e, em conjunto, publicar as conclusões desse estudo”. Essa foi, por assim dizer, a origem dos encontros. Não foi fácil, na fase inicial, abordar desapaixonadamente tão traumatizante passado, mas os bispos superaram a barreira e criaram uma verdadeira atmosfera fraterna. Recordou o cardeal D. Tarcisio: «no início, apenas aderiram alguns prelados, mas depois quase todos os bispos vieram de bom grado e aprofundaram as suas amizades; e de tal forma que todos os anos se passou a realizar uma reunião, alternadamente no Japão e na Coreia».
Desde que se tornou bispo em 2004, D. Tarcisio sentiu que o já habitual encontro é agora realmente um evento quase oficial das duas conferências episcopais, dado o grande número de participantes. «Já é, e será sempre, uma reunião simbólica de cooperação, comunhão e sinodalidade», concluiu.
Além do cargo de arcebispo, D. Tarcisio Isao Kikuchi é, desde Maio de 2023, presidente da Caritas Internationalis, e trabalhou anteriormente vários anos como missionário no Gana. É também membro dos Missionários do Verbo Divino.
Joaquim Magalhães de Castro
LEGENDA: Cardeal D. Tarcisio Isao Kikuchi, arcebispo de Tóquio