DIA DE ORAÇÃO PELA RECONCILIAÇÃO E UNIDADE DO POVO COREANO

DIA DE ORAÇÃO PELA RECONCILIAÇÃO E UNIDADE DO POVO COREANO<

A urgência do Diálogo e da Paz

Na véspera do aniversário da eclosão da Guerra da Coreia – iniciada a 25 de Junho de 1950 e concluída três anos depois por meio de um cessar-fogo e armistício, ou seja, tecnicamente o conflito continua em vigor – e também do Dia de Oração pela Reconciliação e Unidade do Povo Coreano, instituído em 1965, o arcebispo de Seul, D. Peter Chung Soon-taick, veio apelar a um «compromisso renovado pela paz e pela reconciliação», sublinhando quão crucial é a importância de «não transmitir o legado do ódio às gerações futuras».

Na homilia da missa celebrada a 24 de Junho passado na Catedral de Myeongdong – para melhor assinalar essa data tão especial – D. Peter Chung afirmou: «Embora a actual relação entre as duas Coreias possa parecer sombria, nós, cristãos, devemos perseverar. É neste momento de crescente hostilidade que mais sentido fazem as nossas preces». Esta mensagem de esperança e de unidade confirma o compromisso contínuo do Comité para a Reconciliação do Povo Coreano da Arquidiocese de Seul, assim como do correspondente Comité Nacional para a Reconciliação, no seio da Conferência Episcopal coreana: um compromisso de natureza espiritual (foram celebradas até hoje mil 413 missas de reconciliação) e de natureza material, capaz de agir como agente pacificador, seguindo fielmente a lógica do Evangelho.

Precisamente, e evocando as Sagradas Escrituras, o prelado da capital sul-coreana lembrou que Jesus Cristo, «ele próprio», mostrou que a paz não pode ser alcançada, se nos comportarmos seguindo o princípio de “olho por olho; dente por dente”, mas sim se nos abrirmos ao diálogo. D. Peter Chung apelou aos fiéis, no final da homilia, para que imitassem «a misericórdia e a paciência ilimitadas de Deus», escolhendo assim o caminho da paz. Quanto à reputada resiliência do povo sul-coreano, recordou que quando este quis superar a pobreza, o desenvolvimento económico surgiu; quando nele «nasceu a esperança» de que poderia superar a ditadura, conquistada foi a democracia. E hoje, com a crescente e instável escalada militar a nível global, há que alimentar a mais importante de todas as esperanças: «a de vir a superar as divisões e as desconfianças».

No final do seu sermão, D. Peter Chung pediu a todos os coreanos, do Norte e do Sul, para «optarem sempre pelo caminho da paz, do perdão e da reconciliação e jamais os espinhosos trilhos do ódio e da amargura».

Desde 1965, a Igreja na Coreia do Sul celebra, a 25 de Junho, o Dia de Oração pela Reconciliação e Unidade do Povo Coreano – data que nos tempos que correm vem ganhando maior relevância dado que as relações entre a Coreia do Norte e a Coreia do Sul se encontram no seu nível mais baixo. Todos os canais de diálogo estão fechados e o acordo militar de 19 de Setembro de 2018, que se destinava a evitar confrontos acidentais, foi parcialmente suspenso pelo Governo de Seul. Este acordo visava reduzir as tensões ao longo da fronteira inter-coreana, eliminando minas antipessoal, postos de guarda, armas e militares em ambos os lados da fronteira, bem como o estabelecimento de zonas-tampão militares conjuntas.

«O que podemos nós fazer, agora que as relações entre as duas Coreias estão à beira do colapso?», questionou D. Simon Kim Jong-Gang, Presidente do Comité Nacional para a Reconciliação da Conferência Episcopal Coreana. «Hoje mais do que nunca», respondeu, «teremos de reflectir sobre se realmente tratámos os nossos irmãos da Coreia do Norte como “compatriotas” durante todos estes anos de divisão». Apelou depois a que se enverede por um novo caminho, sempre munidos de «um coração humilde e um espírito de conversão sincera». Pois a verdadeira unidade só pode ser alcançada se nos esforçarmos para mudar a nós mesmos, abordando e acolhendo os outros com compreensão.

Imbuídos desse espírito, os fiéis da Coreia do Sul iniciaram uma novena especial em preparação do Dia de Oração pela Reconciliação e Unidade do Povo Coreano, que incluiu também a realização de dois simpósios. Iniciada a 17 de Junho, a oração prolongou-se até ao dia 25, em todas as paróquias do País.

A 20 de Junho teve lugar no auditório do Complexo da Catedral de Seul um simpósio subordinado ao tema “A Igreja Católica e a Educação para a Paz”, no qual a professora Julia Kim Nam-hee, da Universidade Católica da Coreia, dissertou sobre “Educação Cívica Católica e Paz”, enquanto a académica Beatrice Seo-jeong Son falou sobre “Educação para Juventude e a Paz”.

Uma outra conferência organizada pela arquidiocese de Seul, intitulada “O Caminho dos Fiéis para a Paz na Península Coreana” está agendada para 25 de Julho próximo. O principal objectivo é dar a conhecer a expressa vontade dos leigos católicos em trabalhar para a melhoria das relações inter-coreanas. A respeito deste evento, disse Simon Kim Jong-Gang: «Estou deveras preocupado. A esperança de outrora – de que todos os conflitos podem ser resolvidos através do diálogo e da cooperação – hoje praticamente desapareceu. Por todo o lado só se ouvem os tambores da guerra e o uso da força militar mantem-se na vanguarda». Nesta situação extremamente difícil, «devemos pedir ajuda a Deus» e cabe aos leigos tomar a iniciativa para reiniciar o diálogo e a paz.

Joaquim Magalhães de Castro

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *