Novena, Adoração Eucarística e Procissão de Nosso Senhor Bom Jesus dos Passos em Macau

Prenúncio de Quaresma.

A Novena de Nosso Senhor Bom Jesus dos Passos, e respectiva procissão, é muito ansiada pela comunidade católica de Macau. Esta devoção é o prenúncio da festa litúrgica da Quaresma. Com este advento preparam-se os fiéis para, em Abril, se unirem, na alma, à Paixão do Senhor, relembrando e vivendo mais de perto aquele momento dramático, não só para os que seguiam Jesus, mas para o próprio Cristo. A Paixão, a Morte e a Ressurreição do Senhor – Deus feito homem – ao lado da Sua natividade, abriu na história da Humanidade um novo capítulo para a eternidade. Tal foi e é a sua importância, pois Ele é o Senhor do tempo, do espaço e da História.

À semelhança de outros anos, a comunidade religiosa de Macau iniciou os preparativos para a Novena e Procissão de Nosso Senhor Bom Jesus dos Passos, tendo sido incluída uma noite com o Deus vivo (Adoração Eucarística) no programa deste ano.

A novena tem início no dia 28 de Fevereiro (quinta-feira), na igreja de Santo Agostinho, junto ao Seminário de São José. Começa às 7 horas e 45, em língua chinesa, e às 17 horas e 30, em Português. E irá decorrer todos os dias na igreja de Santo Agostinho, com o mesmo horário, até terminar a 8 de Março (sexta-feira). Concluída a novena, está agendada para 9 de Março (sábado), nesta mesma igreja, a Procissão da Cruz, pelas 19 horas, com destino à igreja da Sé Catedral. Após a procissão, haverá adoração – pela noite fora – ao Santíssimo Sacramento, estando o início agendado para as 20 horas, na igreja da Sé Catedral, apenas terminando às 7 horas da manhã do dia seguinte, 10 de Março (Domingo). Neste mesmo dia o programa das celebrações encerra com a secular Procissão de Nosso Senhor Bom Jesus dos Passos, que sairá da igreja da Sé Catedral às 16 horas, de regresso à igreja de Santo Agostinho. Esta procissão conta com mais de quatro séculos. Segundo a tradição, terá sido introduzida em Macau, no final do século XVI, pelos frades agostinhos que nessa época haviam chegado a Macau.

A ORIGEM DAS NOVENAS

A origem da “novena” é um tesouro espiritual da Igreja Católica. O Antigo Testamento não indica qualquer celebração de nove dias por parte do povo judeu. Por outro lado, no Novo Testamento, no período entre a Ressurreição e a Ascensão do Senhor, Jesus diz aos Seus apóstolos para aguardarem em Jerusalém a vinda do Espírito Santo. Ordenou-lhes que não partissem de Jerusalém, mas que esperassem a promessa do Pai, do qual disse: «Ouviste-me falar. João baptizava em água, mas, dentro de pouco tempo, vós sereis baptizados no Espírito Santo» (Actos 1:4-5). Na narrativa do Livro dos Actos dos Apóstolos, lemos mais adiante: «Jerusalém. Quando chegaram à cidade, subiram para a sala de cima, no lugar onde se encontravam habitualmente. Estavam lá: Pedro, João, Tiago, André, Filipe, Tomé, Bartolomeu, Mateus, Tiago, filho de Alfeu, Simão, o Zelota, e Judas, filho de Tiago. E todos unidos pelo mesmo sentimento, entregavam-se assiduamente à oração, com algumas mulheres, entre as quais Maria, mãe de Jesus, e com os irmãos de Jesus» (Actos 1:12-14). Quando chegou o dia de Pentecostes (cinquenta dias após a Ressurreição do Senhor), encontravam-se todos reunidos no mesmo lugar: «De repente, ressoou, vindo do céu, um som comparável ao de forte rajada de vento, que encheu toda a casa onde eles se encontravam. Viram então aparecer umas línguas, à maneira de fogo, que se iam dividindo, e poisou uma sobre cada um deles. Todos ficaram cheios do Espírito Santo» (Actos 2:1-4).

Talvez este período de nove dias de oração da primeira comunidade cristã em comunhão com os santos apóstolos, e na presença de Maria Santíssima, seja a base para as novenas (não contando o dia da Ascensão do Senhor). Muitos cristãos viram nestes nove dias de oração um modelo para desenvolverem devoções de nove dias – ou meses – de oração por uma intenção específica ou para um santo em particular. Este número foi assim encarado como divinamente inspirado, pelo que as “novenas” – da palavra em Latim “novem” (“nove”) – eram tidas como a forma perfeita de oração. Lembramos também que o apóstolo Paulo, na sua carta aos Gálatas, fala-nos de nove frutos do Espírito: «Por seu lado, é este o fruto do Espírito: amor, alegria, paz, paciência, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, auto-domínio» (Gálatas 5:22-23).

O “Enchiridion of Indulgences” refere: “Uma indulgência parcial é concedida aos fiéis que participam piedosamente no exercício piedoso de uma novena pública antes da festa de Natal, do Pentecostes ou da Imaculada Conceição da Bem-Aventurada Virgem Maria”.

A Novena de Pentecostes é designada como a mãe de todas as novenas. É identificada como uma novena litúrgica, instituída através de decreto papal, inserido na encíclica “Divinum Lllud Múnus”, redigida pelo Papa Leão XIII e promulgada a 9 de Maio de 1897.

AS PROCISSÕES NA TRADIÇÃO DA IGREJA

A “procissão” nasceu dos costumes do povo; é um costume secular. Na procissão a manifestação privada da Fé torna-se pública, e as ruas convertem-se numa extensão da igreja. Enfeitam-se as casas, as ruas, e o silêncio predomina em cada canto. As pessoas, mesmo dentro das suas casas, participam da devoção e unem-se em oração.

Cada procissão tem as suas particularidades e especificidades, dado que cada lugar tem as suas próprias tradições, as quais foram sendo incorporadas ao acervo cultural cristão. No entanto, a maioria das procissões são iguais, ou pelo menos muito parecidas, e praticamente todas seguem um modelo pré-definido. O primeiro elemento é o anúncio da procissão, por meio de alguém que vai na frente, em geral tocando um sino ou uma matraca, símbolo da passagem de um lugar profano para um lugar sagrado. Há sítios onde cabe a outros instrumentos, como o tambor, marcar o ritmo da chegada da procissão, em marcha solene.

A participação na procissão traduz a homenagem e reconhecimento público dos fiéis a Jesus, a Nossa Senhora ou aos santos que são levados nos andores.

Na Semana Santa, além da devoção, há um motivo penitencial: os penitentes participam na procissão para se redimirem dos pecados e manifestar publicamente o seu arrependimento. As velas que ostenta alumiam o caminho rumo à Luz, que é Cristo. Sendo um acto público de fé, é uma das mais sublimes manifestações externas e públicas de fervor religioso.

Nada é improvisado e, ainda que as imagens sejam o eixo central do cortejo, são os penitentes – peregrinos na fé – que dão corpo à procissão.

Nosso Senhor Bom Jesus dos Passos, tende piedade de nós!

 

Miguel Augusto 

 com Aleteia e Felipe Aquino

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