PERSONALIDADES DA COMUNIDADE DE LÍNGUA PORTUGUESA OUVIDAS PEL’O CLARIM

PERSONALIDADES DA COMUNIDADE DE LÍNGUA PORTUGUESA OUVIDAS PEL’O CLARIM

Ordenações são fonte de júbilo e de conforto para católicos locais

A igreja da Sé Catedral foi pequena para as centenas de pessoas que participaram na ordenação sacerdotal dos diáconos Bosco Chan e Adriano Serro Agostinho, um momento que para a comunidade católica de Macau – e, em particular, para os católicos de língua portuguesa – é sinónimo de esperança e de conforto.

O contributo que vier a ser dado pelos dois novos sacerdotes para a revitalização e o rejuvenescimento da Igreja Católica é visto como «inestimável» pelos fiéis ouvidos pel’O CLARIM.

Antiga presidente da Assembleia Legislativa, Anabela Ritchie não esconde a alegria pelo facto de no espaço de menos de um ano a diocese de Macau se ter reforçado com quatro novos sacerdotes que falam e rezam em Português. «No espaço de um ano, ganhámos quatro padres falantes de Português: o padre José Marques e o padre Sheldon d’Souza, e agora o padre Bosco e o padre Adriano. No âmbito da comunidade é algo que nos enche de alegria. As pessoas da comunidade, e falando estritamente na comunidade macaense, também falam Chinês, mas nós estamos habituados a ir à igreja e a rezar em Português. É muito reconfortante saber que podemos agora contar com mais quatro padres falantes de Português», assumiu a antiga deputada.

«A questão da língua é muito importante para nós. Durante muito tempo ouvia as pessoas dizerem que estávamos, em Macau, a ficar sem padres que falem Português e com as ordenações dos padres Bosco e Adriano ficamos mais reconfortados, mais descansados, relativamente à possibilidade de termos com alguma facilidade, quem nos apoie falando Português», acrescentou.

A proficiência linguística dos novos sacerdotes e o facto de estarem capacitados para servirem as principais comunidades católicas do território, argumenta Óscar Noruega, é um trunfo que não deve ser subestimado. Membro do coro que acompanha as celebrações litúrgicas em língua portuguesa na Catedral da Natividade de Nossa Senhora, Noruega, nascido na antiga Índia Portuguesa, defende que o compromisso assumido perante Deus pelos padres Bosco Chan e Adriano Agostinho honra e enriquece a diocese de Macau. «Fica inegavelmente mais rica, não tenho qualquer dúvida. Se olharmos para a Europa, o que vemos é muitas igrejas a fechar. E fecham tanto por falta de crentes, como por falta de padres. Uma ordenação é sempre uma mais-valia. Poder contar com dois jovens como os novos padres Adriano e Bosco, que decidiram dedicar a sua vida a Deus, é algo que todos recebemos com grande alegria», vinca. «O que estes dois jovens sacerdotes trazem à diocese de Macau é uma grande flexibilidade. O padre Adriano tanto pode rezar a Missa em Português, como em Inglês ou em Cantonense. O padre Bosco fala Inglês, fala Cantonense e fala Mandarim fluentemente, e se continuar a falar Português como falou durante a cerimónia de ordenação, dentro de pouco tempo vai começar a celebrar a Missa em Português. Dominando como dominam todas estas línguas, qualquer um destes dois jovens tem competências para chegar longe», antevê Óscar Noruega.

CONFORTO, ALEGRIA E PRESTÍGIO

Para uma comunidade tradicionalmente católica e profundamente devota como é a macaense, é prestigiante contar novamente com um sacerdote entre as suas fileiras. O veredicto é de Miguel de Senna Fernandes. O presidente da Associação dos Macaenses defende que a ordenação dos padres Bosco Chan e Adriano Agostinho é razão de júbilo para a comunidade católica local, mas não dissimula o orgulho por ver um jovem macaense elevado à dignidade sacerdotal. «Uma ordenação sacerdotal é sempre importante para a comunidade católica. No caso da comunidade macaense, que é uma comunidade profundamente católica, as duas ordenações são muito importantes, mas é algo positivo quando alguém que é parte das “nossas gentes” é elevado à dignidade sacerdotal. Ainda que a comunidade esteja cada vez mais pequena e cada vez mais diluída, é notável que um membro da comunidade tenha optado pela via do Sacerdócio. O padre Adriano é bilíngue, ou até trilingue, e este aspecto é também importantíssimo para o papel da Igreja na divulgação da Palavra de Deus», refere o dirigente associativo. «É claro que prestigia a comunidade. Sendo a comunidade cada vez mais pequena, esta ordenação vem dar importância à comunidade e a própria comunidade não ficou indiferente à opção tomada pelo padre Adriano. Recebeu-o e manifestou o seu apoio, como se viu, de resto, pela grande adesão à cerimónia de ordenação. Pessoalmente, sinto-me muito orgulhoso por tudo isto», admitiu Miguel de Senna Fernandes.

Se o presidente da Associação dos Macaenses assumiu o orgulho pela ordenação do padre Adriano Agostinho, Anabela Ritchie preferiu sublinhar a posição de conforto em que a ordenação do jovem presbítero deixa a comunidade macaense. Neste contexto, não poupou elogios ao trabalho desenvolvido pela diocese de Macau no fomento de novas vocações. «Eu não falo em prestígio. Não se trata de uma questão de prestígio. É uma questão de conforto, de alegria e de saber que nós – que necessitávamos de padres portugueses, de padres falantes de Português – estamos a tê-lo. Oxalá as vocações continuem a aparecer», explicou. «Nos últimos anos, na [paróquia da Sé] tem sido feito um trabalho estupendo de acompanhamento, e são cada vez mais os jovens e também adultos que têm aderido à Igreja, por meio da Sé. As pessoas que prestam serviço à comunidade portuguesa na Sé têm feito um trabalho extraordinário. Toda a gente: sacerdotes, colaboradores, catequistas, o coro… Acho que tem sido um trabalho magnífico. Só tenho palavras de elogio», concluiu Anabela Ritchie.

Marco Carvalho

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