Lakra Estaben, superiora das Missionárias da Caridade em Macau

Jogo e materialismo destroem famílias.

A irmã Lakra Estaben, superiora das Missionárias da Caridade em Macau, afirma que muitas famílias pobres estão a passar por graves problemas no território. Não porque causa da pobreza em si, mas porque a indústria do Jogo e o materialismo estão a destruí-las.

«Não é a pobreza que as torna pobres, mas o modo de vida que levam. Há pobreza material, é certo, mas consigo distinguir a diferença entre a pobreza daqui e a que existe em Calcutá, na Índia. Em Macau as famílias têm assistência social e não estão abandonadas. Não se encontram muitos sem-abrigo nas ruas. Pelo menos, as famílias têm uma casa e apoio governamental», disse a’O CLARIM, Lakra Estaben, superiora das Missionárias da Caridade em Macau.

No seu entender, o grande problema é «a quebra da vida social nas famílias», algo devido «ao Jogo», sempre que «um membro perde dinheiro no casino» e origina «sérios desentendimentos familiares». De igual forma, sustentou: «Há muitas famílias separadas. Acredito que seja por causa do Jogo e também por causa do álcool, do consumo de drogas e de mulheres que são abusadas fisicamente ou… [sexualmente]».

A irmã Lakra Estaben – pediu-nos que não fosse fotografada – assumiu que as Missionárias da Caridade fazem «o melhor que podem, mas não conseguem resolver todos os problemas familiares» que chegam ao seu conhecimento. «Podemos dar-lhes uma tigela de arroz, mas o que precisam é de amor humano na família, entre o homem, a mulher e os filhos. Tal como disse a Madre Teresa: estão com “fome, não só de pão, mas com fome de amor”. Por isso, [as mulheres] vêm ter connosco porque não têm ninguém que tome conta delas, nem as aceite», explicou.

A superiora também concordou que o materialismo enraizado na sociedade local constitui um grande obstáculo ao desejo de amor humano na família: «Sim, sim!», exclamou, acrescentando que o desejo pode estar relacionado com «o conforto espiritual e a compreensão».

Em jeito comparativo, aclarou que «havia mais pobres nos anos oitenta, enquanto a situação [económica do território] se desenvolveu bastante desde então. Por exemplo, antigamente tomávamos conta de crianças que pertenciam a famílias de pescadores, o que já não acontece».

Por outro lado, admitiu que se alguns sem-abrigo pernoitam nas ruas, outros dormem nos estabelecimentos da McDonald’s, onde ficam a salvo das condições atmosféricas adversas. «Aos Domingos distribuímos almoços a cerca de cinquenta sem-abrigo, homens e mulheres, num pequeno jardim perto do Colégio Santa Rosa de Lima [Secção Inglesa]», realçou.

Quanto ao facto de continuar a haver pessoas sem-abrigo em Macau, num território onde há tanta riqueza, frisou: «Vejo a contradição. Por um lado, há enormes infra-estruturas com casinos, onde se movimentam grandes quantidades de dinheiro, e muitas lojas de luxo. Por outro lado, há estas pessoas que nada têm, nem uma casa para viver».

 

A escola

A irmã Lakra Estaben, natural de Odisha (Índia), juntou-se à congregação das Missionárias da Caridade em 1987 após estudar numa escola pública onde também era abordado o trabalho desenvolvido pela Madre Teresa de Calcutá junto dos mais pobres.

«Fui capaz de ter esse interesse humano da Madre Teresa e quando terminei o ensino secundário o meu desejo cresceu», recordou, adiantando que chegou a conhecer pessoalmente a fundadora da congregação quando era ainda candidata: «A Madre Teresa dava-nos instruções comuns e também encorajava e apoiava, uma a uma, a servir os pobres. Dizia-me para estar unida a Jesus».

Antes de vir para Macau, a irmã Estaben foi superiora no Camboja, onde permaneceu três anos. De regresso à Índia, frequentou um curso sobre formação espiritual, em Calcutá. Está em Macau desde 2013. As primeiras irmãs chegaram em 1981. «Foi a Madre Teresa quem decidiu que a nossa congregação devia vir para cá», lembrou.

PEDRO DANIEL OLIVEIRA

pedrodanielhk@hotmail.com

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