TCR China decide-se na Guia e Ávila pode ser campeão
Sem a pompa e a circunstância de outros anos, reduzida a três dias e com menos corridas no programa, a edição 67 do Grande Prémio de Macau faz-se hoje ao asfalto quase transfigurada por inteiro, mas ainda assim com o mesmo nível de antagonismo e de imprevisibilidade que fazem do Circuito da Guia um dos mais apetecidos do mundo. Numa ano em que a prata da casa está forçosamente em destaque, o britânico Rob Huff é cabeça de cartaz, mas está longe de ser o único “às do volante” a manter debaixo de olho.
A pandemia do Covid-19 obrigou os organizadores da principal prova do calendário desportivo do território a abrir mão das corridas internacionais e a reinventar o certame, mas a edição de 2020 do Grande Prémio de Macau, que se disputa até ao próximo Domingo no traçado urbano da Guia, está longe de ser uma formalidade para cumprir calendário.
Com cinco provas em cartaz, o evento reúne a nata do automobilismo de Macau, de Hong Kong e da China continental. Aos melhores pilotos chineses da actualidade junta-se um “às do volante” com provas dadas nos mais de seis mil e 200 metros do traçado da Guia, o britânico Rob Huff. Vitorioso por nove ocasiões, Huff vai disputar a Corrida da Guia, uma prova que se prefigura tão decisiva como sempre. O inglês junta-se a Rodolfo Ávila e a Zhang Zheng Dong na equipa MG XPower com o propósito de garantir o décimo triunfo nas curvas e contra-curvas do circuito da RAEM, mas também de ajudar Ávila a garantir o triunfo na edição de 2020 da Taça Chinesa de Carros de Turismo.
À entrada para a última ronda da competição, o piloto local tem uma desvantagem de oito pontos para o líder da classificação, Ma Qing Hua. O piloto chinês, que disputou durante vários anos o Campeonato do Mundo de Carros de Turismo, apresenta-se na Guia ao volante da Lynk & Co, numa prova que vai ser disputada por 36 pilotos. Entre os inscritos estão o regressado Jo Merszei e os macaenses Eurico de Jesus e Filipe Clemente de Souza, piloto que se diz preparado para atacar os lugares do pódio. «O objectivo este ano é o de acabar nos lugares da frente. Este ano vou competir na Corrida da Guia e o nível é muito, muito semelhante ao que era noutros anos», assumiu, em declarações a’O CLARIM. «Não me posso comparar com o Rob Huff, que veio a Macau e vai competir, mas sim com os outros pilotos de Hong Kong, da China e de Macau, em que o nível é muito semelhante. Tenho expectativas muito altas de que vou conseguir lutar pelo pódio», disse o piloto, que se apresenta no Circuito da Guia com um Audi RS 3 LMS TCR, da equipa T.A Motorsport.
NÃO HÁ F3… HÁ F4
Sem o protagonismo e os protagonistas de outras edições, a tradicional prova de monolugares do Grande Prémio de Macau assume este ano feições regionais, com a prova de Fórmula 3 – que tem sido uma montra para as grandes promessas do automobilismo mundial – a ser substituída por uma prova do Campeonato Chinês de Fórmula 4. A China tem a sua própria competição de Fórmula 4, homologada pela Federação Internacional do Automóvel, em que é utilizado o mesmo chassis Mygale, usado nas séries britânica, francesa e mexicana, ainda que os motores sejam fornecidos pelo fabricante chinês Geely. O alinhamento para a corrida conta com dois pilotos locais, Charles Leong Hon Chio e Andy Chang Wing Chung.
Sem o estatuto de Taça do Mundo de GT que lhe foi atribuído pela FIA ao longo dos últimos cinco anos, a Taça GT Macau regressa de certo modo às origens e ombreia este ano com a Corrida da Guia e com o Grande Prémio de Macau de Fórmula 4 pelo estatuto de prova rainha na edição deste ano do GPM. Sem concorrentes do gabarito de Edoardo Mortara ou de Maro Engel, a prova vai ser disputada por pilotos da China continental, de Hong Kong, Macau e Taiwan, que se vão apresentar ao volante de carros de duas categorias distintas: GT 3 e GT4. Pelo Circuito da Guia vão desfilar pelo menos três Lamborghini Huracan, quatro Lotus Exige S, um MacLaren 570 S GT4 e vários Mercedes AMG. Macau faz-se representar por uma mão cheia de pilotos. Liu Lic Ka, Lio Kin Chong, Lai Chi Hou, Billy Lo Kai Fung e Leong Iok Choi vão tentar rebater o favoritismo de um pelotão de Hong Kong onde constam nomes como Eric Kwong Hoi Fung, Lee Ying Kin, Kwong Hoi Lun ou Darryl O’Young.
UM PÓDIO PARA MACAU
Com a Corrida da Guia a adoptar o formato TCR e os regulamentos da Taça Chinesa de Carros de Turismo, os indefectíveis locais do Grande Prémio de Macau têm este ano uma oportunidade de brilhar sem a oposição de adversários de Hong Kong, uma vez que a Taça de Carros de Turismo de Macau será disputada apenas por pilotos “macaenses”, que vão competir no asfalto da Guia nas categorias de 1600 cc e 1950 cc. Sem a presença de pilotos da vizinha Região Administrativa Especial de Hong Kong e com o pelotão consideravelmente mais pequeno, o veterano Rui Valente está confiante de que o pódio está ao seu alcance. «Acho que este ano vamos fazer qualquer coisa. Em princípio, vamos ver se chegamos nos primeiros lugares da corrida. A ideia, aliás, é ganhar a classe dos 1600 cc. As corridas feitas na China correram bem. O carro está bom. A saída para a pista só se processa esta sexta-feira, que é quando estão marcados os treinos livres. Dá tempo suficiente para preparar a corrida de qualificação, no sábado. Temos uma corrida no sábado, de oito voltas, e depois temos uma outra corrida, de doze voltas, no Domingo. Portanto, vai haver tempo para tudo», admitiu, com optimismo.
Para além de Rui Valente, o alinhamento para a Taça de Carros de Turismo de Macau conta com Célio Alves Dias, Luciano Castilho Lameiras, Delfim Mendonça Choi, Sabino Osório Matias Lei e Jerónimo Badaraco, sendo que este último tem no currículo várias subidas ao pódio no Grande Prémio de Macau.
O cartaz da edição de 2020 integra ainda a Taça GT – Corrida da Grande Baía, a única prova que transita intacta da edição número 66 do Grande Prémio. A corrida é disputada por 21 pilotos de Macau, de Hong Kong e de Taiwan, que se vão apresentar no Circuito da Guia sobretudo com bólides de dois fabricantes: Lotus e Ginetta.
Marco Carvalho