Lição de Sogra sobre como servir o próximo
Nas últimas semanas, três seminaristas que todos conhecemos muito bem foram ordenados diáconos: Adriano Agostinho e Bosco Chan, ambos da diocese de Macau; e Peter The Hai, SVD, actualmente ao serviço da diocese de Hong Kong. Todos aqueles que assistiram às respectivas ordenações ficaram profundamente comovidos pela sua generosidade em consagrarem as suas vidas como ministros ordenados.
A palavra “diácono” vem do verbo grego “diakoneō” (διακονέω), que significa “servir”. Com efeito, o papel dos diáconos, que se exerce sobretudo na liturgia e no cuidado dos necessitados, está enraizado no exemplo de serviço de Cristo, que «veio para servir e não para ser servido» (Mateus 20, 28).
Este verbo, SERVIR, aparece também no Evangelho deste Domingo (Marcos 1, 29-39), mas não se refere a alguém com posição de destaque na comunidade, mas a uma pessoa muito comum: a sogra de Pedro – «A sogra de Simão estava deitada, com muita febre, e logo falaram com Jesus a respeito dela. Então, aproximando-se, Ele a tomou pela mão e a levantou. A febre imediatamente a deixou e ela se pôs a servi-los» (Marcos 1, 30-31).
A escolha das palavras e a sua posição na narração do Evangelho têm um significado profundo. Esta é a primeira vez que Marcos usa o verbo “servir” e este milagre é a primeira cura narrada no seu Evangelho. Certamente, esperaríamos que Jesus tivesse realizado algo mais sensacional com o objectivo de convencer as pessoas sobre a Sua origem divina. Curar uma febre!? Apenas isso? Um comprimido de paracetamol faz o mesmo efeito!…
Analisemos então! Os estudiosos da Bíblia sublinham a importância desta história. Milagres nunca são uma demonstração de poder destinada a impressionar. Nalgumas partes dos Evangelhos observamos, até por vezes com amargura, que embora Jesus tivesse realizado muitos sinais na presença do povo, este ainda não acreditava Nele (João 12, 37). Milagres são sinais feitos por Jesus para revelar a quem os olha com os olhos da fé, a misericórdia de Deus e a presença do Reino de Deus no mundo de hoje.
Este milagre particular, que à primeira vista parece quase insignificante, é colocado no início do Evangelho de Marcos porque revela o significado de todos os outros milagres. Jesus liberta-nos de um mal específico (possessão demoníaca, doença, morte) para restaurar em nós a capacidade de servir. O serviço é a característica distintiva daqueles que seguem Cristo, imitando o seu Mestre. Ele, o Filho de Deus, «não reivindicou ser igual a Deus, mas, pelo contrário, esvaziou-se a si mesmo, assumindo plenamente a forma de servo» (Filipenses 2, 6-7).
Toda a vida de Jesus foi um acto único; teve um único propósito: assumiu a nossa natureza humana; obedeceu à vontade do Pai; lavou os pés dos Seus discípulos; deu a Sua vida na cruz em troca da Salvação do Homem.
Serviço é amor em acção: «O povo levou até Jesus todos os que estavam doentes ou possuídos por demónios. E toda a cidade inteira se aglomerou à porta da casa. E Jesus muitos curou de várias doenças, bem como expulsou muitos demónios» (Marcos 1, 32-34), leremos no Evangelho deste Domingo. Mas é a reacção da sogra de Pedro que faz a diferença. Assim que Jesus a cura, ela começa a servir: ou seja, começa a imitar Cristo como um verdadeiro discípulo.
A realidade é que na cultura chinesa a mãe da mulher (da esposa) é exemplo de serviço humilde: a sua posição é menos relevante em comparação com a mãe do marido, sendo que muitas vezes são elas quem ficam encarregues de cuidar da família. Só no ano passado conheci umas cinco famílias em que a mãe da esposa concordou em cuidar dos bebés recém-nascidos. Em alguns casos, a decisão não foi fácil, o fardo foi pesado, mas elas aceitaram fazê-lo com todo o amor.
Devemos ser cautelosos e evitar concluir que este milagre pretende explicar qual o papel das mulheres na Igreja. A atitude da sogra de Pedro após se sentir curada é um modelo para todos nós, homens e mulheres. Na comunidade dos discípulos, servir não era trabalho destinado apenas às mulheres, era trabalho de todos. Devemos servir todos aqueles que cumprem papéis de destaque na comunidade, assim como todos os baptizados e catecúmenos.
Depois de um dia inteiro junto do povo, lemos que «de madrugada, no meio da escuridão, Jesus levantou-se, saiu da casa e retirou-se para um lugar deserto, e ali rezou» (Marcos 1, 35). A oração silenciosa dá-nos força para servir e ajuda a discernir a melhor forma de fazê-lo, o que é importante para evitar o esgotamento ou o sentimento excessivo de auto-importância. «Vamos às cidades vizinhas», decidiu Jesus no final da oração. Para continuar a servir, também precisamos manter o nosso ego sob controlo, de modo que a misericórdia de Deus, e não o nosso orgulho, permaneça no centro das nossas acções. Nós, ministros ordenados, também precisamos de nos lembrar disso.
Pe. Paolo Consonni, MCCJ