«Espero que Xi Jinping aceite»
Admirador confesso do Papa Francisco, o padre Beda Liu elogia a vontade de aproximação da Igreja Católica à República Popular da China. Por isso espera que o Presidente Xi Jinping aceite o convite para visitar o Vaticano. Em entrevista a’O CLARIM, o superior da Companhia de Jesus em Macau acrescenta que é necessário fazer mais pela evangelização na RAEM e que a violência no mundo não vai acabar enquanto o Homem não olhar para si próprio.
O CLARIM – Como vê a actual missão jesuíta na China continental?
BEDA LIU – Continuamos na linha de São Francisco Xavier [um dos cinco fundadores da Companhia de Jesus] e de Matteo Ricci [o primeiro jesuíta a entrar na China e a estabelecer permanência residente]. Embora não possamos fazer o que gostaríamos, devido às oportunidades que nos são oferecidas, com carisma penso que temos mais do que o suficiente para o fazer. É um grande desafio porque a missão não é no sentido restrito.
CL – Pode concretizar?
B.L. – Por exemplo, quando era provincial da China limitava-me ao intercâmbio cultural e educacional. Não toquei nos assuntos da Igreja. Mas depois de cumprir o meu tempo como provincial, antes de vir para Macau, pude então fazer algo mais, como participar na formação e educação ministerial.
CL – Teve liberdade?
B.L. – Em geral, no meu raio de acção, tive liberdade suficiente. Mas conheço algumas pessoas que continuam a viver sob a alçada da organização pública formal [católica] na China continental.
CL – A ANSA, agência noticiosa italiana, avançou recentemente que o Papa Francisco havia convidado Xi Jinping, Presidente da República Popular da China, para uma visita ao Vaticano, expressando também vontade em visitar o país mais populoso do mundo. É um bom sinal?
B.L. – Sim. E vai muito na linha do modo de actuar do Papa, que é uma pessoa de diálogo e está de acordo com a forma de ser jesuíta. A reconciliação é essencial para a nossa missão e admiro a sua coragem em tomar a iniciativa.
CL – A aproximação vai beneficiar ambas as partes ou o mais certo é nada mudar?
B.L. – Nunca se sabe. Pelo menos mostrou sinceridade.
CL – O que espera do Presidente Xi Jinping?
B.L. – Tenho esperança que Xi Jinping possa aceitar [o convite], mas não se sabe. Nós, Igreja Católica, esperamos que sim.
CL – O Papa Francisco, como jesuíta…
B.L. – Toca-me muito ao ler os seus escritos. Sinto-me perto dele, mesmo sabendo que nunca o conheci pessoalmente. A sua biografia e os seus escritos, especialmente “Evangelli Gaudium”, que significa “A Alegria do Evangelho”, penso que são verdadeiramente inspiradores, onde vejo uma forma diferente de comunicação.
CL – O que pensa do Catolicismo em Macau?
B.L. – Penso que é preciso fazer mais para chegar às pessoas. O nosso Papa disse: «Vai para as ruas», o que para mim significa ir às pessoas. É preciso fazer evangelização.
CL – Quanto ao futuro, vê um mundo melhor ou a tendência é para piorar cada vez mais?
B.L. – É preciso desenvolvermo-nos a nós próprios e haver algum trabalho dedicado à contemplação e à oração. Caso contrário, quando abrimos os jornais vemos que o mundo não está curado e fica a impressão que não está a ficar melhor.
CL – Há muitas notícias sobre a violência no Médio Oriente. Parece que os poderes ocidentais também não estão inocentes…
B.L. – Falando outra vez do mundo, há grandes manifestações de violência. E podemos dizer que a violência vem do coração, e que esse coração está dividido.
CL – E os extremistas da ISIS? Não têm piedade de quem não segue os seus modelos radicais. Qual a sua opinião?
B.L. – Diria que há muitas formas de actuar, mas seguimos sempre a ideia da não violência…
Vida de aprendizagem (Caixa)
Liu Chia Cheng, natural da Formosa, estudava na Universidade Nacional de Taiwan quando foi baptizado aos vinte anos, com o nome cristão em memória do padre Beda Chang. Tendo estabelecido contactos anteriores com os jesuítas, entrou na Ordem aos 23 anos. Na qualidade de noviço recebeu a formação inicial, sendo o padre Paul Shan (mais tarde cardeal) o seu mestre. Após a ordenação estudou dois anos em Inglaterra, primeiro aprendendo Inglês e depois teologia pastoral, no Colégio de Heythrop (Inglaterra). Regressou a Taiwan para cumprir a etapa final da sua formação comum como jesuíta. Continuou agarrado aos livros, desta vez no Instituto Asiático de Gestão, em Manila (Filipinas), além de frequentar aulas de gestão japonesa e negócios asiáticos no Japão. Para ficar melhor preparado especializou-se em estudos asiáticos na Universidade da Califórnia, em Berkeley (USA). Regressou a Taiwan, tendo ajudado a Igreja e trabalhado na Universidade Católica de Fu Jen. Foi provincial jesuíta da Província da China entre 1996 e 2005. Chegou a Macau há dois anos para ser o superior da Companhia de Jesus no território.
PEDRO DANIEL OLIVEIRA
pedrodanielhk@hotmail.com