Um apelo à “conversão ecológica”
Tanto na “Laudato Si” como na “Querida Amazónia”, o Papa Francisco vincula a questão da integridade da criação à da justiça e inclusão dos pobres e marginalizados, baseando-se no facto do planeta ser uma pátria e a Humanidade ser um povo que vive numa casa comum (LS 164). A terra é essencialmente uma herança compartilhada, cujos frutos devem beneficiar todos os seus habitantes (LS 93; QA 42).
Por isso, ele condena as injustiças perpetradas contra os ecossistemas do nosso planeta, os seus “pulmões biodiversos, que são as bacias amazónica e do Congo, ou os grandes aquíferos e glaciares”, danificados pela “despreocupação egoísta em obter ganhos económicos condenáveis” (LS 37-38). Esta injustiça na criação da actual da sociedade global atenta contra as gerações futuras e os pobres.
Qualquer tipo de injustiça que atente contra um qualquer ser criado, transformar-se-á numa violação da dignidade humana: “é verdade também que a indiferença ou a crueldade para com os nossos semelhantes… mais cedo ou mais tarde repercute-se no tratamento que dispensamos aos outros seres humanos” (LS 92). Isto também envolve muitas espécies em perigo de extinção, tanto visíveis quanto geralmente invisíveis, pois desempenham um papel crítico na manutenção do equilíbrio de um determinado lugar (LS 49).
O Papa dá-nos algumas sugestões para uma espiritualidade ecológica, por forma a motivar-nos a alimentarmos a nossa resposta cristã e assim vivermos a nossa vocação de “protectores da obra de Deus” (LS 217). Antes de tudo, precisamos de “conversão ecológica” (LS 216), isto é, de uma reconciliação pessoal e comunitária para com a criação (LS 219) e de responder com uma união de forças e uma unidade de contribuições necessárias a uma mudança duradoura (LS 219) no mundo.
Esta conversão ecológica envolve três aspectos:
– Em primeiro lugar, é preciso uma conversão económica. Trata-se da conversão necessária da orientação para o lucro para a orientação para o bem comum, a curto prazo. Esta considera que os seres humanos e a natureza estão acima do consumo e do lucro (LS 184).
– Em segundo lugar, é preciso uma conversão tecnológica. Muitas vezes, associamos a tecnologia ao progresso, o que não é verdade em muitos dos casos. A tecnologia potência o conforto e o progresso (LS 102-103). No entanto, o progresso resultante da tecnologia, muitas vezes leva ao retrocesso das condições da vida humana, a problemas sociais e à destruição da natureza. Um exemplo disto, foi a tecnologia utilizada para a destruição e a morte durante a Segunda Guerra Mundial (LS 104).
– A terceira conversão é passarmos de uma espécie de consumismo e cultura descartáveis para um estilo de vida simples e de uso consciente da natureza. Neste âmbito, o Papa Bento XVI lembrou-nos que “a acção de comprar é sempre um acto moral, para além de económico” (Caritas in Veritate 66).
As atitudes nucleares exigidas para esta conversão são a gratidão e a gratuidade, a generosidade e abnegação, a criatividade e o entusiasmo (LS 220): “Seres humanos, dotados de inteligência e amor, atraídos pela plenitude de Cristo, são chamados a reconduzir todas as criaturas ao seu Criador” (LS 83).
Na encíclica Laudato Si, o Papa Francisco entende que a unidade de toda a criação reside na comunhão da Santíssima Trindade, que deixou a sua marca em toda a criação (LS 239). Crescemos em maturidade espiritual e humana quando ousamos sair de nós mesmos para viver em comunhão com Deus, com os outros e com todas as criaturas. Deste modo, assumimos o nosso próprio dinamismo trinitário, com Deus, com os outros e com todas as criaturas (LS 240).
Pe. Eduardo Emilio Agüero, SCJ