Milagre do Sol e fim da Guerra
Depois da Quinta Aparição, a 13 de Setembro de 1917, dá-se a última aparição da Virgem, na Cova da Iria, em Fátima. Neste dia, encerra-se o ciclo mariano de Fátima, que é constituído por seis aparições de Nossa Senhora, no ano de 1917. As outras cinco ocorreram nos dias 13 de Maio, Junho, Julho, Agosto e Setembro. O número de pessoas presente aumentou desde Maio, atingindo a 13 de Outubro entre cinquenta mil e setenta mil.
Antes, tivemos o ciclo angélico de Fátima. O ciclo angélico compreende as três aparições do Anjo de Portugal, na Primavera, no Verão e no Outono de 1916. Por isso se chama de angélico, sendo visto como uma preparação para as aparições de Nossa Senhora, no ano seguinte.
Nas aparições do ciclo mariano, a 13 de Maio de 1917, a Senhora pediu a Lúcia, Jacinta e Francisco (Pastorinhos) que comparecessem naquele exacto local, a Cova da Iria, nos cinco meses seguintes, sempre no dia 13, à mesma hora. Pediu-lhes ainda a recitação do Terço e que pedissem pela paz, pelo fim da guerra (Primeira Guerra Mundial, 1914-1918). Um mês depois, deu-se a Segunda Aparição, com os Pastorinhos acolitados por cerca de meia centena de pessoas, com a Virgem a reiterar os mesmos pedidos, além de os exortar a aprenderem a ler e escrever. Conhecem o seu destino os Pastorinhos: Lúcia uma vida longa e com a missão de irradiar a mensagem de Fátima; Francisco e Jacinta ficam a saber que terão uma vida curta. A devoção ao Imaculado Coração de Maria é anunciada.
A 13 de Julho, ocorre a Terceira Aparição, com milhares de pessoas presentes (entre duas mil e cinco mil), além dos Pastorinhos, a quem a Virgem reforça o pedido da récita do Terço pelo fim da guerra e pela paz, anunciando que em Outubro realizaria um milagre. Os Pastorinhos vêem o inferno nesta aparição, anunciando-lhes a Virgem que a guerra iria acabar, mas que se iniciará um novo conflito, ainda pior, no pontificado de Pio XI (1857-1939), se a Humanidade não deixasse de ofender a Deus. Trata-se da Segunda Guerra Mundial (1939-1945). A Virgem pediu que rezassem contra outras formas de autoritarismo que surgiriam.
Um mês depois, a 13 de Agosto, afluíram à Cova da Iria entre quinze mil e dezoito mil pessoas, mas os Pastorinhos não compareceram, pois tinham sido levados para Ourém, para detenção e interrogatórios, até ao dia 15. Por isso, a Quarta Aparição só teve lugar a 19 de Agosto, já com os Pastorinhos, mas tendo lugar nos Valinhos e com as três crianças apenas. A Virgem pediu que se rezasse pelos pecadores e exorta a que se erija uma capela com parte dos donativos deixados na Cova da Iria. A Quinta Aparição teve lugar, como vimos, a 13 de Setembro, perante quinze mil a vinte mil pessoas, registando-se um empalidecer do Sol, um abaixamento de temperatura e com as estrelas da noite quase visíveis, segundo os relatos, além de um chuvisco “diferente”. A Virgem reforçou o pedido de oração do Terço e anunciou que em Outubro apareceriam também Nosso Senhor, Nossa Senhora das Dores e do Carmo, e São José com o Menino Jesus, para abençoarem o Mundo.
O epílogo do ciclo mariano tem então lugar na Cova da Iria, a 13 de Outubro, com os Três Pastorinhos e uma multidão, que pode ter chegado às setenta mil pessoas, a tomarem parte da sexta e última aparição de Nossa Senhora, que se deu a conhecer então como “a Senhora do Rosário”, além de anunciar o fim da guerra em curso (Primeira Guerra Mundial, 1914-1918). De acordo com Lúcia, surgiram ao lado do Sol, São José com o Menino Jesus, Salvador do Mundo (a abençoar), além da Virgem, vestida de branco com manto azul. Depois, quando esta aparição “desaparece”, surgem Jesus Cristo a abençoar, Nossa Senhora das Dores e, depois, Nossa Senhora do Carmo.
O milagre prometido cumpriu-se na forma do chamado “Milagre do Sol”, com o astro-rei a irromper no céu depois de copiosa chuva que se abatera sobre a Cova da Iria. O ziguezague do Sol – segundo muitos, idêntico a um disco de prata –, girando sobre si mesmo como um círculo de fogo, impressionou os milhares de presentes, muitos alegando ter visto o fenómeno matizado de luzes multicolores, além da sensação de que iria (o Sol) despencar-se sobre o solo. O fenómeno terá durado uns dez minutos, garantiram as testemunhas. Curas milagrosas foram também relatadas, na ocasião. Nossa Senhora reiterou o pedido de que ali se erigisse uma capela com o seu orago. A comoção entre os presentes foi imensa, estoicamente ali presentes no meio de chuvas torrenciais e lamaçais. Na multidão pontificavam gentes de todos os “grupos sociais”, letrados e iletrados, muitos com grande credibilidade na sociedade portuguesa coeva.
A Imprensa da época, já agora, relatou o sucedido, pois foram vários os diversos jornalistas que ali se deslocaram e que foram também eles, testemunhas do acontecimento, que foi visível, de acordo com as notícias, a vários quilómetros da Cova da Iria. Encerrava-se assim o ciclo das aparições da Virgem Maria em Fátima, onde viria a ser erigida a chamada Capela das Aparições de Nossa Senhora do Rosário de Fátima.
Vítor Teixeira
Universidade Fernando Pessoa