11º DOMINGO COMUM – Ano A – 18 de Junho Vocação: onde a nossa alegria profunda e a fome profunda do mundo se encontram «Ao ver as multidões, Jesus sentiu grande compaixão pelas pessoas, pois que estavam aflitas e desamparadas como ovelhas que não têm pastor. Então, falou aos seus discípulos: “De facto a colheita é abundante, mas os trabalhadores são poucos”» (Mt., 9, 36-38). A nossa diocese está a embrenhar-se no Ano Diocesano das Vocações, sendo que a próxima Jornada Mundial da Juventude em Lisboa, a decorrer no início de Agosto, será uma oportunidade para os jovens de todo o mundo reflectirem seriamente sobre o seu propósito de vida. O Evangelho deste Domingo (Mateus 9,36-10,8) oferece bons pontos de reflexão, não só para os jovens em busca da sua vocação, mas também para nós, adultos, verificarmos se ainda estamos a responder ao chamamento de Deus. Toda a vocação é o resultado da convergência de três factores. O primeiro é o sonho de Deus para nós, como indivíduos e como família humana. Deus deseja que cada pessoa viva a sua vida ao máximo e use significativamente os dons e recursos únicos que Ele nos deu. Desistimos facilmente dos nossos sonhos e esperanças, mas Deus não. Apesar das nossas muitas adversidades, Ele trabalha incansavelmente para que todos tenham vida, e a tenham em abundância (cf. Jo., 10, 10). O segundo factor também é importante: os desejos mais profundos dos nossos corações. O chamamento de Deus não pode ser uma imposição externa que vai contra o nosso verdadeiro eu, os nossos anseios mais profundos ou a nossa liberdade. Ao contrário, ao nos chamar para um determinado modo de vida, Deus traça para nós o melhor caminho possível para a auto-realização, que inclui desafios e provações necessárias para o nosso crescimento. Deus chama-nos atraindo-nos, e não obrigando-nos. O terceiro factor é provavelmente o mais negligenciado, mas é essencial: as necessidades do mundo e da Igreja. Vocação e missão andam de mãos dadas. Deus chama-nos não apenas para satisfazer o nosso desejo individual de realização, mas especificamente para atender às necessidades prementes da Humanidade. Frederick Buechner diz que “o lugar para o qual Deus nos chama é onde a nossa alegria profunda e a fome profunda do mundo se encontram”. Quão verdadeiro. A pandemia ensinou-nos que estamos todos interligados e que não podemos planear a nossa vida de forma isolada, desconectados da realidade do mundo inteiro. A vocação de Deus surge nas circunstâncias concretas da nossa realidade e exige o nosso envolvimento pessoal e total. A letra de uma música moderna diz: “Acordei esta manhã / Vi um mundo cheio de problemas / Pensei como chegámos tão fundo / Como isso vai mudar / Então voltei os meus olhos para o céu / Pensei: ‘Deus, por que não fazes alguma coisa?’ / Bem, eu simplesmente não conseguia suportar a ideia de pessoas a viver na pobreza / Crianças vendidas como escravas / O pensamento enojava-me / Então, lancei o meu punho para o céu / Disse: ‘Deus, por que não fazes alguma coisa?’ / Deus disse: ‘Eu fiz, eu criei-o a si’” (Mathew West, “Faça alguma coisa”). Quando assistimos ao noticiário e ouvimos falar sobre os problemas da Igreja, ao invés de nos sentirmos deprimidos, impotentes ou simplesmente críticos, devemos, tal como Jesus, sentir compaixão e chamados à acção de modo positivo e construtivo: “A colheita é grande!”. A vida de muitos santos ensina-nos que, por mais complexa que seja a realidade do mundo, quando chamados por Deus trabalhamos activamente pelo bem dos outros, e ao mesmo tempo encontramos sentido e direcção para nós mesmos. Portanto, na lista dos Doze Apóstolos chamados por Jesus, que será lida no Evangelho deste Domingo, o leitor também pode acrescentar o seu nome. Apóstolo em Grego significa “enviado”. Cremos que a Igreja é apostólica não só porque se fundamenta nos Apóstolos, mas porque cada baptizado é “enviado” para levar a boa nova do Evangelho a um mundo sedento de cura, de consolação, de misericórdia e do perdão de Deus. Precisamos muito de rezar para poder responder com generosidade ao seu chamamento. “Jesus caminha no meio de nós, como fazia na Galileia”, escreveu o Papa Francisco aos jovens. “Jesus caminha no meio de nós, como fazia na Galileia. Passa pelas nossas estradas, detém-Se e fixa-nos nos olhos, sem pressa. A sua chamada é atraente, fascinante. Mas, hoje, a ansiedade e a velocidade de tantos estímulos que nos bombardeiam fazem com que não haja lugar para aquele silêncio interior onde se percebe o olhar de Jesus e se ouve a sua chamada. Entretanto receberás muitas propostas bem confeccionadas, que parecem belas e intensas, mas com o passar do tempo, deixar-te-ão simplesmente vazio, cansado e sozinho. Não deixes que isto te aconteça, porque o turbilhão deste mundo arrasta-te numa corrida sem sentido, sem orientação, nem objectivos claros, e deste modo se malograrão muitos dos teus esforços. Procura, antes, aqueles espaços de calma e silêncio que te permitam reflectir, rezar, ver melhor o mundo ao teu redor e então sim, juntamente com Jesus, poderás reconhecer qual é a tua vocação nesta terra” (Christus Vivit, 277). Pe. Paolo Consonni, MCCJ

11º DOMINGO COMUM – Ano A – 18 de Junho

Vocação: onde a nossa alegria profunda e a fome profunda do mundo se encontram

«Ao ver as multidões, Jesus sentiu grande compaixão pelas pessoas, pois que estavam aflitas e desamparadas como ovelhas que não têm pastor. Então, falou aos seus discípulos: “De facto a colheita é abundante, mas os trabalhadores são poucos”» (Mt., 9, 36-38).

