Fátima, coração da Fé
Milhares de católicos, de diferentes línguas e origens, participaram na passada segunda-feira na Festa e Procissão em honra de Nossa Senhora de Fátima. A peregrinação à Ermida da Penha repete-se há quase um século e traz até ao território cada vez mais peregrinos oriundos das regiões vizinhas.
Milhares de pessoas saíram à rua, ao final da tarde de segunda-feira, para celebrar, em harmonia e a uma só voz, a Festa da Virgem do Rosário de Fátima, 107 anos depois da Mãe de Deus ter aparecido pela primeira vez a Lúcia, Jacinta e Francisco Marto, na Cova da Iria.
Durante mais de uma semana, a comunidade católica de Macau rezou pela paz no mundo, pela conversão dos pecadores e pela santificação da comunidade cristã, mas a Novena e Festa de Nossa Senhora de Fátima atingiu o seu apogeu com a tradicional peregrinação, que todos os anos percorre a zona nobre da cidade e que culmina, no topo da colina da Penha, com a Consagração de Macau a Nossa Senhora e com a bênção do Santíssimo Sacramento a toda a população do território.
Antes, a meio da tarde, dezenas de pessoas juntaram-se na igreja de São Domingos para rezar o Terço, antes do bispo D. Stephen Lee presidir à Eucaristia, que foi celebrada em Cantonense e Português. Concluída a Missa, um verdadeiro mar de fiéis, entre católicos locais e visitantes, tomou as principais artérias do centro da cidade. Da igreja de São Domingos, na Praça do Leal Senado, até à Ermida da Penha, os dois quilómetros do trajecto foram cumpridos a passo lento, com pequenos grupos em representação das escolas católicas a encabeçarem o cortejo.
O itinerário da peregrinação à Ermida da Penha conduziu uma verdadeira maré humana pela Avenida da Praia Grande, Rua da Praia do Bom Parto e pela Avenida da República, com devotos de todas as idades e origens a rezarem e a cantarem em Português, Cantonense e Inglês, antes de encetarem a árdua subida até à Penha.
Devoto confesso da Virgem do Rosário de Fátima, Elias Colaço participou, como faz quase todos os anos, na celebração eucarística da igreja de São Domingos e acompanhou o cortejo até ao fim. Depois de D. Stephen Lee ter abençoado a cidade, Colaço confessou-se comovido com a extraordinária devoção que o culto a Nossa Senhora de Fátima motiva na RAEM, a tantos milhares de quilómetros da Cova da Iria. «Como devoto e, obviamente, como devoto de Nossa Senhora, enche-me o coração. Mas ainda me sensibiliza mais quando eu vejo esta multidão imensa a cantar e a rezar em Chinês e Português. Não sei exactamente porquê, mas tenho a sensação que a fé católica e a fé em Nossa Senhora têm vindo a crescer no mundo», afirma. «Assisti à Missa na igreja de São Domingos e as partes rezadas e cantadas em Chinês foram deslumbrantes. Foram de uma profundidade que nos leva a pensar que há algo aqui que não se explica senão pelos olhos da fé», argumenta.
FÉ UNIVERSAL
Nas celebrações do 13 de Maio participaram católicos locais, em representação de diferentes comunidades linguísticas, mas também um número crescente de devotos que se deslocaram de propósito a Macau para assistirem às cerimónias. Radicado em Macau há mais de três décadas, Dante Quijano serviu de cicerone a um par de famílias filipinas que viajaram de Manila, única e exclusivamente, para celebrar a Festa de Nossa Senhora de Fátima no território. «Estive no fim-de-semana com algumas famílias que vieram de Manila só para participar nesta procissão em honra de Nossa Senhora de Fátima. Mas os devotos não chegam só das Filipinas. Vêm também da Índia, de Hong Kong e de outros lugares», assegura.
A vida presentou Dante Quijano com a oportunidade de visitar o Santuário de Fátima há mais de vinte anos, em 2002. Para parte considerável dos católicos filipinos, a Cova da Iria é um local de peregrinação a visitar pelo menos uma vez na vida, mas para os que não conseguem custear a viagem, Macau é cada vez mais uma alternativa para uma vivência verdadeira da fé. «Nossa Senhora de Fátima respondeu a todas a graças que lhe pedi. Esta devoção é vivida de forma muito particular não só pelos filipinos, mas por milhões de pessoas por todo o mundo. Há muitos filipinos que tentam vir a Macau, porque não têm recursos para visitar Portugal. Em Macau, aquilo que eu reparei é que as pessoas estão unidas durante a Festa da Nossa Senhora de Fátima, unem-se para celebrar o 13 de Maio. Vemos muitas pessoas locais, de diferentes origens, e vemos um número cada vez maior de jovens com uma grande devoção a Nossa Senhora. Toda esta gente está unida pela fé católica e isso é algo que me deixa muito feliz», admite Quijano.
Se o mar de gente que desfilou pela baixa de Macau ao início da segunda-feira não é comparável ao oceano de fé que enche o Altar do Mundo no dia 13 de cada mês, há um aspecto – argumenta ainda Elias Colaço – em que Macau está cada vez mais próximo da Cova da Iria. «Habitualmente vamos a Fátima e ali encontramos várias nacionalidades; Fátima é o local onde tudo começou. É natural que na Cova da Iria haja uma moldura humana universal e várias línguas a serem faladas. É algo que não acontece apenas nas peregrinações. No dia-a-dia, caminhamos por lá e sentimos isso. Agora aqui? [questionou] A tantos quilómetros de distância, sentir que esta fé está a crescer, é realmente algo que nos enche a alma, nos enche o coração», assume este devoto, natural de Damão. «Esta universalidade transporta-nos para aquela mensagem que a Virgem de Fátima nos pediu: Paz. Numa altura em estamos a viver momentos muito conturbados, faz todo o sentido esta mensagem de paz que está a crescer no coração das pessoas, independente da sua nacionalidade e da língua que falam», remata Colaço.
Se a mensagem de Fátima é universal, a Cova da Iria, considera o padre José Oliveira Marques, ocupa um lugar central na religiosidade portuguesa. Nascido nos Estados Unidos, mas filho de emigrantes portugueses, o jovem sacerdote não tem dúvidas em colocar Fátima como um dos maiores contributos que Deus, através de Portugal, legou ao mundo. «Nossa Senhora é a mãe de todos nós. Não é apenas a mão dos portugueses, mas é realmente belíssimo ver tanta gente aqui reunida e o Espírito Santo a actuar. As pessoas estão felizes, mesmo depois de terem subida esta ladeira íngreme e isso é algo que me impressiona muito», sustenta. «Alguma coisa de bom conseguimos deixar aqui, nós, os portugueses, não é?», questiona o sacerdote, missionário do Caminho Neocatecumenal, em jeito de conclusão.
Marco Carvalho