Em Roma, Macau e no resto do mundo
A basílica de Santa Maria Maior também é conhecida como igreja de Santa Maria das Neves, devido a um milagre ocorrido em pleno verão romano, o “Ferragosto”, expressão que se deve à “fornalha” em que a Cidade Eterna se converte em Agosto.
No dia 5 de Agosto do ano 358, em pleno verão romano, nevou no centro de Roma. De acordo com a tradição, a Praça de Santa Maria Maior foi o palco deste milagre. A Virgem teria indicado aquele lugar, ao então Papa Libério (352-366) e a um patrício romano, para que ali fosse construído um templo em sua honra.
Segundo uma antiga lenda, em 352, um casal romano rico, sem descendentes, terá pedido à Virgem orientação para saber como empregar a sua fortuna, pois não sabia que obras pias deveria executar. Então, em sonhos, recebeu uma mensagem de Maria para que lhe fosse construída uma igreja, precisamente sobre o Monte Esquilino, que, entre os dias 4 e 5 de Agosto, em pleno verão europeu, estaria coberto de neve. Assim terá ocorrido e assim se fez o templo.
Santa Maria Maior é a primeira basílica do Ocidente dedicada à Virgem Maria e uma das mais belas e adornadas de Roma. Diz a tradição que nela se encontra um relicário com um fragmento da manjedoura do Menino Jesus. É também uma das quatro basílicas maiores de Roma – com São Pedro do Vaticano, São João de Latrão e São Paulo Fora de Muros (ou Extramuros).
ORIGEM DA FESTA
Deve-se a frei Bartolomeu de Trento (1200-1251), hagiógrafo dominicano e diplomata papal, a versão sobre a origem da basílica de Santa Maria Maior, a partir do seu livro “Liber miraculorum beatae Marie virginis”. Com efeito, frei Bartolomeu narra que o referido casal, depois de receber instruções para erigir o templo num local em Roma onde estivesse neve, duvidou: Neve em Roma, em Agosto? O Papa Libério teve também o mesmo sonho, com recomendação de subir ao Monte Esquilino, onde acharia neve. Naquela manhã de 5 de Agosto de 352, o Papa e João, o dito homem rico, convergiram, por vias diferentes, para a neve no Esquilino, que a confirmaram, tal como a multidão que os seguiu. Com um bastão, o Papa traçou logo a área para se erguer uma igreja, que o patrício construiu apenas com o seu dinheiro. Nascia assim a igreja de Santa Maria das Neves.
Noutra versão, a partir desta tradição, sugere-se que o dito João procurou o Papa Libério para lhe contar o seu sonho, ficando surpreso ao saber que o Papa tivera a mesma visão. Depois, terão rumado juntos com a população para o Monte Esquilino, onde demarcaram sobre a neve o terreno para a construção da igreja. No fundo, ambas se fundem no milagre da visão da Virgem e da neve em Roma no mês de Agosto.
A zona do Esquilino, na Antiguidade romana, foi primeiramente um lugar de despejo de lixos, de imundícies; depois passou a ser uma área de sepultamento de escravos. Mais tarde, no Império, começaram-se a erigir “villas” de nobres romanos, mas as memórias de outros tempos perduraram, sendo o topo da colina uma zona pouco frequentada e abandonada pela população. A construção da igreja de Santa Maria das Neves renovaria o lugar e conferira-lhe dignidade e beleza.
Mas este templo viria a ser ampliado e reconstruído a partir de 431, depois do Concílio de Éfeso (431), que proclamou a “maternidade divina da Virgem Maria” e santificou a Mãe de Jesus como “Theotokos” (“portadora de Deus”). Ordenou-se que a igreja fosse muito grande (“Maior”), tendo-se escolhido o mesmo lugar de Santa Maria das Neves. Assim, no dia 5 de Agosto de 431, a nova igreja, que substituiu a anterior, foi consagrada com o nome de Basílica de Santa Maria Maior. Nela foi realizado o primeiro Presépio que se tem notícia na Igreja, sendo por isso também conhecida como basílica de Santa Maria do Presépio. É a mais antiga igreja no Ocidente dedicada à Virgem. A festa litúrgica da Dedicação da Basílica de Santa Maria Maior entrou no Calendário Romano em 1568.
Nesta basílica encontra-se uma imagem da Virgem Maria, cultuada como salvadora do povo romano, ou “Salus Populi Romani”, que em várias situações de grande necessidade foi levada em procissão.
Vítor Teixeira
Universidade Fernando Pessoa