«Sou apenas mais um servente»
O secretário-geral da Cáritas, Paul Pun, é hoje agraciado com a Medalha de Mérito Altruístico, galardão que o dirigente dedica ao Padre Luís Ruíz e à Madre Maria de Góis, os pais do serviço social em Macau. O dirigente falou a’O CLARIM sobre as dificuldades com que a organização se deparou ao longo das últimas semanas, mas diz que estas já fazem parte do passado.
As quatro últimas semanas foram das mais difíceis na já longa história da Cáritas de Macau, mas o secretário-geral da instituição, Paul Pun, acredita que o pior faz já parte do passado. Os lares de idosos tutelados pela organização voltaram na quarta-feira a abrir portas e a receber a visita de familiares dos utentes institucionalizados, depois de quase um mês em que os funcionários não tiveram mãos a medir face ao impacto da pandemia de Covid-19.
Desde meados de Dezembro, a Cáritas registou o óbito de várias dezenas de idosos nos lares sob a sua tutela e não teve outra opção senão pedir a funcionários infectados para zelar pelos utentes também infectados. O panorama tem, ainda assim, vindo a melhorar nos últimos dias, assegurou Paul Pun em declarações a’O CLARIM: «Desde quarta-feira que estamos a permitir que as pessoas visitem novamente os seus familiares. Podem fazê-lo sem terem que proceder a marcações prévias e é uma forma de darem conforto e apoio umas às outras. Esperemos que a longo termo não tenhamos que voltar a passar pelo mesmo que passámos por causa do Covid».
Segundo ele, «os funcionários, mesmo que combalidos pela doença, nunca deixaram de trabalhar. Se deixassem de trabalhar, os utentes – em particular, os que estavam infectados – não teriam quem olhasse por eles. Ninguém faria esse trabalho. O que foi decidido é que se os funcionários estivessem positivos, zelariam pelos utentes positivos. Assim, pelo menos, ser-lhes-ia dada possibilidade de poderem recuperar». Actualmente, Paul Pun acredita que «o pior já faz parte do passado. Estamos, agora, prontos para começar uma nova vida e a trabalhar juntos para nos prepararmos para melhores dias».
O secretário-geral da Cáritas local é hoje agraciado pelo Governo de Macau com a Medalha de Mérito Altruístico. Receber a distinção – reconheceu Paul Pun – é uma honra, mas o dirigente – uma figura incontornável do sector do serviço social – entende que o mérito deve ser atribuído aos funcionários e aos benfeitores da organização, e dedica o galardão ao Padre Luís Ruíz e à Madre Maria Góis, ambos já falecidos. «Não entendo a medalha como algo que eu tenha alcançado. O fundador da Cáritas de Macau, o Padre Ruíz, e a fundadora do Instituto de Serviço Social, a Madre Maria Góis, foram quem construiu os alicerces da caridade e do trabalho social em Macau. Se há alguém que merece este reconhecimento e esta honra são eles. Por outro lado, nada disto seria possível sem o apoio da Igreja, nomeadamente do Cabido da Sé Catedral. Foi com o apoio desta instituição que consegui aprofundar os meus estudos universitários», sublinhou Paul Pun.
«Também necessito de agradecer ao trabalho árduo desenvolvido pelos funcionários e pelos voluntários da Cáritas, em conjunto com os nossos benfeitores. Esta medalha é a eles que se deve, não é fruto do meu trabalho pessoal. Eu sou apenas mais um servente. A minha missão é apenas servir as pessoas», concluiu.
Em 2003, a Cáritas de Macau recebeu a Medalha de Mérito Altruístico.
Marco Carvalho