PADRE JOSÉ PIRES, PÁROCO DA IGREJA DE SÃO JOÃO BAPTISTA DE PORTO NOVO, EM CABO VERDE

PADRE JOSÉ PIRES, PÁROCO DA IGREJA DE SÃO JOÃO BAPTISTA DE PORTO NOVO, EM CABO VERDE

«Intercâmbio cultural e de fé é fundamental para a vida da Igreja»

O CLARIM chegou à paróquia de São João Baptista de Porto Novo, na ilha de Santo Antão, em Cabo Verde, no passado dia 20 de Maio. Ali vive uma comunidade de frades capuchinhos que atendem, a nível pastoral, duas paróquias que cobrem mais da metade da ilha. Santo Antão tem paisagens encantadoras, ainda que seja muito árida na maioria do seu território. Só a norte de Porto Novo, depois de atravessada a serra central, encontram-se nascentes de água, ao longo de todo o ano. O padre José Pires, pároco da igreja de São João Baptista de Porto Novo, natural da ilha do Fogo, mais a sul, aceitou acolher a missão juvenil que partirá de Macau rumo a Cabo Verde, a fim de melhorar a vida das populações locais. Com onze mil habitantes, Porto Novo é o centro mais populoso da ilha de Santo Antão. O padre José é pároco há nove anos e conhece muito bem as suas gentes.

O CLARIM – Que retrato faz da situação social da paróquia de São João Baptista de Porto Novo?

PADRE JOSÉ PIRES – Porto Novo é um dos municípios mais pobres de Cabo Verde, mas regista actualmente um elevado índice de crescimento. Já se está a desenvolver, mas ainda temos muita gente em situação de pobreza devido à seca. Muitas famílias deslocaram-se das suas zonas para viver na cidade, ainda que não tenham qualificações que lhes possibilite encontrar emprego. A nossa paróquia está na parte mais seca da ilha. Há anos que os agricultores sofrem muito, pois com a redução da água na nascente não podem regar as hortas. Já quando chove, a terra produz muito e quase tudo fica verde. Como é uma zona litoral, há muitos pescadores que vivem praticamente só da pesca.

CL – Para além da Paróquia – a igreja-mãe –, há ainda outras comunidades, que reúnam, por exemplo, em igrejas mais pequenas, capelas e similares?

P.J.P. – No ano de 2017 dividimos a Paróquia que albergava então dezanove unidades. Agora, a paróquia de São João Baptista de Porto Novo tem sete capelanias, para além da igreja paroquial que está dividida por duas zonas de intervenção.

CL – De que forma os leigos participam na actividade pastoral da Paróquia?

P.J.P. – Temos catequistas, membros da Legião de Maria, dos Carismáticos, da Juventude Franciscana, e ainda estamos a desenvolver a Terceira Ordem Franciscana. Contamos também com duas Equipas de Nossa Senhora, estando uma terceira em formação. São oito, seis e cinco casais, respectivamente.

CL – Quais os maiores desafios com que se deparam?

P.J.P. – O primeiro desafio é a pobreza. Os jovens procuram trabalho na pequena cidade de Porto Novo, e quando não conseguem arranjar emprego vêem-se forçados a procurar trabalho noutras ilhas. Daí que seja difícil manter a pastoral juvenil sólida, uma vez que a determinada idade muitos jovens – mesmo os mais envolvidos nas actividades paroquiais – se vêem forçados a emigrar. Outro desafio é a influência do pós-modernismo, que nos chega através dos Meios de Comunicação Social e do Turismo. Hoje, tudo o que é instituição ou está instituído; tudo o que é regras, tudo o que tem uma certa disciplina, quase nunca é bem aceite. Mas esta realidade não acontece apenas em Porto Novo…

CL – Como assim?

P.J.P. – Também acontece nas outras ilhas de Cabo Verde. Parece que as instituições metem medo e as pessoas querem ser livres, até para viverem a Fé. Querem viver a sua fé, mas sem compromisso. Muitas pessoas não procuram saber o que é bom e o que não é bom, e as máfias aproveitam-se da situação e só atrapalham a vida das pessoas. Resultado: as pessoas perdem a Fé e não se reaproximam da Igreja.

CL – E nas zonas rurais? A situação é muito diferente?

P.J.P. – Nas zonas rurais há muitos fiéis que mantêm a Fé viva. Caminham quilómetros, por terra batida, para chegar à capela mais próxima e participar na Missa e na Catequese. No caso das cidades, e da nossa em particular, penso que evoluíram bastante e necessitam de uma nova dinâmica de evangelização. Temos que olhar a cidade com olhos de fé, com os olhos de Cristo, porque as pessoas têm sede de Deus. O problema é que procuram Deus de formas que não resultam. Acho que a nossa igreja tem que assumir uma dinâmica de sinodalidade em que os cristãos não são só receptores do Evangelho, mas também são aqueles que levam o Evangelho aos outros; em que os adultos sejam capazes de sair à rua e manifestar a sua fé. Como afirmou o Papa Francisco, a sinodalidade não é para criar documentos, mas para ser vivida.

CL – A Igreja em Macau está muito grata ao padre José por ter aceitado a missão que vai ser realizada pelos seus jovens. Por que razão considera valiosa esta actividade?

P.J.P. – Primeiro, é muito bom para os jovens que vêm de fora poderem deparar-se com uma nova realidade, em termos culturais e no que respeita à Igreja. Segundo, faz com que os nossos jovens locais ganhem gosto e se entusiasmem, com vista a contribuírem para a Evangelização; com o intuito de levarem a Boa Nova aos outros. A minha intenção é ajudar os dois lados, com o objectivo de reforçar o intercâmbio entre as pessoas e a troca de experiências de fé. Este intercâmbio cultural e de fé é fundamental para a vida da Igreja.

Padre Eduardo Emilio Agüero, SCJ

em Cabo Verde

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