A nossa diocese está a embrenhar-se no Ano Diocesano das Vocações, sendo que a próxima Jornada Mundial da Juventude em Lisboa, a decorrer no início de Agosto, será uma oportunidade para os jovens de todo o mundo reflectirem seriamente sobre o seu propósito de vida. O Evangelho deste Domingo (Mateus 9,36-10,8) oferece bons pontos de reflexão, não só para os jovens em busca da sua vocação, mas também para nós, adultos, verificarmos se ainda estamos a responder ao chamamento de Deus.

Toda a vocação é o resultado da convergência de três factores. O primeiro é o sonho de Deus para nós, como indivíduos e como família humana. Deus deseja que cada pessoa viva a sua vida ao máximo e use significativamente os dons e recursos únicos que Ele nos deu. Desistimos facilmente dos nossos sonhos e esperanças, mas Deus não. Apesar das nossas muitas adversidades, Ele trabalha incansavelmente para que todos tenham vida, e a tenham em abundância (cf. Jo., 10, 10).

O segundo factor também é importante: os desejos mais profundos dos nossos corações. O chamamento de Deus não pode ser uma imposição externa que vai contra o nosso verdadeiro eu, os nossos anseios mais profundos ou a nossa liberdade. Ao contrário, ao nos chamar para um determinado modo de vida, Deus traça para nós o melhor caminho possível para a auto-realização, que inclui desafios e provações necessárias para o nosso crescimento. Deus chama-nos atraindo-nos, e não obrigando-nos.

O terceiro factor é provavelmente o mais negligenciado, mas é essencial: as necessidades do mundo e da Igreja. Vocação e missão andam de mãos dadas. Deus chama-nos não apenas para satisfazer o nosso desejo individual de realização, mas especificamente para atender às necessidades prementes da Humanidade. Frederick Buechner diz que “o lugar para o qual Deus nos chama é onde a nossa alegria profunda e a fome profunda do mundo se encontram”. Quão verdadeiro. A pandemia ensinou-nos que estamos todos interligados e que não podemos planear a nossa vida de forma isolada, desconectados da realidade do mundo inteiro.

A vocação de Deus surge nas circunstâncias concretas da nossa realidade e exige o nosso envolvimento pessoal e total. A letra de uma música moderna diz: “Acordei esta manhã / Vi um mundo cheio de problemas / Pensei como chegámos tão fundo / Como isso vai mudar / Então voltei os meus olhos para o céu / Pensei: ‘Deus, por que não fazes alguma coisa?’ / Bem, eu simplesmente não conseguia suportar a ideia de pessoas a viver na pobreza / Crianças vendidas como escravas / O pensamento enojava-me / Então, lancei o meu punho para o céu / Disse: ‘Deus, por que não fazes alguma coisa?’ / Deus disse: ‘Eu fiz, eu criei-o a si’” (Mathew West, “Faça alguma coisa”).

Quando assistimos ao noticiário e ouvimos falar sobre os problemas da Igreja, ao invés de nos sentirmos deprimidos, impotentes ou simplesmente críticos, devemos, tal como Jesus, sentir compaixão e chamados à acção de modo positivo e construtivo: “A colheita é grande!”. A vida de muitos santos ensina-nos que, por mais complexa que seja a realidade do mundo, quando chamados por Deus trabalhamos activamente pelo bem dos outros, e ao mesmo tempo encontramos sentido e direcção para nós mesmos.

Portanto, na lista dos Doze Apóstolos chamados por Jesus, que será lida no Evangelho deste Domingo, o leitor também pode acrescentar o seu nome. Apóstolo em Grego significa “enviado”. Cremos que a Igreja é apostólica não só porque se fundamenta nos Apóstolos, mas porque cada baptizado é “enviado” para levar a boa nova do Evangelho a um mundo sedento de cura, de consolação, de misericórdia e do perdão de Deus. Precisamos muito de rezar para poder responder com generosidade ao seu chamamento.

“Jesus caminha no meio de nós, como fazia na Galileia”, escreveu o Papa Francisco aos jovens. “Jesus caminha no meio de nós, como fazia na Galileia. Passa pelas nossas estradas, detém-Se e fixa-nos nos olhos, sem pressa. A sua chamada é atraente, fascinante. Mas, hoje, a ansiedade e a velocidade de tantos estímulos que nos bombardeiam fazem com que não haja lugar para aquele silêncio interior onde se percebe o olhar de Jesus e se ouve a sua chamada. Entretanto receberás muitas propostas bem confeccionadas, que parecem belas e intensas, mas com o passar do tempo, deixar-te-ão simplesmente vazio, cansado e sozinho. Não deixes que isto te aconteça, porque o turbilhão deste mundo arrasta-te numa corrida sem sentido, sem orientação, nem objectivos claros, e deste modo se malograrão muitos dos teus esforços. Procura, antes, aqueles espaços de calma e silêncio que te permitam reflectir, rezar, ver melhor o mundo ao teu redor e então sim, juntamente com Jesus, poderás reconhecer qual é a tua vocação nesta terra” (Christus Vivit, 277).

Pe. Paolo Consonni, MCCJ

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