O precursor do Messias
João, o Baptista, é o único santo de quem se celebra a Festa no dia do seu nascimento, a 24 de Junho. Terá nascido seis meses antes de Jesus Cristo, seu primo. João Baptista (Século I a.C. – 30 d.C.) foi um pregador judeu activo na área do rio Jordão no início do Século I da era cristã. É também denominado como João, o Precursor, na Ortodoxia Oriental, ou João, o Imersor (porque baptizava em imersão), em algumas tradições cristãs baptistas, ou mesmo de Profeta (Nabi) Yahya no Islão.
O primeiro capítulo do Evangelho de São Lucas revela-nos algo do nascimento de João. Narra-se ali que Zacarias era um sacerdote judeu do Templo, casado com Isabel, que era prima de Maria, futura Mãe de Jesus. Zacarias e Isabel eram mais velhos que a prima, não tendo tido filhos, porque ela, supostamente, era estéril. Zacarias, já velho, estava um dia no Templo, quando um anjo lhe apareceu de pé à direita do altar. Zacarias ficou atemorizado, mas o anjo disse: “Não tenhas medo, Zacarias, pois vim dizer-te que tu verás o Messias, e que a tua mulher vai ter um filho, que será o seu precursor, a quem chamarás João. Não beberá vinho nem nada que vos embriague, e desde o ventre da sua mãe que estará pleno do Espírito Santo, além de que converterá muitos a Deus”.
“Como posso ter a certeza de que isso é verdade, visto que a minha mulher já é velha e eu também?”, perguntou Zacarias, descrente. Respondeu-lhe o anjo: “Eu sou [arcanjo] Gabriel, que está sentado junto ao trono de Deus, tendo sido por Ele enviado para te trazer esta notícia. Mas porque não acreditaste nas minhas palavras, ficarás mudo e não voltarás a falar até que tudo se cumpra”. Seis meses depois, o mesmo anjo apareceu à Santíssima Virgem informando-a de que ela seria a Mãe do Filho de Deus, tendo-lhe dado também a notícia da gravidez da sua prima Isabel.
Maria, cheia de entusiasmo e alegria, logo correu para casa da prima, para a ajudar. Mal cumprimentou a prima, João pulou de alegria no ventre de Isabel, pois acabara de receber a graça do Espírito Santo no contacto com o Filho de Deus, que estava no ventre da Virgem. Também Isabel se sentiu plena do Espírito Santo e, com espírito profético, exclamou: “Bendita és tu entre todas as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre. De onde me vem tamanha alegria que a Mãe do meu Senhor me venha ver, pois no instante em que a voz da tua saudação chegou aos meus ouvidos, a criatura no meu ventre começou a pular de alegria”. Maria depois terá estado em casa da prima durante os três meses finais da gravidez de Isabel, até João nascer.
Depois, não sabemos mais de João até Jesus o encontrar junto ao rio Jordão. Talvez tenha ficado órfão em criança, dada a velhice dos pais, mas é provável que tenha ficado sozinho aos 18-19 anos, tendo rumado ao deserto, onde cresceu na natureza e em contacto com Deus, em penitência e oração. Já vivia em Hebron, depois da morte do pai, ficando a cuidar da mãe, que morreu depois. O historiador judeu-romano Flávio Josefo menciona João, que reverencia como importante figura religiosa.
Alguns estudiosos sustentam que João pertencia aos Essénios do mar Morto, uma dissidência judaica, semi-ascética e eremítica, que esperava o Messias de forma afastada do mundo e em contemplação e estudo, em exegese dos textos antigos, praticando o baptismo ritual. Recordemos que João usou o baptismo como o símbolo central ou sacramento do seu movimento pré-messiânico, além de ter sido através dele que encontrou Jesus. A maioria dos estudiosos da Bíblia concorda que João poderá, de facto, ter baptizado Jesus no rio Jordão. Presume-se também, a partir da exegese de alguns relatos do Novo Testamento, que alguns dos primeiros seguidores de Jesus possam ter sido seguidores de João.
De acordo com o Novo Testamento, João terá sido condenado à morte (Mateus 14, 1-12; Marcos 6, 14-29; Lucas 9, 7-9) e posteriormente decapitado por Herodes Antipas, por volta de 30 d.C., na sequência da reprimenda de João àquele por se ter divorciado da sua esposa Fasélia e se ter caso depois, ilegalmente, com Herodias, esposa do seu irmão Herodes Filipe I. Flávio Josefo, que menciona João no seu livro “Antiguidades Judaicas”, afirma que foi executado por ordem de Herodes Antipas na fortaleza de Machaerus.
Vítor Teixeira
Universidade Fernando Pessoa