SOLENIDADE DE PENTECOSTES – Ano B – 19 de Maio

SOLENIDADE DE PENTECOSTES – Ano B – 19 de Maio

Vem, Espírito Santo, como chuva suave e refrescante

«Eu ainda tenho muitas verdades que desejo vos dizer, mas seria demais para o vosso entendimento neste momento. No entanto, quando o Espírito da verdade vier, Ele vos guiará em toda a verdade» (Jo., 16,12-13)

No momento em que escrevo este artigo está a chover torrencialmente lá fora. Não é de estranhar, pois o mês de Maio marca o pico da estação das chuvas em Macau.

Felizmente, até agora, não tivemos inundações prejudiciais como noutros locais. Para além dos inconvenientes de me molhar, de andar com um guarda-chuva e de enfrentar o trânsito intenso, fiquei bastante satisfeito com a chuva. Há vários meses que não chovia convenientemente e eu sentia que a cidade estava constantemente coberta de pó, em parte devido aos numerosos estaleiros de construção espalhados pela urbe, que faziam com que a poluição do ar atingisse níveis insalubres. A chuva das últimas semanas limpou todo este pó. As folhas das árvores, que durante os meses de Inverno se tornaram pálidas e secas, recuperaram a sua cor verde brilhante, tão típica da vegetação do Sul da China.

Neste Domingo, celebramos a Solenidade de Pentecostes, que é o “derramamento” abundante e penetrante do Espírito Santo sobre a Igreja. Associamos mais frequentemente o Espírito Santo ao vento e ao fogo, devido à descrição do primeiro Pentecostes, tal como é descrito nos Actos dos Apóstolos (ler Actos 2, 1-11). Mas não devemos esquecer que também a água é um dos símbolos do Espírito. O Catecismo da Igreja Católica explica: “O simbolismo da água é significativo da acção do Espírito Santo no Baptismo, pois que, após a invocação do Espírito Santo, ela torna-se o sinal sacramental eficaz do novo nascimento. Do mesmo modo que a gestação do nosso primeiro nascimento se operou na água, assim a água baptismal significa realmente que o nosso nascimento para a vida divina nos é dado no Espírito Santo. Mas, «baptizados num só Espírito», «a todos nos foi dado beber de um único Espírito» (1 Cor., 12, 13): portanto, o Espírito é também pessoalmente a Água viva que brota de Cristo crucificado como da sua fonte, e jorra em nós para a vida eterna” (CIC nº 694).

Mais especificamente, a chuva é uma forma maravilhosa de descrever a acção do Espírito Santo em nós. Na liturgia de Pentecostes, a sequência que precede o Evangelho “Veni, Sancte Spiritus” (“Vinde, Espírito Santo”) invoca: “Lava quod est sordidum, riga quod est aridum…”, ou seja, “limpa o que está impuro, rega o que está ressequido”. Descobri que rezar junto com a chuva que cai é uma bela maneira de invocar o Espírito Santo.

Para ser útil à vegetação, a chuva deve poder penetrar em profundidade no solo. Uma chuva suave, constante e prolongada é mais útil do que uma chuva súbita e forte que pode causar inundações. Infelizmente, nos últimos anos, devido às alterações climáticas, em muitas partes do globo a chuva suave tornou-se mais rara, ao passo que as chuvas fortes são mais frequentes. Para além do risco de inundações, as chuvas fortes arrastam o precioso solo fértil e os agricultores têm de utilizar mais fertilizantes para cultivar, aumentando a poluição química nos rios e noutras fontes de água.

A acção do Espírito Santo na nossa vida espiritual pode ser descrita tanto como uma efusão generosa, como no dia de Pentecostes, para significar o poder e a abundância dos Seus Dons, mas também como uma chuva suave e duradoura que penetra lentamente no fundo das nossas almas. Ao mesmo tempo que agradecemos ao Senhor a sensação emocionante e fortalecedora de sermos cheios do Espírito Santo, que é uma Graça a ser pedida especialmente em tempos de dificuldades, quando precisamos de um avanço, ao mesmo tempo invocamos o Espírito Santo para permear suavemente todas as diferentes camadas da nossa existência.

De facto, é preciso tempo para “absorver” a mensagem transformadora do Evangelho e para compreender as implicações que ela traz para a nossa vida. É preciso tempo para conformar as nossas escolhas e atitudes com a verdade sobre Deus, sobre nós próprios e sobre o mundo que descobrimos ao seguir Jesus como Seus discípulos. É preciso tempo para ler toda a nossa história, com as suas luzes e sombras, à luz do Mistério Pascal de Cristo, e ver na alternância de alegrias e tristezas, pecado e redenção, sucessos e fracassos, feridas e curas, o desenrolar do plano de amor de Deus para nós e para a Humanidade, que nos conduzirá a um destino de total felicidade e realização no Reino de Deus.

A transformação espiritual não consiste numa decisão ou numa única experiência especial, por mais poderosa que seja. Vem da disponibilidade de ser conduzido pelo Espírito Santo a uma maior profundidade de compromisso com a verdade e a uma intimidade mais profunda com Cristo, especialmente na oração. Se estivermos suficientemente abertos e pacientes, gota-a-gota, o Espírito Santo infiltrar-se-á profundamente nas camadas mais profundas e por vezes ocultas do nosso coração, onde mais precisamos da Sua luz, da Sua força e do Seu Amor para nos tornarmos mais semelhantes a Cristo.

Pe. Paolo Consonni, MCCJ

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