O que aprendemos sobre a oração de nossa Mãe Santíssima?
Vimos vários modelos de oração no Antigo Testamento. Passemos agora ao Novo Testamento. Um dos primeiros modelos que encontramos é a Bem-Aventurada Virgem Maria, que nos ensina algumas lições importantes sobre a oração. Tomemos três exemplos.
AVISO –Quando o anjo apareceu a Maria e lhe anunciou a proposta de Deus, ela perguntou: «Como acontecerá isso, pois jamais tive relação com homem algum?» (Lc., 1, 34). Nossa Senhora não duvida sobre o que o Arcanjo Gabriel anunciou, mas pergunta como tal irá acontecer.
Com a sua pergunta, Nossa Senhora mostra-nos que se fosse para obedecer teria de saber como o fazer; o que o seu papel lhe exigia. Ela ensina-nos que a obediência é gratuita e que a liberdade requer conhecimento do que se está a fazer.
Depois do anjo lhe ter explicado que seria pelo poder do Espírito Santo (cf. Lc., 1, 35), Maria prontamente respondeu: «Eis aqui a serva do Senhor; que se realize em mim tudo conforme a tua palavra!» – “Fiat mihi secundum verbum tuum” (Lc., 1, 38). Sem hesitação, sem “se”, nem “mas”. “A partir de agora, o meu futuro está nas mãos de Deus. De agora em diante, vou deixá-lo dar as ordens”.
O Catecismo da Igreja Católica observa, no ponto 2617: “Aquela que o Todo-Poderoso fez ‘cheia de graça’ responde pelo oferecimento de todo o seu ser: «Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra» (Lc., 1, 38). ‘Faça-se’ é a oração cristã: ser todo para Ele, já que Ele é todo para nós”. É a oração que Nossa Senhora renovou todos os dias no resto da sua vida. Foi a oração que a fez sentir-se bem-aventurada (cf. Lc., 1, 48).
Nós, por outro lado, nem sempre estamos prontos para aceitar e abraçar o que Deus nos pede. Insistimos no nosso caminho. É por isso que achamos tão difícil alcançar a paz e a alegria.
VISITAÇÃO –Quando Maria visitou Isabel, a sua prima disse: Mas, qual o motivo desta graça maravilhosa, que me venha visitar a mãe do meu Senhor? (Lc., 1, 43). Por inspiração divina, ela reconheceu que Maria era realmente a Mãe de Deus! Maria não atribui esta honra a si mesma, mas à bondade e à misericórdia de Deus. «Então declarou Maria: “Engrandece minha alma ao Senhor, e o meu espírito se regozija em Deus, meu Salvador, pois contemplou a insignificância da sua serva. Mas, de hoje em diante, todas as gerações me chamarão bem-aventurada, porque o Poderoso realizou maravilhas a meu favor; Santo é o seu Nome!”» (Lc., 1, 46-49).
Nossa Senhora ensina-nos a humildade na oração. A humildade é saber enfrentar e aceitar a verdade sobre nós mesmos: a verdade de que, por um lado, não somos nada e, por outro, fomos amados «com amor eterno» (Jeremias 31, 3).
CANÁ –«Tendo acabado o vinho, a mãe de Jesus lhe disse: “Eles não têm mais vinho”» (Jo., 2, 3). Breve, mas eficaz. Porque contém os elementos de uma oração ideal.
“Eles não têm mais vinho”. Nossa Senhora simplesmente expõe o problema. Ela não diz a Jesus qual deve ser a solução. A sua oração é uma oração humilde. A sua oração é uma oração simples. A sua oração é cheia de fé. A sua oração é cheia de esperança.
Ela sabe e acredita que Jesus é Deus, que Deus é todo-sábio, todo-bom e todo-poderoso, então ela não dita a maneira como o problema deve ser resolvido. Deus sabe-o melhor. Isto é muito diferente da maneira como oramos, quando dizemos a Deus o que queremos que Ele faça, quando Lhe damos instruções específicas sobre como administrar os nossos assuntos.
Cheia de confiança na sabedoria, bondade e poder de Jesus, Maria instrui os servos: «Seja o que for que Ele vos pedir, fazei» (Jo., 2, 5). Em questão de minutos, os convidados do casamento estão a saborear o melhor vinho que alguma vez provaram. Deus realmente faz as coisas, “mais cedo, mais e melhor” (São Josemaría Escrivá).
Pe. José Mario Mandía