PAIS DA IGREJA (55)

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Germano de Constantinopla: ver o Deus invisível nas coisas visíveis

Abordaremos hoje um patriarca bizantino de Constantinopla que lutou contra a Controvérsia Iconoclasta e defendeu o uso das imagens sagradas.

São Germano de Constantinopla nasceu por volta de 634 em Constantinopla (actual Istambul) e morreu por volta de 732 perto de Atenas. Para além da defesa dos ícones sagrados, fomentou também a devoção à Virgem Maria – “Theotokos” (portadora de Deus).

A Controvérsia Iconoclasta assolou o Império Bizantino nos Séculos VIII e IX. Os iconoclastas rejeitavam a veneração dos ícones, invocando várias razões, incluindo a proibição dos Dez Mandamentos de fazer «imagens esculpidas» (Êxodo 20, 4) e o perigo da idolatria.

Aqueles que defendiam o uso dos ícones, por outro lado, explicavam que os ícones eram símbolos e que as coisas visíveis podiam ser usadas para representar realidades invisíveis. De facto, o Compêndio do Catecismo da Igreja Católica ensina, no ponto 446: “No Antigo Testamento, este mandamento proíbe representar o Deus absolutamente transcendente. Porém, a partir da Encarnação do Filho de Deus, o culto cristão das imagens sagradas é justificado (como afirma o segundo Concílio de Niceia, de 787), porque se funda no Mistério do Filho de Deus feito homem, no qual Deus transcendente se torna visível. Não se trata duma adoração da imagem, mas de uma veneração de quem nela é representado: Cristo, a Virgem, os Anjos e os Santos”.

O Papa Bento XVI contou a história por detrás da Controvérsia: “Durante o patriarcado de Germano (715-730) a capital do império bizantino, Constantinopla, sofreu um perigosíssimo assédio por parte dos Sarracenos. Naquela ocasião (717-718) foi organizada uma solene procissão na cidade com a exposição da imagem da Mãe de Deus, a Theotokos, e da relíquia da Santa Cruz, para invocar do Alto a defesa da cidade. De facto, Constantinopla foi libertada do assédio. Os adversários decidiram desistir para sempre da ideia de estabelecer a sua capital na cidade-símbolo do Império cristão e o reconhecimento pela ajuda divina foi extremamente grande no povo” (Audiência Geral de 29 de Abril de 2009).

O acontecimento convenceu o Patriarca germânico de que o milagre demonstrava a aprovação divina da devoção. O Imperador Leão III, porém, não concordou. Argumentou mesmo que a veneração dos ícones poderia levar à idolatria e que isso poderia causar divisões no Império. Devido à sua firmeza, Germano foi obrigado a demitir-se do cargo de Patriarca e foi viver para um mosteiro, onde morreu. No entanto, os seus ensinamentos foram citados no Segundo Concílio de Niceia (787), que decidiu a favor dos ícones.

Outra caraterística marcante de Germano foi o seu cuidado com as celebrações litúrgicas e, em particular, a sua devoção à Santíssima Virgem. Quando Pio XII declarou o dogma da Assunção de Nossa Senhora no n.º 22 da Constituição Apostólica Munificentissimus Deus (1950), citou a obra de Germano sobre a Dormição de Nossa Senhora. “Vós, como está escrito, aparecestes ’em beleza’; o vosso corpo virginal é totalmente santo, totalmente casto, totalmente domicílio de Deus de forma que até por este motivo foi isento de desfazer-se em pó; foi, sim, transformado, enquanto era humano, para viver a vida altíssima da incorruptibilidade; mas agora está vivo, gloriosíssimo, incólume e participante da vida perfeita” (In Sanctae Dei Genitricis Dormitionem, sermo 1).

O Papa Bento XVI apontou três lições que podemos aprender de São Germano. A primeira é que o Deus invisível está de algum modo presente de forma visível no mundo, mas temos de aprender a apercebermo-nos dessa presença. Isto torna-se possível com a Encarnação:

“Depois da encarnação do Filho de Deus, tornou-se portanto possível ver Deus nas imagens de Cristo e também no rosto dos Santos, no rosto de todos os homens nos quais resplandece a santidade de Deus.

O segundo aspecto é a beleza e a dignidade da liturgia. Celebrar a liturgia conscientes da presença de Deus, com aquela dignidade e beleza que faça ver um pouco do seu esplendor, é o compromisso de cada cristão formado na sua fé.

O terceiro aspecto é amar a Igreja. Precisamente a propósito da Igreja, nós homens propendemos para ver sobretudo os pecados, o negativo; mas com a ajuda da fé, que nos torna capazes de ver de modo autêntico, podemos também, hoje e sempre, redescobrir nela a beleza divina. É na Igreja que Deus se torna presente, se oferece a nós na Santa Eucaristia e permanece presente para a adoração. Na Igreja Deus fala connosco, na Igreja ‘Deus passeia connosco’, como dizia São Germano. Na Igreja recebemos o perdão de Deus e aprendemos a perdoar” (Audiência Geral de 29 de Abril de 2009).

Pe. José Mario Mandía

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