Jesus tentado por Satanás no deserto
A liturgia do Primeiro Domingo da Quaresma leva-nos ao deserto. Imediatamente depois de ser baptizado e de receber a unção no Rio Jordão, o Espírito Santo leva Jesus ao deserto para ser tentado por Satanás. É digno de nota o papel do Espírito Santo, o “Amor Verdadeiro e Original”, a força interior que impele Jesus (cf. 2 Cor., 5, 14ss). Ele entra no deserto “cheio do Espírito Santo”. O fruto do Amor é a obediência, e o fruto da obediência é a auto-transcendência ou o dom de si. Isto reflecte a dinâmica do mistério do Amor na Santíssima Trindade. Fomos criados à imagem e semelhança de Deus; Jesus foi enviado para nos restituir a nossa verdadeira identidade.
Na Bíblia, o deserto representa um lugar teológico. O deserto marca uma etapa de transformação no nosso caminho, tal como aconteceu com Israel. O povo de Deus viajou quarenta anos no deserto antes de chegar à terra da promessa de Deus. Foram necessários quarenta dias no deserto para que o profeta Elias chegasse a Horeb, o monte santo.
O objectivo do Diabo é duplo: pôr à prova a identidade de Jesus como “O Filho de Deus” e desviá-Lo da Sua missão. Onde Adão e Eva falharam, o Filho do Homem triunfa. Jesus derrota Satanás e ensina-nos que, ao vencermos as provações e tentações, crescemos como fortaleza e ficamos prontos para cumprir a nossa missão.
As tentações de Jesus no deserto mostram-nos como Satanás ataca e ensinam-nos a vencê-lo, seguindo o exemplo de Jesus.
O ELO MAIS FRACO
O diabo disse-lhe: «“Se tu és o Filho de Deus, manda que estas pedras se transformem em pães”. Jesus, porém, respondeu-lhe: “Está escrito: Nem só de pão viverá o homem”»
Depois de quarenta dias de jejum, Jesus estava com fome. Satanás aproveitou-se da sua fraqueza física. Santo Inácio ensina-nos que o Diabo actua como um capitão de guerra, atacando o lado mais fraco do inimigo. O auto-conhecimento é essencial para saber onde e como “o inimigo da alma humana” nos pode tentar. Devemos ser honestos connosco próprios e com o Senhor, permitindo que o Espírito nos transforme. O caminho da conversão é também um caminho de crescimento pessoal.
Jesus responde a Satanás citando as Escrituras. Outra forma de nos prepararmos para resistir às intrusões do espírito mau é meditar nas Escrituras. Os cristãos devem conhecer a Bíblia, orar com ela e ser instruídos pela Palavra de Deus. Jesus conhecia-a de cor. Quando aplicamos a Palavra de Deus à nossa vida quotidiana, crescemos em sabedoria e discernimento. A Quaresma é um tempo especial para meditar na Palavra de Deus.
IDOLATRIA
«“Se me adorares, tudo será teu!”. Jesus respondeu-lhe: “Está escrito: ‘Adora o Senhor, teu Deus, e serve-o só a ele’”»
A riqueza, o poder político e os prazeres mundanos são atalhos que o diabo usa para nos desviar da nossa verdade enquanto seres criados à imagem e semelhança de Deus. Satanás põe à prova a natureza e a força da relação de Jesus com Deus. Sofremos as consequências do pecado original: «Porque tudo o que há no mundo é concupiscência da carne, concupiscência dos olhos e soberba da vida, que não vem do Pai, mas vem do mundo» (1 Jo., 2, 16).
Somos desafiados a lutar contra as nossas tendências para nos afastarmos da vontade de Deus e ficarmos presos no nosso egocentrismo. A Quaresma é um tempo de penitência. O jejum e outras práticas ascéticas ajudam a combater estas tentações e, com a ajuda da Graça, a controlar as nossas paixões e a possuirmo-nos a nós próprios. Só podemos dar aquilo que possuímos. Se nos possuirmos a nós próprios – as nossas emoções, o nosso corpo e a nossa alma – podemos oferecer-nos como um dom ao Senhor e aos outros.
O PAI DE TODAS AS MENTIRAS
«“Se és o Filho de Deus, atira-te daqui abaixo, porque está escrito…” Jesus respondeu-lhe: “Está dito: ‘Não ponhas à prova o Senhor teu Deus’”»
Para aqueles que cresceram espiritualmente, o Diabo tem uma táctica mais subtil: «Ele disfarça-se em anjo de luz» (2 Cor., 11, 14). Satanás repara na forma como Jesus responde usando a Bíblia. Ele também conhece as Escrituras, mas distorce a sua interpretação para criar confusão. Somos chamados a ler e a interpretar as Escrituras com a ajuda do Espírito e de acordo com a Sagrada Tradição da Igreja.
Somos abençoados quando temos a oportunidade de partilhar a nossa vida espiritual com um bom amigo, um director espiritual ou um confessor. Eles podem ajudar-nos a discernir porque, mesmo com as intenções mais santas, o amor-próprio ou o orgulho podem infiltrar-se, como o joio no meio do trigo na parábola de Jesus (cf. Mt., 13, 24).
Louvado seja o Senhor que permite que sejamos postos à prova para crescermos em força e objectivo!
Pe. Eduardo Emilio Agüero, SCJ