“Natureza humana” de Confúcio por Diego de Pantoja e Giulio Aleni
As instalações do Seminário de São José acolhem ao início da noite da próxima segunda-feira uma prelecção sobre a interpretação feita pelos jesuítas Diego de Pantoja e Giulio Aleni do conceito confuciano de “Natureza humana”. Promovida pelo Instituto Ricci de Macau, a iniciativa tem como orador Thomas Cai, professor assistente da Faculdade de Estudos Religiosos e Filosofia da Universidade de São José e actual director do Centro Xavier para a Investigação da Memória e da Identidade.
Próximo de Matteo Ricci, o espanhol Diego de Pantoja é uma figura de proa da primeira vaga de missionários jesuítas que penetraram na China. Tido como o primeiro ocidental a entrar na Cidade Proibida, em Pequim, e a falar com o Imperador, com quem discutiu Matemática, Astronomia e Música, Pantoja é tido, a par de Aleni, como um precursor do período de ouro da presença jesuíta na China. «Diego de Pantoja é um colaborador muito próximo de Ricci e Aleni; é famoso pelo conhecimento que detinha da cultura chinesa. Ambos fazem parte da geração que intermedeia entre Matteo Ricci, Johan Adam Schall von Bell e Ferdinand Verbiest», explicou Thomas Cai, em declarações a’O CLARIM. «Eles deram continuidade ao trabalho missionário desenvolvido por Ricci e abriram caminho para o “período de glória” dos jesuítas na recta inicial da Dinastia Qing. Já no caso de Aleni, para além de ter estabelecido ligações com homens de letras chineses, em Fujian, esforçou-se para evangelizar pessoas comuns que não tinham um estatuto social muito significativo. Esta abordagem não era de todo comum naquele tempo», salientou o académico.
Foi precisamente em resultado da sua acção evangelizadora que Diego de Pantoja e Giulio Aleni se distinguiram dos demais companheiros jesuítas, esclareceu o director do Centro Xavier para a Investigação da Memória e da Identidade. Os dois missionários procuraram construir pontes para a cultura e para a sociedade, sem no entanto esquecer o principal desígnio que os mobilizava: a salvação das almas do povo chinês. «Diego de Pantoja e Aleni desafiaram o axioma confuciano de que “seguir a natureza é o caminho”. Para eles, era necessário superar o carácter corrupto da “Natureza humana”, em vez de, pura e simplesmente, a seguir. A resposta crítica que formularam à tradição confuciana sobre a “Natureza humana” indica um aspecto do trabalho missionário que é habitualmente negligenciado hoje em dia: o imperativo de se salvar as almas do povo chinês», referiu Thomas Cai.
Mais: «as trocas culturais e a compreensão mútua eram um dos objectivos do trabalho desenvolvido pelos primeiros missionários católicos na China, mas a motivação dos missionários ia muito para além de simplesmente compreender a cultura chinesa. A aprendizagem que fizeram da tradição chinesa servia o imperativo final de evangelizar o povo chinês», concluiu o docente da Faculdade de Estudos Religiosos e Filosofia da USJ.
Marco Carvalho