PADRE MICHAEL CHEUNG

PADRE MICHAEL CHEUNG, PÁROCO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DE FÁTIMA

«Estarmos tão perto da fronteira confronta-nos com uma grande responsabilidade»

O padre Michael Cheung é desde o início de Março o responsável máximo pela paróquia de Nossa Senhora de Fátima. Em Macau há pouco mais de um ano e com raízes em Hong Kong, o jovem pároco é também o único representante do Instituto do Verbo Encarnado no território. Devoto do Imaculado Coração de Maria, o sacerdote diz que a missão de que foi incumbido pelo bispo D. Stephen Lee é a prova de que Deus o colocou sob a protecção de Nossa Senhora. O padre Michael Cheung em entrevista a’O CLARIM.

O CLARIM– Tem as suas raízes em Hong Kong. Como é que Macau surge no seu percurso?

PADRE MICHAEL CHEUNG– Houve um convite, feito pelo bispo D. Stephen Lee, para vir para Macau com a nossa Ordem, para aqui servir. Por causa da pandemia de Covid-19 não é fácil garantir novos sacerdotes. A possibilidade de um padre estrangeiro poder entrar em Macau é muito remota. Acontece que eu sou de Hong Kong e os residentes de Hong Kong não tinham problemas em entrar em Macau. Existia essa vantagem. Eu estava a servir em Taiwan, onde trabalhei durante quatro anos. Eles decidiram que, como mais ninguém podia entrar, eu devia vir para Macau e deixar Taiwan. Eu estava a servir na paróquia de São José, na diocese de Taichung, e foi-me dito para vir para a paróquia de Nossa Senhora de Fátima, em Macau. Tão simples quanto isso.

CL– Dizia, à margem desta entrevista, que rezava fervorosamente a Nossa Senhora antes ainda de se tornar sacerdote. Esta é uma das poucas paróquias de devoção mariana em Macau. Coincidência?

P.M.C.– Deus, uma vez mais. Foi Ele quem preparou tudo. Sob a Sua divina providência, Ele toma conta de mim e conduz-me aonde eu devo ir. Antes de enveredar pela vida religiosa, era eu um jovem adulto, e lembro-me de estar a ler uma passagem da Bíblia no metropolitano, em Hong Kong. Era sobre a forma como Abraão foi chamado para longe de casa, para ir para onde Deus o tinha enviado, para que pudesse ser uma bênção para as outras pessoas. Lembro-me disso muito claramente. Desde então, sempre tive a convicção que Deus delineou um plano para mim e vai conduzir-me para onde preciso de ir. O facto de me ter trazido para Macau, para esta paróquia mariana, tem um grande significado. Tenho uma grande devoção a Nossa Senhora de Fátima, a Nossa Senhora da Guadalupe, a Nossa Senhora de Lújan, da Argentina, e também, obviamente, a Nossa Senhora da China. Tudo isto tem um grande significado em termos vocacionais e levou a que eu me oferecesse ao Imaculado Coração de Maria. (…) Tem para mim um grande significado. Fui colocado por Deus sob a protecção de Maria. Eu não vim para Macau para fazer o que quero. Nossa Senhora está a colocar-me sob a sua protecção, ao permitir que eu comece o meu ministério sacerdotal em Macau.

CL– Como encara esta missão de que foi incumbido pela diocese de Macau? É um desafio ou uma responsabilidade? Esta é uma paróquia com uma comunidade católica muito diversificada…

P.M.C.– A Paróquia é muito activa. Aos Domingos, a igreja está sempre cheia, com diferentes comunidades e diferentes actividades. Um dos maiores desafios é o de integrar, o de misturar as comunidades. Há o desafio da barreira linguística e das barreiras culturais. Diferentes comunidades vêm à igreja em diferentes períodos do dia. Quando umas comunidades chegam, já outras se foram embora. Mas o padre Ángel já havia tentado fazer algo neste sentido. Já nos reunimos todos uma vez para celebrar Missa em várias línguas e organizámos, depois da Missa, uma celebração multilinguística. Isto permitiu que toda a gente partilhasse a sua alegria, partilhasse o seu testemunho. Isto é algo que estamos a tentar encorajar. Não é fácil porque temos diferentes comunidades linguísticas na Paróquia.

CL– A paróquia de Fátima é a que está mais perto do continente chinês. Pode ser uma janela para os católicos que vivem do outro lado da fronteira?

P.M.C.– Macau está toda ela perto da China. Em Macau nunca se está longe da China. Compreendi, ao longo do último ano, depois de cá ter chegado, que os fiéis da China Continental nos visitam em peregrinação. Eles vêm até à igreja para rezar e para participar nas procissões. Muitas pessoas, entre padres e freiras, trabalharam bastante no passado para responder às necessidades espirituais dos peregrinos da China. O facto de estarmos tão perto da fronteira, a cinco minutos da nova fronteira de Qingmao, confronta-nos com uma grande responsabilidade. Não somos os únicos a fazer isso, mas temos a responsabilidade de ser uma espécie de comité de boas-vindas. Temos o dever de lhes dar as boas-vindas. Uma das coisas que tenho em mente é colocar lá fora uma mensagem visual ou audiovisual em Mandarim. Se eles são souberem que lugar é este, nunca aqui entrarão. Estou a falar de pessoas que não são católicas, que não partilham a nossa fé. Mas se sentirem curiosidade, se perceberem que a porta está sempre aberta, poderão interrogar-se sobre que lugar é este.

CL– Foi agora nomeado pároco, mas já aqui trabalha há mais de um ano. Como foi recebido em Nossa Senhora de Fátima?

P.M.C.– O padre Ángel e os outros padres que estavam a trabalhar na paróquia de Fátima encorajaram a minha presença. Não houve qualquer tipo de problema, trabalhámos muito bem juntos. E isso foi muito significativo para mim. As pessoas mostraram-se muito acolhedoras e o mesmo aconteceu com os sacerdotes. E isso transmitiu-me um grande sentido de pertença. Senti-me em casa de imediato. Não tive que lidar com qualquer tipo de problemas comportamentais ou algo desse género. A minha integração decorreu de forma muito tranquila. Eles fizeram-me chegar o seu apoio e quando discutíamos alguma coisa, havia sempre muita concordância. As decisões foram sempre tomadas em conjunto. Sempre houve uma atmosfera positiva entre os padres e a comunidade, ainda que tenhamos percursos muito diferentes. Não pertencemos à mesma ordem religiosa. Sou o único sacerdote em Macau a representar o Instituto do Verbo Encarnado. Rezo para que Deus possa permitir que mais dos nossos sacerdotes possam entrar em Macau, oriundos das Filipinas, de Hong Kong ou de Taiwan, porque eu necessito de viver em comunhão com a minha Ordem. Se for essa a vontade de Deus, é isso que vai acontecer e o Instituto do Verbo Encarnado terá uma pequena comunidade em Macau.

Marco Carvalho

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