Joaquim Arnaud, produtor de vinhos na MIF

Quase ninguém leva a sério os importadores de Macau

O proprietário dos vinhos Joaquim Arnaud está de novo na RAEM para promover os seus produtos na Feira Internacional de Macau. Em entrevista a’O CLARIM lamentou que a maioria dos importadores locais não se dedique ao sector de corpo e alma, uma das condições essenciais para a entrada das empresas portuguesas no mercado chinês. Um pouco contra a corrente, elogia a acção do Governo português, afirmando que cabe aos produtores arregaçarem as mangas em busca do sucesso.

O CLARIMEstá a participar na Feira Internacional de Macau (MIF) com um expositor de vinhos alentejanos e da região de Alenquer, distrito de Lisboa. Que mais-valia tem o evento para as empresas portuguesas?

JOAQUIM ARNAUD – No meu caso a mais-valia da MIF é ter a oportunidade de mostrar os meus produtos em parceria com a Palatium Fine Wines, que é o meu importador nesta região do globo. Trata-se ainda de poder consolidar o trabalho iniciado em Março último, quando vim cá pela primeira vez. Acima de tudo é preciso não ter medo de arriscar e de arregaçar as mangas para trabalhar a 100 %.

CLQue dificuldades sentem as empresas no mercado chinês?

J.A. – Há três anos as nossas exportações já estavam centradas no mercado chinês e depois da minha primeira vinda decidi que quero, cada vez mais, tornar Macau no meu centro de operações. Passa tudo por aproveitar as oportunidades, mas só tendo uma presença efectiva é que se consegue potenciar os contactos e as novas oportunidades de negócio que possam surgir dos empresários chineses.

CLHaverá demasiados importadores de produtos portugueses em Macau? Será que o mercado já está saturado ou nem por isso?

J.A. – No meu caso tinha várias hipóteses à escolha, mas optei por um importador que me desse confiança e conhecesse bem o mercado. Aliás, é o que sugiro sempre aos meus amigos que também são produtores de vinho. Mas o mais importante é ter um importador com trabalho consolidado, porque a ideia que passa em Portugal é que as pessoas que aqui vendem vinhos têm mais três ou quatro empregos. Em Portugal quase ninguém leva a sério os importadores de Macau, porque são poucos os que transmitem alguma confiança.

CLQue observação faz à penetração dos produtos portugueses em Macau, em Hong Kong e na China?

J.A. – Ainda há muito a fazer. Vejo a necessidade de haver uma cadeia entre portugueses, com produtores, importadores, donos de restaurantes e por aí fora, até porque estamos na Ásia e devíamos ajudar-nos uns aos outros…

CLMas os portugueses são desunidos por natureza…

J.A. – São unidos! É por isso que digo que é bom agrupar os que têm pensamentos e ideias semelhantes para haver um trabalho conjunto. O grande segredo, estejamos em Portugal, em Macau, ou em qualquer outra parte do mundo, é o de sermos fantásticos quando nos unimos.

CLE como contrariar, no caso dos vinhos portugueses, o poderio de marcas francesas, italianas, americanas e chilenas, entre outras?

J.A. – Passa tudo pela união dos portugueses. Ou seja, desde o proprietário do restaurante, em ter orgulho de apresentar vinhos e carnes portuguesas; desde a Imprensa portuguesa, em ter orgulho em divulgar os produtos portugueses; até termos orgulho em trazer chefes de cozinha portuguesa à diáspora e vermos que o nosso elo de ligação passa cada vez mais pela relação entre a cozinha e os vinhos portugueses. Há que mostrar o que temos. E o que temos são bons vinhos, boa culinária, quintas fantásticas e sítios lindos para visitar.

CLE o Governo português?

J.A. – Já nos ajuda imenso através do QREN [Quadro de Referência de Estratégia Nacional] com incentivos às empresas. Agora o trabalho tem que ser todo nosso, seja no orgulho em sermos portugueses e termos honra em consumirmos os nossos produtos, seja nas paisagens que temos em Portugal. Tudo isto merece ampla divulgação.

CLQue forma encontra para convencer quem não é português a consumir os nosso produtos?

J.A. – Através da gastronomia e dos vinhos portugueses. Também é preciso agitar as coisas em Portugal.

CLPertence a uma família com grandes tradições…

J.A. – O ramo da minha família vem de Guilherme Arnao, descendente dos condes de Arundel, que foi para Portugal com D. Filipa de Lencastre que casou com o rei D. João I. Estamos estabelecidos em Pavia [concelho de Mora] desde 1640 e o nome Joaquim Arnaud tem passado de geração em geração desde 1883.

 

Pólo de atracção (CAIXA)

O empresário Pedro Lobo salientou a’O CLARIM que a MIF já é considerada um «pólo de atracção» para as empresas portuguesas que pretendem expandir a sua actividade para o Sudeste Asiático e estreitar parcerias com empresários da China Continental. No seu caso, dos oito expositores que tem no Pavilhão Europeu, dois são da TechEd, da qual é director-geral, em parceria com o “European Trade Centre”, sedeado em Tianjin. Nos restantes seis, a Palatium Fine Wines, que também dirige, promove vinhos e produtos agro-alimentares de vários produtores portugueses, entre os quais Joaquim Arnaud.

PEDRO DANIEL OLIVEIRA

pedrodanielhk@hotmail.com

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