«Sejamos, pois, generosos!»
O CLARIM – Parabéns, está prestes a ser ordenado diácono. Como se está a preparar para mais este grande evento na sua vida?
BOSCO CHAN PAK LAM – Obrigado pelas vossas felicitações. Felicito também a diocese de Macau e todos os fiéis que trabalham arduamente. Parabéns a vós pelas vossas contínuas orações pelo surgimento de novas vocações, uma das quais sou eu mesmo. Estou muito feliz e cheio de esperança de poder servir e me dedicar à altura da confiança de Deus em mim depositada. Iniciaremos um retiro nos próximos dias. Após o retiro, iremos preparar a cerimónia de forma prática, para que seja uma bênção para os outros, uma bênção para os nossos familiares, amigos, para aqueles que nos amam; e também para todos os fiéis e suas famílias da diocese de Macau. Realizaremos diversas actividades, como uma festa de pré-ordenação no dia 29 de Dezembro, e um ensaio para a cerimónia do dia 30. Acredito que este tipo de preparação não seja apenas para mim, mas para toda a Diocese; para que as pessoas ao meu redor se possam aproximar de Deus, ouvir Deus, experimentar o amor e as bênçãos de Deus, e se sentirem na disposição de responder aos anseios de Deus. É dar um passo além e dedicar-se a Deus e à Igreja.
CL – Que significado tem para si ser ordenado diácono?
B.C.P.L. – A ordenação diaconal lembra-me o Baptismo, que é consagração, em que passamos a pertencer completamente a Deus. No vasto mar das pessoas existentes, Ele escolheu-nos para nos tornarmos povo e crentes de Deus. Isto é a consagração: a transformação do ser, daqui para a eternidade. Não se trata apenas de fazer algo, mas viver uma vida completamente diferente e existir nesta nova forma neste mundo e para sempre. Há uma nova mudança de identidade; a partir do Baptismo, ser ordenado diácono ou sacerdote é uma nova etapa de consagração. Deus escolhe algumas pessoas entre os fiéis para que sejam mais parecidas com Ele, logo é um convite maior para mim; é um pedido de amor. Ele irá consagrar-me porque me ama gratuitamente, mas ama ainda mais aqueles a quem preciso servir. Daí que precise de chamar pessoas para com Ele cooperarem. A cooperação com o Senhor, seja na liturgia, na oração, na caridade, na assistência ao Sacerdócio e na obediência ao Bispo, são realizações concretas daquilo que Deus nos ordena como diáconos.
CL – Esta é apenas uma etapa da sua vocação sacerdotal. Como vive actualmente a recta final do caminho rumo ao Sacerdócio? Com excitação, expectativa ou alegria?
B.C.P.L. – Na verdade, a jornada final do diácono rumo ao Sacerdócio é repleta de entusiasmo, expectativa e alegria. Como todos sabemos, não é fácil tornar-se sacerdote nesta época. Gostaria de partilhar esta emoção e alegria com as pessoas que fazem parte da minha vida. A alegria que Deus me dá também vem das pessoas que caminham comigo, especialmente daquelas que me confiam a sua fé. A elas estou grato por colocarem as cores coloridas da fé, a vitalidade da fé e a insondável sabedoria e amor de Cristo diante de mim. Quer sejam os santos do céu ou as pessoas da minha geração, todos me transmitiram inúmeros exemplos de encorajamento e amor. Também devido a eles, a minha vocação foi concebida. Agradeço a Deus por me ter dado forças no actual momento por forma a responder ao amor que Ele sempre me deu.
CL – Olhando para trás, para os últimos anos da sua formação, o que considera ter sido mais desafiador? O que tem na memória como mais inesquecível e grato?
B.C.P.L. – Olhando para trás, para o Seminário, e até mesmo para a parte da formação vocacional antes de entrar no Seminário, acho que o mais desafiador foi como compreender e apreciar em que tipo de mundo e Igreja realmente vivemos; e que “verdadeiro eu” somos. Dito de um modo simples e franco, o maior desafio é saber como encarar a verdade. Este é desafio mais inesquecível e frutífero, sendo também o mais digno e aquele pelo qual estou mais grato. Porque para ser humilde é preciso aprender a aceitar muitas das pessoas que vivem ao nosso redor. Através delas também posso ouvir a voz de Deus e ver a realidade maior. A realidade não é apenas a opinião dos media, tem que ter um certo tipo de narrativa e ser mais abrangente. Todos os dias podemos receber informação, mas nunca dominaremos toda a informação por completo. Só com humildade podemos caminhar em direcção à verdade. Quanto mais verdadeiros formos, mais dor experimentaremos, mas ao mesmo tempo também receberemos mais amor, muitas graças e várias mensagens e a iluminação de Deus, e tudo isto através da verdade. Só o verdadeiro Deus, a verdadeira cruz e o real sofrimento são o caminho para a verdadeira morte e ressurreição.
CL – A ordenação diaconal do Bosco e do Adriano pode ser considerada uma boa notícia para toda a diocese de Macau, sendo algo que todos os fiéis ansiavam há muitos anos. Como encara o estado actual das vocações em Macau?
B.C.P.L. – Toda a vocação é preciosa. Mas não só a vocação, pois cada pessoa e cada vida são preciosas, e ninguém pode ficar para trás. Pode perguntar se temos a devida atitude e os necessários sentimentos para tratar de todos e a eles despendermos tempo e paciência. No passado, conheci muitas pessoas que foram gentis comigo. Todas me amavam e me estimavam. Eram inúmeras. Mesmo aqueles que aparentemente não me amam, sempre me atribuíram muitas bênçãos, pois têm o coração de Deus por detrás deles. Portanto, quero muito que os jovens desta geração experimentem o amor maior e deixem de lado aquilo que os cega e lhes faz perder o rumo; que experimentem a beleza da fé no caminho em direcção a Deus. O Senhor nunca nos abandona, apoia-nos constantemente, acompanha-nos para nos superarmos e trabalha connosco para descobrirmos os planos maiores e mais dignos de Deus para a Humanidade. Às vezes temos muitas demandas e desejos na vida, mas somente quando entregamos as nossas melhores intenções a Deus é que Ele nos dá a ver o que há de melhor. Se valorizarmos de mais o que temos e não tivermos coragem de Nele confiar, por mais que Ele nos ame e por mais claras que sejam as Suas instruções, será difícil que a nossa vocação realmente brote e cresça. Sejamos, pois, generosos! Deus é amor perfeito e o mais generoso connosco.
Jasmin Yiu