13º DOMINGO COMUM – Ano B – 30 de Junho

13º DOMINGO COMUM – Ano B – 30 de Junho

Jesus desperta-nos para uma nova vida

No Século V a.C., Heródoto de Halicarnasso, o pai dos historiadores, contava que num santuário da Grécia os recém-nascidos eram recebidos com luto e choro, porque compreendiam que estavam a entrar num ciclo cheio de sofrimento e dor. Por outro lado, quando as pessoas morriam, despediam-se com uma grande festa, pois acreditavam que era assim que as almas se libertavam das penas deste mundo.

Será que a vida é assim tão cruel? Como explicar que uma cidade tão rica como Macau tenha uma das taxas de suicídio mais elevadas do mundo? Só no ano passado, 88 pessoas se suicidaram!…

O que a morte significa actualmente para nós? Valerá a pena viver?

A Palavra de Deus traz-nos luz para compreendermos o mistério da morte e da vida, e para assumirmos a nossa existência com esperança e força. O Livro da Sabedoria afirma: «Por inveja do diabo é que a morte entrou no mundo» (Sabedoria 2, 24).

Tudo o que Deus criou é bom, e mais ainda o Ser Humano, que Deus qualificou de «muito bom» (Gén., 1, 31). É por isso que a vida é boa e vale a pena ser vivida!

O mal e o pecado são o fruto de uma liberdade mal utilizada: No início, foi o anjo Lúcifer que, gabando-se da sua beleza e inteligência, se separou do seu criador e se recusou a obedecer-lhe.

Se Deus tivesse criado robôs programados com inteligência artificial, Satanás não os teria tentado e eles não se teriam desviado. Mas Deus fez-nos livres! Mostrou-nos os limites da nossa criaturalidade (o único fruto proibido). Além disso, Deus ofereceu-nos a sua amizade como lugar de comunhão e de festa: «Meu filho, tu sempre estás comigo; tudo o que possuo é igualmente teu», como disse o Pai ao filho mais velho na parábola do filho pródigo (Lc., 15, 31).

Chamamos “pecado” ao abuso ou mau uso da nossa liberdade. Esta transgressão afasta-nos da nossa vocação original, da nossa relação com Deus, com os outros e com toda a Criação. A doença e a morte são fruto do pecado, assim como as guerras, o aborto, a eutanásia e tudo o que representa a “cultura da morte”.

Na sua grande misericórdia, Deus responde a este “mistério da iniquidade” e vem em nosso auxílio: «O povo que andava nas trevas viu uma grande luz» (Is., 9, 2). Jesus teve compaixão da multidão «porquanto eram como ovelhas sem pastor» (Mc., 6, 34), sem direcção nem alimento. Por isso, ensina-as e dá-lhes de comer.

São Marcos apresenta Jesus como o Messias anunciado pelos profetas, que estanca o fluxo de sangue da mulher que ousou tocar no seu manto e restitui a vida à filha de Jairo.

Segundo a cultura semita, a vida residia no sangue. É por isso que a mulher que sofria de hemorragias estava lentamente a ficar sem vida. De todas as pessoas que pressionaram Jesus no seu caminho para a casa de Jairo, só ela o tocou com fé. E foi assim que emanou do Salvador uma força que conseguiu estancar o fluxo de sangue no seu corpo, para que ela pudesse manter a vida. Quando Jesus lhe diz: «A tua fé salvou-te», indica algo que vai para além da sua saúde física, que lhe restitui e cura a sua condição de filha de Deus, e é por isso que lhe chama «minha filha».

No mistério da redenção, que restaura e aperfeiçoa a obra da Criação, a liberdade humana volta a entrar em jogo. Mais uma vez, temos a possibilidade de acolher a luz: «a todos quantos a receberam, deu-lhes o direito de se tornarem filhos de Deus» (Jo., 1, 12). É o mesmo poder que Jesus dá à mulher e à rapariga do evangelho de hoje. Mas antes disso, Jairo, um homem importante, humilha-se perante o Senhor, tal como a pobre mulher doente no caminho. Eles reconhecem a sua pequenez perante o Messias, o Filho de Deus. Uma atitude oposta à aceitação da Luz é a que João menciona mais tarde: «O julgamento é este: que a luz veio ao mundo, mas os homens amaram mais as trevas do que a luz» (Jo., 3, 19).

Há alguns pormenores no texto evangélico de hoje que nos ajudam a afastar a tentação de rejeitar o mistério da encarnação do Filho de Deus que «habitou entre nós» (Jo., 1, 14), assumindo a nossa natureza humana: Em primeiro lugar, notamos como o evangelista narra que Jesus “sentiu” sair dele uma força e que a mulher “sentiu no seu corpo” que o fluxo de sangue tinha parado. Em segundo lugar, Jesus toma a rapariga pela mão, como lhe ordena, e ajuda-a a levantar-se. Imediatamente, ela começa a andar e Jesus diz aos pais que a alimentem. Andar é uma metáfora que indica que esta rapariga, com doze anos de idade, tem uma vida inteira pela frente e uma missão, para a qual precisa de ser alimentada.

Jesus traz-nos vida em abundância, uma vida que abraça a totalidade da nossa humanidade: corpo e alma. Como nos ensina o livro da Sabedoria: «Com efeito, Deus criou o homem para a incorruptibilidade e fê-lo à imagem do seu próprio ser» (Sabedoria 2, 23).

Como com a mulher do caminho, Jesus comunica-nos a força do seu Espírito para uma vida nova. Como fez com a rapariga, desperta-nos do sono e eleva-nos para que vivamos a nossa vida com intensidade, sentido e direcção, para que caminhemos fortalecidos pelo alimento que é o seu próprio Corpo e o seu preciosíssimo sangue, pelo qual fomos redimidos.

Pe. Eduardo Emilio Agüero, SCJ

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