André Couto III

Turismos: sucessos e desaires

Como já referimos, imediatamente após a vitória no Grande Prémio de Macau em 2000, André Couto foi convidado a correr no Japão com carros da Fórmula Nippon, o mesmo é dizer: Fórmulas 3 mais aperfeiçoados e velozes. No ano seguinte correu já em carros de turismo, no All Japan GT Championship, com algum sucesso, mas foi em 2002 que verdadeiramente a carreira do piloto no Japão começou a dar nas vistas. Participa na World Series by Nissan onde consegue um muito meritoso 7º lugar no campeonato.

Desde 2003 que tem regressado a Macau para tentar vencer a famosa Guia Race, sem ter tido sorte ou sucesso. Quando liderava, por duas vezes, sofreu avarias mecânicas que forçaram o abandono; outras vezes, por excesso de fogosidade, foi testar a qualidade das barreiras de protecção do circuito; e nas restantes viu-se envolvido em incidentes para os quais não contribuiu.

No início, ao tripular carros competitivos do Campeonato Europeu de Turismo, tais como os Alfa Romeo 156, as prestações foram mais consistentes do que as que veio a ter quando a Corrida da Guia passou a ser integrada no WTCC – Campeonato do Mundo de Carros de Turismo. Ainda antes do WTCC chegar a Macau, numa das Guia Race em que participou, seguia na segunda posição, em luta pelo primeiro posto, quando uma pedra ou algo semelhante furou o radiador do seu Alfa Romeo, facto que determinou a desistência. Ainda quando corria para a Fábrica Italiana, depois de um ligeiro toque nos treinos algo não ficou bem e talvez por ser demasiado insignificante não foi visto e acabou por ceder quando liderava a prova, acabando a corrida na escapatória do Hotel Lisboa.

A razão simples das fracas prestações numa série mais competitiva, caso do Mundial de Turismos, ficaram a dever-se ao facto de que, enquanto os carros do Europeu de Turismo eram carros de fábrica, altamente competitivos, os carros do Mundial eram veículos que estavam disponíveis devido a muitas e variadas razões, mas que já não se encontravam na sua melhor forma, podendo mesmo serem considerados em “segunda mão”. Um dos melhores carros usados por André Couto nesta fase foram os SEAT Leon TD da SEAT Sport. Ainda assim andou sempre muito bem, com qualificações entre os dez primeiros.

Ouvimos muitas vezes a versão de que pudesse estar a ser alvo de “acidentes” deliberados, provocados por outros pilotos que disputavam o Mundial desde o início, para não “roubar” pontos aos que lutavam por eles. Desfez-nos essa versão dos factos, afirmando que sendo o Mundial de Turismos uma série extremamente competitiva as “batidas” são frequentes e aparatosas em todas as provas. Adiantou ainda que nunca sentiu que fosse um alvo premeditado em qualquer dos acidente em que se viu envolvido por culpa de terceiros durante esta fase.

Entretanto a vida no Japão continuou e as corridas sucederam-se, com mais ou menos sucesso. Em 2004 foi vice-campeão na Classe GT japonesa. Em 2005 venceu os mil quilómetros de Suzuka e em 2008 levou pela primeira vez ao lugar mais alto do pódio um carro híbrido, um Toyota Supra, nas 24 Horas de Tokashi.

No ano passado, o piloto de Macau, ao volante de um Audi, tendo como companheiro de equipa de Eduardo Mortara, o novo “Rei da Guia”, limitou-se a passear pelo circuito, mantendo uma segunda posição controlada, depois de ter sido o segundo mais rápido da qualificação. Não existiam razões para tentar o desafio directo ao seu companheiro, não arriscando mais do que o estritamente necessário para evitar a aproximação de qualquer outro concorrente e assim chegar ao fim isolado, em segundo, fazendo juz aos subsídios a que tinha direito…

Não há muito tempo assistimos a uma discussão polémica que envolveu dois pilotos expatriados no Japão. Um, o já retirado Geoff Lees, e o outro, André Couto. Quanto a nós não há a possibilidade de se comparar os dois, como não se pode comparar Michael Schumacher a Juan Manuel Fangio ou Jim Clarck a Ayrton Senna. No caso Lees/Couto as semelhanças são muitas, mas as diferenças são muito mais. As épocas e os carros, assim como os dois nomes “per si” não podem ser comparados. O “macaense” é hoje parte do “establishment” do desporto automóvel do Japão, com 11 anos de estadia, sendo altamente respeitado e com um grau de sucesso elevado.

Para um não nipónico conseguir estar tantos anos a competir em boas equipas não é fácil. O Japão produz uma grande quantidade de bons pilotos, vindo das suas muitas séries de acesso e tem como categoria mais importante os Super Turismos. O sucesso de um “expat” como Couto e alguns outros europeus ou americanos que passaram pelo “País do Sol Nascente” é relativo, pois ao fazerem equipa com pilotos locais têm que se conformar com as prestações dos seus companheiros, que por vezes comprometem a classificação final da prova.

Contudo, André Couto continua a ser visto como um “asset” no conjunto do desporto automóvel do Japão. A prova desse facto é que, como nos referiu em primeira mão, virá a Macau, este ano, disputar a Taça GT ao volante de um Ferrari de uma equipa de ponta do Campeonato Super GT japonês.

Manuel dos Santos

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