Significado, Etimologia, Arte
Há algum tempo, o Papa Francisco fez um apelo à unidade da Igreja, no contexto do processo sinodal que termina neste ano de 2024, efectuando para tal uma segunda sessão (extraordinária) da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos. Este processo sinodal é, segundo Francisco, como que um convite para se caminhar juntos, «porque o Espírito, como fez no Pentecostes, gosta de descer enquanto estamos todos juntos». Todos juntos a receber o Espírito Santo, como os Apóstolos. Ide, pois, e ensinai, em unidade, por todo o mundo, o Evangelho. Há três anos, reviveu-se esse espírito de unidade fraterna e de caminho em conjunto, quando as paróquias da Sé e do Carmo, num abraço de todo o território da RAEM, se juntaram para celebrar o Pentecostes.
O que é afinal o Pentecostes? Trata-se de uma celebração religiosa cristã que comemora a descida do Espírito Santo sobre os apóstolos de Jesus Cristo, cinquenta dias depois do Domingo de Páscoa, tendo lugar no décimo dia depois da celebração da Ascensão de Jesus. Assim é porque Cristo ficou quarenta dias, depois da Sua ressurreição, no mundo, entre nós, a proferir os últimos ensinamentos aos seus discípulos. Segundo os Actos dos Apóstolos 2, durante o Pentecostes, os discípulos estavam reunidos em Jerusalém quando o Espírito Santo desceu sobre eles, em forma de línguas de fogo. A narrativa bíblica descreve esse evento como o início da missão dos discípulos de espalhar a mensagem de Jesus pelo mundo.
Do ponto de vista etimológico, o termo “Pentecostes” deriva de “Pentekoste hemera”, que significa, em Grego, o “dia quinquagésimo”. Os judeus chamavam “Pentecostes” ou “Festa das Semanas” à festa da recolecção agrícola (cf. Ex., 23, 14), festividade que seria depois unida à festa da recordação da aliança com Javé no Sinai, cinquenta dias após a saída do Egipto (2Cr., 15, 10-13).
Um dos significados de “Pentecostes” na Septuaginta, a tradução “Koiné” (Grego “corrente”) da Bíblia Hebraica, refere-se ao Festival de Shavuot, um dos Três Festivais de Peregrinação entre os Judeus, que é celebrado no quinquagésimo dia após a Páscoa, de acordo com Deuteronómio 16, 10, e Êxodo 34, 22, onde é referido como o “Festival das Semanas” (“Koinē” grego: ἑορτὴν ἑβδομάδων; romanizado: heortēn hebdomádōn). A Septuaginta usa o termo “Pentēkostē” neste contexto no Livro de Tobias e 2 Macabeus.
Os cristãos não demoraram muito a conferir este nome tanto à Cinquentena Pascal (as sete semanas de prolongamento da Páscoa) como ao último dia, o quinquagésimo, em que se celebra, portanto, a vinda do Espírito Santo sobre a comunidade dos apóstolos reunidos no Cenáculo em Jerusalém, cinquenta dias após a Ressurreição de Jesus (Act., 2, 1). O dia do Pentecostes tem vindo, em muitas comunidades, a converter-se na “Festa do Espírito Santo”, a que se acrescentou mesmo, durante muito tempo, uma oitava, como nas grandes Festas. A reforma do calendário corrigiu essa tendência, suprimindo a dita oitava. O Pentecostes passou, assim, a ser a Festa de conclusão da Páscoa. É, em suma, uma Solenidade no Rito Romano da Igreja Católica. Como a sua data depende da data da Páscoa, o Pentecostes é uma “festa móvel”.
O Pentecostes, que também é denominado de Domingo de Pentecostes, é um feriado cristão, em muitos países. Embora a Igreja Católica acredite que o Espírito Santo desceu sobre Maria, essa crença não tem qualquer narrativa no Novo Testamento.
Também nas Igrejas orientais, particularmente na Ortodoxa, o Pentecostes é uma das Grandes Festas, como é um Festival nas Igrejas Luteranas e uma Festa Principal na Comunhão Anglicana.
O Pentecostes é uma Solenidade que inspirou muitos artistas. São muitas as obras de arte que evocam a descida do Espírito Santo no Cenáculo. Congregam os Apóstolos, em torno de Maria, normalmente sentados ou por vezes em pé, debaixo de línguas de fogo que sobre cada um descem. Por vezes, a ideia de um sopro de vento ocorre, como se fosse o Espírito que por todos passa. Os ícones, no seu brilho e sacralidade, conferem uma cenografia de grande impacto visual, emotivo por vezes, mas sempre como um evento transcendental. Em grupo, juntos, recebe-se o Espírito. Também em Macau é assim!
Vítor Teixeira
Universidade Fernando Pessoa