As Empregadas Domésticas... e o seu sofrimento

As Empregadas Domésticas… e o seu sofrimento

É espantoso como os patrões tratam as suas empregadas domésticas. Há animais de estimação que são mais bem tratados do que a maioria.

Em tempos, foram relatados casos de empregadas domésticas que foram “guardadas” dentro de armários, supostamente para não roubarem nada nas casas em que se encontravam a trabalhar.

Actualmente, persistem outros maus tratos, que vão desde o “simples” confiscar de passaporte, até a extremos como o caso de uma empregada na região vizinha de Hong Kong que quase faleceu em resultado dos maus tratos a que era sujeita diariamente. E não se pense que só porque este caso teve lugar há uns anos, que o tratamento dado a muitas empregadas – quiçá, talvez à maioria – seja hoje muito diferente. Muitas jovens e senhoras de meia idade continuam a sujeitar-se aos maus tratos – estes não têm de ser forçosamente físicos, pois também podem ser psíquicos – porque dependem exclusivamente do parco salário que auferem no final de cada mês.

É verdade que muito tem sido feito, nomeadamente pelas representações diplomáticas dos países de onde estas trabalhadoras são provenientes, mas era bom que nunca mais houvesse relatos de situações que atentam contra a integridade física e moral de seres que são tão humanos como quem os emprega. Não falo apenas de determinadas etnias, pois há bons e maus patrões, assim como bons e maus empregados em todo o lado.

O que mais custa é saber que mesmo sendo maltratadas muitas empregadas domésticas andam com o sorriso nos lábios, como se nada fosse, com o único objectivo de agradar aos patrões e assim garantirem sustento aos familiares que um dia ficaram para trás, na santa terrinha. Enviam quase a totalidade do salário para os entes mais chegados, ficando com muito pouco para fazerem face ao custo de vida dos locais onde vivem. Fazem-no por amor e acima de tudo por necessidade.

O tal salário a que nos referimos não passa muitas vezes de uma esmola, sendo deplorável que seja pago por pessoas com responsabilidades no seio da sociedade, detentoras de grau académico, cuja formação pessoal as devia sensibilizar para os problemas que enfrentam os trabalhadores não-residentes.

Pode parecer exagerado da minha parte, mas considero que as empregadas domésticas devia ter o estatuto de Técnico Especializado e auferir um salário condizente. Se não vejamos: as empregadas domésticas ajudam na lida da casa. Limpam, lavam, passam a ferro, cosem a roupa, fazem as compras nos mercados e supermercados, cozinham, acompanham a “patroa”, se necessário, etc., etc. Logo, as empregadas domésticas não só são a cozinheira de serviço, como ainda a dama de companhia da “patroa”. Mais: cabe ainda às empregadas domésticas levar os filhos dos patrões à escola e trazê-los de volta a casa no fim das aulas, dar-lhes banho e de comer. São pois “babysitters” e amas. Se as crianças vão ao médico, é da responsabilidade das empregadas domésticas administrar os medicamentos e tomar conta das crianças até estas ficarem curadas, pois os pais passam o dia fora de casa a trabalhar ou envolvidos noutros afazeres.

Até quando o animal de estimação adoece e precisa de ir ao veterinário é também a empregada doméstica que o leva à clinica e administra os medicamentos, sendo muitas vezes injectáveis, o que já implica alguma técnica e sabedoria.

É caso para perguntar como viveriam os homens e mulheres que maltratam as empregadas domésticas, só porque se consideram superiores, se tivessem que ser eles a fazer todas as tarefas que acabei de descrever?

Dinheiro, conhecimentos académicos e posição social não deveriam servir para uma elite tratar mal quem dela depende, ainda para mais quando o funcionamento da sociedade está alicerçado em grande medida no trabalho doméstico realizado por quem menos tem.

Manuel dos Santos

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